Marinha russa precisa de um porta-aviões?

Marinha

O papel da Marinha nos conflitos modernos não é menos importante do que o da aviação. Nesse sentido, a resposta para a pergunta sobre quais tipos de navios de guerra devem estar a serviço da Marinha russa tem importância fundamental.

Será que ela precisa mesmo de porta-aviões?

Hoje, o tipo mais comum de confronto armado é o conflito assimétrico entre um exército regular e unidades paramilitares, como guerrilhas ou milícias, que não obedecem às regras “clássicas” da guerra.

Nessas circunstâncias, o uso de porta-aviões assume importância especial. Ao contrário dos submarinos, um porta-aviões pode prestar apoio necessário ao grupo de vistoria e à inspeção de navios, libertação de reféns ou ao desembarque de tropas na costa, além de controlar as rotas de transporte marítimo e proteger embarcações mercantes de ataques de piratas ou aéreos.

No entanto, o programa de armamentos da Rússia para o período de 2011 a 2020 não tem dispositivos relativos à construção de um porta-aviões nacional, apresentando como principal força de ataque os submarinos nucleares armados com mísseis de cruzeiro.

O programa de porta-aviões teve altos e baixos na era soviética e pós-soviética. Como os líderes soviéticos encaravam porta-aviões como arma de agressão capitalista estranha à doutrina naval soviética, eles mandaram construir cruzadores porta-aviões e equipá-los com aviões V/STOL, que, em inglês, significa “decolagem e pouso vertical ou em curta distância”. No entanto, em 1991, o programa soviético de V/STOL foi encerrado após a queda de um V/STOL (Iak- 41M) no convés do cruzador porta-aviões Almirante Gorchkov durante testes. O mais famoso V/STOL é o Harrier, fabricado na Inglaterra pela British Aerospace, a única empresa do mundo a conseguir levar à prática esse projeto.

No outro extremo, em 2008, o então comandante-geral da Marinha russa, almirante Vladímir Masorin, sugeriu construir, nos 20 anos subsequentes, seis forças-tarefa de porta-aviões de ataque. Na sua opinião, isso permitiria à Rússia ter a segunda mais poderosa frota de superfície do mundo, após os EUA. Se o país tivesse deixado se envolver nessa competição, seu colapso econômico e militar não teria tardado a acontecer.

Por apreço à justiça, devemos dizer que a Rússia já tem um porta-aviões. Trata-se do navio aeródromo Riga (também conhecido como Leonid Brejnev ou Tbilissi, e, desde o outono de 1990, como Almirante Kuznetsov), que teve seu batimento de quilha em 1982 nos estaleiros de Nikolaev. Todavia, esse navio dificilmente pode ser considerado um porta-aviões moderno.

Em primeiro lugar, ele utiliza uma caldeira e uma turbina a vapor marítima como principal meio de propulsão, o que restringe sua aplicação, contrariamente aos porta-aviões munidos de unidades de propulsão nucleares. Em segundo lugar, em vez de catapultas a vapor usadas para a decolagem de aviões nos porta-aviões americanos, os aviões embarcados russos decolam a partir de uma rampa de proa. A experiência mostra que só a catapulta a vapor garante a decolagem segura de aeronaves em todas as condições.

O principal argumento dos opositores do porta-aviões é a tese de que em si ele não é uma arma e necessita de aviões e navios de apoio. Mas nenhum dos navios modernos, nem mesmo um submarino nuclear porta-mísseis, pode combater sozinho. Focada na frota submarina, a Marinha soviética desenvolvia também a frota de superfície. Como resultado, em 1991, a Marinha russa contava com mais de 100 navios de linha e de escolta, o que era mais do que suficiente para criar 15 grupos-tarefa de porta-aviões.

A aviação embarcada também não exigiria grandes investimentos. Os aviões embarcados russo são, em regra, versões modernizadas de aeronaves em serviço da FAR (Força Aérea Russa). O avião de quinta geração T-50 será produzido em duas versões: a terrestre e a embarcada. Isso significa que é preciso realocar as verbas disponibilizadas à construção de novas aeronaves até 2020: reduzir as compras das versões terrestres do MiG-29, Su -35, T-50 e aumentar as encomendas de suas versões embarcadas.

A realocação das verbas não prejudicará a FAR. Ao contrário dos mísseis de cruzeiro dos submarinos nucleares, um avião embarcado também pode decolar a partir de um aeródromo terrestre.
Sem porta-aviões, a Marinha russa pode enfrentar os piratas somalis, mas não pode defender os turistas russos contra outras Primaveras Árabes.

FONTE: Gazeta Russa – Andrêi Kisliakov

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