Desocupar edifícios no leste da Ucrânia é parte de acordo fechado anteontem Decisão mais uma vez eleva tensão na região; russos dizem que não vão forçar os grupos a cumprirem o acordo Leandro Colon de Londres O acordo para a paz no leste da Ucrânia negociado por lideranças internacionais em Genebra (Suíça) já deu sinais de fragilidade um dia depois de seu anúncio.
Ativistas pró-Rússia na região informaram ontem que não o reconhecem e, por isso, vão continuar nos prédios públicos ocupados desde a semana passada.
A desocupação foi uma das condições do acerto selado anteontem por Estados Unidos, União Europeia, Rússia e Ucrânia após sete horas de reunião na Suíça.
As lideranças disseram que era medida consensual entre todas as partes envolvidas desarmar esses grupos e tirá-los dos espaços invadidos.
A interferência da Rússia para convencer esses militantes a recuar seria fundamental para o sucesso do acordo de Genebra, mas o presidente da Rússia, Vladimir Putin, tem dito que não tem relação com esses grupos e que cabe somente à Ucrânia solucionar o impasse interno até porque intermediar, para Moscou, seria admitir elo com o movimento.
Como os separatistas, que não se identificam, resistem a negociar, as promessas feitas na Suíça se enfraquecem.
A situação mais crítica continua sendo em Donetsk, onde um grupo declarou uma “república independente”.
Um porta-voz dos separatistas disse que não só eles, mas a cúpula do governo da Ucrânia também deve deixar os prédios públicos, inclusive o presidente interino, Oleksander Turchinov, e o premiê, Arseni Yatseniuk.
Eles assumiram o país após a queda do presidente ucraniano Viktor Yanukovich, pró-Rússia, em fevereiro.
“Entendemos que todos devem desocupar os prédios e Yatseniuk e o presidente Turchinov deveriam fazê-lo primeiro”, disse o porta-voz.
O grupo avisou que ninguém negociou em seu nome em Genebra, incluindo a própria Rússia. “Lavrov [ministro russo de Relações Exteriores, Serguei Lavrov] não assinou nada por nós, mas em nome da Federação Russa”, disse o porta-voz.
Ontem, o governo ucraniano, por meio do seu primeiro-ministro, apelou a uma “unidade nacional”, prometendo atender a reivindicações dos moradores do leste do país, como a descentralização de poder e o respeito à língua russa, forte na região.
A crise com a Rússia aumentou depois da informação de que o serviço de imigração ucraniano estaria barrando a entrada de homens russos de 16 a 60 anos.
O acordo de Genebra inclui a promessa de uma reforma constitucional no país, que seria, na prática, uma proposta de federalizá-lo, algo que o governo da Rússia vem pedindo para diminuir a crise militar entre os dois países.
Entretanto, até agora, a Ucrânia, apesar do discurso, não deu detalhes de como faria essa reforma.
FONTE: Folha de São Paulo