O retorno do Brasil e da Argentina à UNASUL e as perspectivas para Antártica

Por Gabriela Paulucci da Hora Viana

Objetivos conjuntos palpáveis na área de Defesa são capazes de incentivar a busca por uma política polar convergente. No dia 06 de abril de 2023, a Argentina anunciou seu regresso à União das Nações Sul-Americanas (UNASUL). No dia seguinte, o Brasil tomou as providências jurídicas para o regresso do país ao Tratado Constitutivo da União de Nações Sul-Americanas.

Sob este contexto, por meio do Conselho de Defesa Sul-Americano (CSD) e do último Acordo de Cooperação Antártica entre Brasil e Argentina, o retorno destes dois atores ao grupo reforça uma importante aproximação a nível polar, projetada como um canal para a construção de uma identidade conjunta de Defesa.

Navio Polar Almirante Irizar da Argentina

Criada em 2008, a UNASUL foi inicialmente constituída por doze nações sul-americanas e projetava dinamizar e fortalecer suas relações comerciais, culturais, políticas e sociais. Porém, a busca por uma comunidade de segurança regional na América do Sul foi um dos principais motivos para a criação do CSD do grupo e, referente aos temas polares, a Antártica foi colocada como um elemento do Plano de Ação do Conselho para o ano de 2012. Nesse sentido, sob escopo do CSD, foram criados projetos, estratégias e políticas de cooperação dos países sul-americanos no sexto continente.

Este movimento de aproximação soma-se ao Acordo de Cooperação Antártica entre Brasil e Argentina, firmado em janeiro de 2023 (Boletim 176), no qual ambos oficializaram a parceria estratégica polar, ampliando, dinamizando e fortificando suas áreas de atuação no continente. A UNASUL torna-se, portanto, mais um canal para a recolocação brasileiro-argentina no Sistema Internacional. Mais do que isto, constrói uma ponte para novas fronteiras logísticas, tecnológicas e geográficas, especialmente na Antártica, continente consagrado à paz e à ciência pelo Tratado Antártico (1959).

O recomeço da União das Nações Sul-Americanas serve como um farol para a busca de uma agenda polar sul-americana convergente. Sobretudo, faz-se relevante visualizar o processo da aproximação de Brasil e Argentina na área polar como um mecanismo estimulador e incentivador para os próximos passos de ação em conjunto dos países da América do Sul. É primordial que, neste momento de revitalização, os interesses dos países sul-americanos sejam formulados e articulados em convergência, em prol de propagar novas abordagens de projeção de poder, especialmente sob o âmbito do Conselho de Defesa Sul-Americano, articulando suas infraestruturas, promovendo novas políticas estratégicas e projetos de cooperação na Antártica.

FONTE: Boletim GeoCorrente

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