A Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) informou nesta segunda-feira (24/01) que está reforçando militarmente o flanco oriental da Europa com navios e aviões, em uma tentativa de demonstrar que está pronta para responder à Rússia em caso de invasão à Ucrânia. O país do Leste Europeu faz fronteiras com quatro membros da Otan: Polônia, Eslováquia, Hungria e Romênia.
Segundo a Otan, suas tropas estão “em alerta” devido à concentração de soldados russos na região, o que tem caracterizado um iminente conflito a partir da Rússia. Países como Dinamarca, Espanha e Holanda já mobilizaram forças. “A Otan continuará a tomar todas as medidas necessárias para proteger e defender seus aliados”, disse o chefe da organização, Jens Stoltenberg.
Por outro lado, o governo russo, liderado por Vladimir Putin, acusa o Ocidente e mais especificamente a Otan de aumentar a tensão na região por meio de “informações histéricas” e “ações concretas”, alegando que o risco de uma ofensiva de tropas ucranianas contra rebeldes separatistas apoiados pela Rússia, no leste do país, seria “muito alto”.
As tensões aumentaram desde que o Ocidente passou a acusar a Rússia de manter em torno de 100 mil soldados e vasto arsenal militar na fronteira com a Ucrânia. Os russos dizem que não planejam uma nova incursão oito anos depois de terem invadido e ocupado a Crimeia – região que é disputada entre os dois países até hoje.
Fundada em 1949 em Bruxelas, na Bélgica, a Otan é uma aliança intergovernamental comandada pelos Estados Unidos e composta por 30 países, a maioria europeus. A principal prerrogativa do grupo é defender os territórios parceiros em caso de agressões militares causadas por terceiros, como é o caso da Rússia em relação à Ucrânia.
A Rússia, em contrapartida, atua no campo político – ao menos até o momento – para impedir o ingresso da Ucrânia na Otan e, assim, busca afastar de seu território as forças militares do Ocidente, presentes em países que antigamente faziam parte da União Soviética, dissolvida em 1991.
Retirada de diplomatas e familiares do país
Neste domingo (23/01), o Departamento de Estado americano ordenou a saída de seus diplomatas do território ucraniano e autorizou a partida voluntária de funcionários não essenciais no país devido à ameaça de invasão russa.
Reino Unido e Austrália tomaram o mesmo caminho nesta segunda e também reivindicaram que as famílias de diplomatas deixassem a capital Kiev. A França pediu aos cidadãos que evitem viagens não essenciais à Ucrânia.
O governo de Kiev declarou que a retirada de funcionários que atuam na área diplomática pode ser prematura neste momento, uma vez que há dúvidas em relação a um possível ataque russo na região.
O diretor de política externa da União Europeia, Josep Borrell, compartilha da mesma opinião. Ele disse que o bloco ainda não tem planos de retirar diplomatas e funcionários de embaixadas de Kiev, e acrescentou que não há necessidade de “dramatizar” a situação enquanto as conversas com a Rússia prosseguirem.
O diplomata americano Antony Blinken deve se reunir com parceiros da União Europeia em uma teleconferência online, com o propósito de informá-los sobre a reunião que teve com o ministro de Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, na sexta-feira (21/01). Ambos concordaram em seguir com os diálogos, embora não tenham chegado a nenhum avanço concreto sobre a Ucrânia.
Ocidente ameaça a Rússia com sanções
Em meio à ameaça de invasão russa e de uma consequente resposta da Otan, os mercados globais despencaram nesta segunda-feira. As ações russas foram algumas das mais atingidas também porque o banco central do país suspendeu a compra de moeda estrangeira após a queda do rublo.
Estados Unidos e Europa preparam uma série de medidas que ameaçam a economia e os mercados da Rússia. O pacote de sanções é descrito por funcionários da União Europeia como de “consequências maciças”. Ao mesmo tempo, a Europa se vê ameaçada pelo fornecimento de petróleo e gás a partir da Rússia. “Não há dúvidas de que estamos prontos para reagir de forma enérgica, com sanções abrangentes nunca antes vistas”, declarou o ministro das Relações Exteriores da Dinamarca, Jeppe Kofod.
A ministra alemã das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, tem reforçado que qualquer agressão de Moscou terá uma “resposta clara” da Europa e ressaltou o apoio econômico que Berlim dá a Kiev. O novo governo alemão, no entanto, tem enfrentado críticas de Kiev pela recusa em enviar armas à Ucrânia e também pela hesitação em cortar Moscou do sistema global de pagamento SWIFT – que atua na troca de informações bancárias e transferências de instituições financeiras.
Chefe da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen disse que o bloco prepara um pacote emergencial de ajuda financeira à Ucrânia de 1,2 bilhão de euros.
O Reino Unido, que deixou a União Europeia em 2020, alegou que Moscou estaria à procura de um líder “pró-Rússia” para assumir o poder em Kiev. O primeiro-ministro Boris Johnson advertiu a Rússia de que uma invasão pode resultar em “uma nova Chechênia”, referindo-se ao sangrento conflito de independência do território, entre 1994 e 1996.
A Irlanda, que não integra a Otan, advertiu sobre possíveis exercícios militares russos no sudoeste de sua costa, nas águas internacionais do Oceano Atlântico.
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, pediu mais uma vez aos parceiros ocidentais para “preservar a unidade de todos os Estados-membros da União Europeia na proteção da soberania e integridade territorial de nosso Estado”.