Por Igor Gielow
O cenário vem sendo discutido desde anteontem, segundo a Folha apurou, após o Brasil ter usado termos duros para exigir uma resposta à revelação de que a NSA (Agência de Segurança Nacional) americana tinha acesso ao conteúdo de conversas no alto escalão brasileiro.
O principal defensor da medida é o vice-presidente Joe Biden, que já vinha atuando junto ao Palácio do Planalto, tendo telefonado para Dilma logo após a eclosão do escândalo de espionagem em julho –antes, porém, da revelação de que o caso atingia a própria presidente.
A vontade americana mais urgente é salvar politicamente a visita de Estado de Dilma a Washington, em outubro, que ela pode cancelar. E, se possível, recolocar nos trilhos o principal negócio que poderia avançar nela –a venda de caças Boeing F/A-18 Super Hornet ao Brasil.
Há consenso nos meios diplomáticos de que desculpas não resolverão o problema, e de que Biden queimou-se como interlocutor por não ter jogado abertamente no telefonema de julho.
Como já ficou claro à delegação brasileira que foi discutir o monitoramento nos EUA, tampouco há disposição de Washington para mudar protocolos ou compartilhar mais dados.
Assim, restaria o gesto político. Isso ocorreu em 2010, quando Obama fez uma delicada visita à Índia. Naquele momento, o país asiático questionava os elos entre EUA e Paquistão, seu rival histórico, e uma série de questões comerciais.
Obama então fez o anúncio de apoio à pretensão indiana de ter uma vaga no Conselho de Segurança.
Desde então, os laços entre os países se aprofundaram, ainda que a cadeira na ONU permaneça no campo das ideias.
Diplomatas esperavam que o presidente pudesse falar com Dilma amanhã, na reunião do G20 em São Petersburgo, mas até ontem não havia essa sinalização.
A titularidade no conselho, hoje privilégio dos principais vencedores da Segunda Guerra Mundial (EUA, Rússia, Reino Unido e França) mais a China, dá poder de veto em questões como autorização para atacar outros países.
É objeto de desejo da diplomacia brasileira desde o governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).
Há fortes restrições, contudo, à ideia dentro do Departamento de Estado –que era contrário ao endosso a Nova Déli. Setores creem que, além de ser uma promessa de difícil implementação, o apoio causaria desequilíbrio regional em favor do Brasil.
Em relação aos caças, a Folha apurou que o escândalo caiu como uma bomba entre os negociadores da Boeing e do governo americano.
Os norte-americanos haviam tomado a dianteira no negócio, que pode chegar a mais de R$ 15 bilhões, e agora enfrentam um significativo empecilho político na disputa com França (Rafale) e Suécia (Gripen).
FONTE: Folha de São Paulo