Por Ricardo Craveiro
O carrasco kuwaitiano-britânico Mohammed Emzawi, conhecido como Jihadista John, foi alvo de um míssil disparado por um drone, às 23h51 de quinta-feira (19h51 em Brasília), a uma quadra do quartel-general do Estado Islâmico (EI), na cidade síria de Raqqa. Jihadi John ganhou notoriedade internacional ao aparecer em vídeos divulgados pela facção nos quais decapitava prisioneiros e reféns. “Estamos razoavelmente certos de que matamos o objetivo (…) Jihadista John”, declarou o coronel Steven Warren, em entrevista coletiva transmitida pela internet no Pentágono.
O primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, afirmou “não ter certeza do sucesso do ataque”, mas reconheceu que “a morte desse assassino bárbaro seria um golpe no coração do EI” e considerou a execução “um ato de autodefesa”. “A coisa certa foi feita.”
As autoridades britâncias reforçaram a segurança, com receio de atentados. Poucas horas depois, Paris foi sacudida pelo terror (leia nas páginas 14, 15 e 16). Em visita à Tunísia, o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, fez um discurso triunfante. “Os terroristas associados ao Daesh (acrônimo em árabe do EI) devem saber disso: seus dias estão contados e serão vencidos”, afirmou. O Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH), com sede no Reino Unido, informou que quatro pessoas morreram num bombardeio em Raqqa e anunciou que o corpo de um “jihadista britânico” estaria no hospital da cidade. “Os resultas da operação realizada durante a madrugada estão sendo avaliados e informações adicionais serão dadas quando apropriado”, afirmou um comunicado do Pentágono.
Alívio
“Senti alívio ao saber que ele nunca mais aparecerá em um desses vídeos horríveis”, declarou à televisão ITV Bethany Haines, filha de David Haines, funcionário humanitário britânico capturado pelo EI no início de 2013 e decapitado em 13 de setembro de 2014 pelo Jihadista John. “Embora tenha desejado muito a sua morte, também queria respostas para as perguntas de por que ele fez isso, por que meu pai, e o que ganhou com isso”, lamentou. Segundo a rede de TV CNN e o jornal The Washington Post, citando dirigentes americanos, o objetivo foi identificado vários dias antes pelos serviços de inteligência dos EUA.
“Eu queria que o mascarado covarde sofresse da mesma forma que Alan e seus amigos, mas estou feliz que tenha sido destruído”, tuitou Stuart Henning, sobrinho de Alan Henning, um taxista britânico de 47 anos que foi sequestrado na Síria e executado por Emzawi em 3 de outubro do ano passado.
Por sua vez, Diane Foley, a mãe do jornalista americano James Foley, criticou o fato de haver mais esforços para acabar com Emwazi “do que para resgatar esses jovens americanos quando estavam vivos”. “É um fraco consolo saber que o ‘Jihadista John’ teria sido morto pelo governo americano”, afirmaram os pais do jornalista, lembrando que “a morte não trará Jim de volta”.
Em entrevista ao Correio, Matthew Levitt, diretor do Programa Stein sobre Contraterrorismo e Inteligência do TheWashington Institute for Near East Policy, declarou que considera a morte do Jihadista John como um fato simbolicamente importante,não mais do que isso. “A celebridade de Emzawi como garoto-propaganda do EI o transformou numa eficiente ferramenta de recrutamento para o grupo”, admitiu. Para Joas Wagemakers, professor de estudos islâmicos da Universidade Radboud (em Nijmegen, na Holanda).
Triunfo dos curdos
“Sinjar está liberada pelos peshmerga (forças curdas). Eu parabenizo o povo do Curdistão, especialmente os yazidis. Cumprimos a promessa de liberar Sinjar. Agradeço de coração aos Estados Unidos e a outros países da coalizão por seus ataques aéreos.” Por meio do Twitter, Masoud Barzani, presidente do Curdistão iraquiano, anunciou a retomada da cidade de 450 mil habitantes, no extremo norte do Iraque, a poucos quilômetros da fronteira com a Síria.
Horas depois, em entrevista no alto do Monte Sinjar, avisou que nenhuma outra bandeira, a não ser a do Curdistão, vai tremular na cidade.
A Operação Libertem Sinjar durou 1.500 horas, interrompeu o fluxo de suprimentos do Estado Islâmico (EI) pela estrada que liga Raqqa (Síria) a Mossul (Iraque) e expulsou jihadistas de mais de 20 vilarejos. Por telefone, de Erbil, Falah Mustafa Bakir, chanceler do Curdistão iraquiano, disse ao Correio que as forças peshmerga estão confiantes de manter o controle sobre a região. “Como em todas as grandes batalhas, tivemos de fazer sacrifícios. Também sofremos perdas de combatentes, mas a operação foi feita com muito cuidado.”
FONTE: Correio Braziliense