Por Paul Craig Roberts, ex-Secretário-Assistente do Tesouro dos EUA na administração Reagan
“Quando li que o relatório sobre a derrubada do avião da Malaysian sobre a Ucrânia estava nas mãos dos holandeses, soube que não haveria investigação e nenhuma atenção aos fatos. E não houve.
Não tenciono escrever acerca do relatório, porque a propaganda de Washington já conseguiu, pelo menos no mundo ocidental, atingir seu objetivo de lançar a culpa sobre a Rússia. Contudo, a deturpação do relatório holandês pela mídia ocidental, tais como a NPR, é tão ultrajante que faz com que este comentário seja acerca da mídia e não do relatório.
Exemplo: ouvi o correspondente da NPR em Moscou, Corey Flintoff, dizer que o míssil a ter atingido o avião foi disparado por separatistas ucranianos aos quais falta a habilidade técnica para operar o sistema. Portanto, o míssil tinha de ter sido disparado por um russo.
Não há nada no relatório holandês, seja o que for, que leve a essa conclusão. Flintoff ou é incompetente ou mentiroso ou está exprimindo a sua visão e não a conclusão do relatório.
A única conclusão a que o relatório chega é a que já sabíamos: se um míssil Buk deitou abaixo o avião, era um míssil de fabricação russa. O relatório holandês não diz quem o disparou.
Na verdade, o relatório não culpa a Rússia, mas coloca a culpa na Ucrânia por não fechar o espaço aéreo sobre a área em guerra. Advogados declararam em resposta ao relatório que famílias dos mortos e a própria Malaysian Airline provavelmente abrirão processos legais contra a Ucrânia por negligência.
Naturalmente, não houve nada disso na reportagem de Flintoff.
Como escrevi no momento da destruição do avião, a mídia ocidental já tinha pronta a estória “os-russos-fizeram-isso” no momento em que se relatava o derrube. Essa estória era muito útil para Washington endurecer seus estados vassalos europeus nas sanções contra a Rússia, caso houvesse alguma discordância. O que Washington nunca explicou e os meios de comunicação do ocidente nunca perguntaram é: Que motivos tinham os separatistas e a Rússia para derrubar um avião da Malaysian?
Nenhum em absoluto. O governo russo nunca permitiria tal coisa. Putin teria imediatamente enforcado aquele responsável.
A estória de Washington não faz qualquer sentido. Só um idiota poderia acreditar nela.
Que motivo tinha Washington? Muitos. A demonização da Rússia tornava impossível para governos europeus resistirem ou abandonarem as sanções econômicas que Washington utiliza para romper relacionamentos econômicos e políticos entre a Europa e a Rússia.
O fabricante russo do míssil Buk demonstrou que, se um Buk foi utilizado, era de uma versão mais velha, que existe só entre militares ucranianos. Desde há alguns anos, os militares russos foram equipados com uma versão substitutiva que tem uma assinatura diferente no seu impacto destrutivo. O dano ao avião da Malaysian é inconsistente com a força destrutiva do míssil Buk em serviço na Rússia. Os relatórios foram dados aos holandeses, mas não foi feito qualquer esforço para replicar e verificar a validade dos testes conduzidos pelo fabricante do míssil. Na verdade, o relatório holandês nem mesmo considera se o avião foi derrubado por caças a jato ucranianos. O relatório é tão inútil quanto o da Comissão do 11/Set.
Não espere qualquer reconhecimento disso pela mídia ocidental, uma coleção de pessoas que mentem para viver.
A razão porque o Ocidente não tem futuro é que o Ocidente já não tem mídia, só propagandistas para agendas governamentais e corporativas e apologistas dos seus crimes. Todos os dias, os comprados-e-pagos-pelos-meios de comunicação sustentam a ‘Matrix’ que torna os povos ocidentais politicamente impotentes.
A mídia ocidental não tem independência. Um editor de um grande jornal alemão escreveu um livro, um best-seller publicado na Alemanha, no qual declara que não só ele próprio serviu à CIA como um transmissor confiável das mentiras de Washington como também todo jornalista importante na Europa também o faz.
Obviamente, o seu livro não foi traduzido e publicado na América.
A NPR, como todos os meios de comunicação do ocidente, perdeu sua integridade. A NPR afirma ser apoiada pelos leitores. De fato, é apoiada por corporações. Preste atenção aos anúncios: “A NPR é apoiada pela corporação ‘chez’ para vender-lhe este ou aquele produto ou serviço”.
O regime George W. Bush destruiu a NPR ao nomear duas ideólogas republicanas para superintender a função pública da NPR. As duas republicanas tiveram êxito em assegurar a estabilidade de emprego, não a integridade de reportagem, nem a motivação dos jornalistas da NPR.
Como alguém que trabalhou com o presidente Reagan para acabar a Guerra Fria e a ameaça nuclear associada, estou consternado por verificar que os ocidentais da mídia fracassaram totalmente ao ressuscitar a perspectiva do Armagedão nuclear.”
FONTE: escrito por Paul Craig Roberts e publicado no site “Patria Latina” (http://www.patrialatina.com.br/editoria … &cod=15925).
O autor, Paul Craig Roberts (nascido em 3/4/1939), é economista norte-americano, colunista do Creators Syndicate. Serviu como Secretário-Assistente do Tesouro na administração Reagan e foi destacado como um co-fundador da Reaganomics. Ex-editor e colunista do Wall Street Journal, Business Week e Scripps Howard News Service. Testemunhou perante comissões do Congresso em 30 ocasiões em questões de política econômica.
Durante o século XXI, Roberts tem frequentemente publicado em Counterpunch e Information Clearing House, escrevendo extensamente sobre os efeitos das administrações Bush (e mais tarde Obama) relacionadas com a guerra contra o terror, que ele diz ter destruído a proteção das liberdades civis dos americanos da Constituição dos EUA, tais como habeas corpus e o devido processo legal. Tem tomado posições diferentes de ex-aliados republicanos, opondo-se à guerra contra as drogas e a guerra contra o terror, e criticando as políticas e ações de Israel contra os palestinos.
Roberts é graduado do Instituto de Tecnologia da Geórgia e obteve Ph.D. da Universidade de Virginia, com pós-graduação na Universidade da Califórnia, Berkeley e na Faculdade de Merton, Oxford University.