Por Roberto Caiafa
Os próximos passos para a implantação total do Programa Estratégico do Exército ASTROS 2020 (PEE ASTROS2020), de acordo com o general-de brigada R/1 José Júlio Dias Barreto, gerente do programa, estão muito bem planejados.
Infodefensa foi até o Escritório de Projetos do Exército (EPEx), em Brasília (DF), para conhecer detalhes do Míssil Tático de Cruzeiro (MTC-300) em fase final de desenvolvimento, e outras
capacidades entregues pelo PEE Astros 2020.
Infodefensa: O Forte Santa Bárbara é o “coração” do PEE Astros 2020. Quais mudanças estão sendo efetuadas na infraestrutura daquela grande unidade?
Gen. Barreto: Primeiramente, vamos completar o recebimento das viaturas restantes. Com a transferência do 16º Grupo de Artilharia de Campanha Auto Propulsado (16º GAC AP), de São
Leopoldo (RS) para o Forte Santa Bárbara, onde vai ser transformado em 16º Grupo de Mísseis e Foguetes (16º GMF), essa unidade será responsável pela operação dos veículos novos da versão MK.VI.
A frota de viaturas modernizadas da versão MK.IIIM ficará sob a responsabilidade do 6º GMF. As obras do novo aquartelamento e seus pavilhões, garagens e oficinas estão em um ritmo avançado, as instalações deverão receber um núcleo de militares ainda em 2018. As duas unidades de mísseis e foguetes contarão, quando completas, com um Comando e Estado-Maior, uma Bateria de Comando e três Baterias de Mísseis e Foguetes. Isso deverá representar cerca de 90 viaturas ASTROS em carga no Forte Santa Bárbara. Outra ação importante, pelo seu significado estratégico, é a transferência do Comando de Artilharia do Exército (Cmdo Art Ex) de Porto Alegre (RS) para o Forte de Santa Bárbara. Criado em 2014 para ser o responsável pelo sistema de mísseis e foguetes do Exército, esse comando, em tempo de guerra, compõe o Comando de Artilharia da Força Terrestre Componente no nível Corpo de Exército, agregando diversos vetores de apoio de fogo e busca de alvos. Até 2020 está prevista a sua transferência definitiva para Formosa, e as obras das suas instalações estão em curso.
Infodefensa: Como será feita a formação e treinamento do pessoal designado para os dois grupos de mísseis e foguetes?
Gen. Barreto: Consolidamos a criação da Divisão de Simulação com a implantação do chamado SISASTROS, um simulador do sistema de lançadores de mísseis e foguetes que reúne vários tipos de simuladores e/ou softwares para treinamento baseado em computador (CBT). Esse é um desenvolvimento da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM-RS) em parceria com o Exército.
Quando for entregue em 2019 à Avibras, responsável pela fabricação do conjunto físico de simuladores, o SIS-ASTROS será instalado no Centro de Instrução de Artilharia de Mísseis e Foguetes (CI Art Msl Fgt), cujas edificações foram inauguradas em janeiro último.
Infodefensa: O Forte Santa Bárbara prevê também uma bateria de busca de alvos. Recente Seminário promovido pelo EPEx e CI Art Msl Fgt abordou justamente essa questão. Como está o andamento dessa parte primordial do PEE ASTROS2020?
Gen. Barreto: A criação da Bateria de Busca de Alvos e aquisição de um Sistema de Aeronave Remotamente Pilotada (SARP) para o apoio ao Sistema ASTROS, cujos requisitos de operacionalidade e categoria devem estar concluídos ainda em 2018, terá o processo de concorrência para aquisição aberto em 2019. O tema “Busca de Alvos”, é assunto essencial para o desenvolvimento do Programa ASTROS 2020, uma vez que possibilitará o aumento do poder de combate das unidades do Forte Santa Bárbara e consequentemente a ampliação da dissuasão extrarregional da Força Terrestre. Os estudos até o momento indicam que um SARP CAT3 Tático II (250 km de alcance, 24 horas de endurance e 18.000 pés de altitude) seria o mais indicado para a Bateria de Busca de Alvos. Tudo que envolva o SARP, como o hangar para sua guarda, logística de manutenção, pacote de sensores, portabilidade, está sendo avaliado.
Infodefensa: Os dois sistemas de armas que fazem a diferença para o ASTROS2020 são o foguete guiado de 40 km de alcance SS-40 G (FG40), e o Míssil Tático de Cruzeiro MTC-300, da Avibras Aeroespacial. Como está o desenvolvimento desses sistemas e suas respectivas campanhas de testes?
Gen. Barreto: O foguete guiado está nos estágios finais dos testes de homologação. Realizamos campanhas de tiro indireto onde a salva foi disparada com um desvio de 35º com relação a posição conhecida do alvo, e o sistema fez todas as correções necessárias em voo e cumpriu a missão mantendo uma baixa dispersão de impactos com grande precisão e eficácia/letalidade (redução de 75% da área de dispersão atual). O Foguete SS-40 G possui uma cabeça múltipla (MW – Multiple Warhead), com 20 sub-munições de 70 mm de efeito anticarro e antipessoal, semelhante ao Foguete SS-40 convencional. O alcance máximo de emprego é da ordem de 33 km (ao nível do mar). Em altitudes de 1.000 metros, o alcance máximo aproxima-se de 40 km.
Quanto ao MTC-300, sua campanha de certificação encontra-se em avançado estágio de finalização. O próximo passo será a colocação de encomendas para a produção de arsenal e inserção da capacidade estratégica de bater alvos em profundidade para o Exército Brasileiro com as primeiras entregas. O MTC voa em cruzeiro por trajetórias predefinidas por pontos de controle (waypoints). As trajetórias poderão ser de direções variáveis, retilíneas ou curvilíneas, em função de obstáculos como artilharia antiaérea ou obstáculos do terreno, ou da situação tática imposta ao voo de cruzeiro.
O MTC navega impulsionado por uma turbina, movida a querosene de aviação. A precisão, medida em erro circular provável, é menor ou igual a 30 metros. O míssil possui cabeça de guerra (WH – Warhead) unitária e também múltipla (MW – Multiple Warhead). Cada veículo lançador ASTROS2020 pode portar e disparar dois mísseis MTC-300. Importante observar que o míssil adquirido pelo Exército possui alcance muito maior que os 300 km previstos pelo Regime de Controle de Tecnologia de Mísseis (Missile Technology Control Regime – MTCR), pois essa restrição se aplica a exportações do sistema. Os mísseis brasileiros, exclusivos, terão quantos quilômetros de alcance julgarmos necessários para realizar a defesa do Brasil.
Sendo uma arma de defesa de longo alcance e com alto índice de precisão, o MTC-300 poderá ser usado em missões de destruição de grandes infraestruturas, a exemplo de usinas hidrelétricas e refinarias de petróleo. O EB encomendou inicialmente 100 unidades do míssil, a serem entregues entre 2020 e 2023. Tudo isso consta na PORTARIA Nº 431-EME, de 10 de outubro de 2017, que aprova a Diretriz de Implantação do Programa Estratégico do Exército ASTROS 2020, e a previsão de sua conclusão é para o inicio da próxima década (2023), se os recursos programados forem devidamente destinados.
FONTE:Infodefensa
Título original: Gral. Dias (Brasil): “O míssil tático de cruzeiro terá mais de 300 km de alcance”