A IAF queria inicialmente adquirir 126 aeronaves médias de combate multifunção
Numa repetição da concorrência que aqui no Brasil terminou com a escolha do Gripen, Saab, Lockheed, Boeing, Dassaut e o consórcio Eurofighter competem para conquistar um contrato de fornecimento de aeronaves militares para a Força Aérea da Índia (IAF). A concorrência, aberta em 2011 e vencida pela Dassault e pela Eurofighter, volta a pauta após a francesa Dassault não conseguir cumprir o contrato das aeronaves Rafaele. A IAF queria inicialmente adquirir 126 aeronaves médias de combate multifunção.
A disputa entre as gigantes é acentuada pelas versões melhoradas das aeronaves apresentadas no início da concorrência. A Saab conta agora com o Gripen NG e a Lockheed com o F-16 Block 70. Terceira concorrente, a Boeing oferece o F/A-18E/F SuperHonert. Já a Dassaut quer diminuir o contrato para pelo menos 36 Rafaele através de uma venda governo a governo.
CONTEXTO
Quando o primeiro ministro indiano Narenda Modi terminou os três anos de turbulenta negociação com a Dassault (para fornecimento de 36 Rafaele), em 2015, o ministro da Defesa Manohar Parrikar percebeu que ainda seria necessário a encomenda de um caça leve para substituir os MIGs da IAF, que estão sendo aposentados. “O Rafaele não é um substituto para o MIG-21. O LCA Tejas é um substituto. Ou seja, se vamos construir outro caçana Índia, este poderia ser o substituto”, disse o ministro em uma entrevista na época.
Para a Saab e para a Lockheed, esse foi o sinal de que a disputa ainda não tinha sido concluída. Ambas as empresas já tinham apresentado caças monomotor. Já a ADA (Agência de Desenvolvimento da Aeronáutica) percebeu que precisava entrar na disputa. O esforço conjunto da ADA e da IAF foi para acelerar a introdução do Tejas. Como o Tejas Mark II exigiu uma integração demorada de um novo motor, foi acordado a introdução de um paliativo Tejas Mark IA com algumas melhorias. A IAF se comprometeu em adquirir pelo menos 80 caças deste modelo.
ESTRATÉGIA DA SAAB
Paralelamente, a Saab preparou um plano, não oficialmente divulgado, para aproveitar o projeto do Tejas. Em primeiro lugar, ofereceu para fabricar o Gripen NG na Índia. Outra estratégia foi buscar uma parceria com a ADA para o desenvolvimento do Tejas Mark IA. Além disso, a Saab ajudaria a ADA a desenvolver o seu caça de quinta geração, o Advanced Medium Combat Aircraft. A capacidade da sueca não chegou a ser testada nesta última oferta, já que, na Europa, não há nenhum programa de caça de combate de quinta geração.
“A oferta inclui a criação de uma unidade de produção completa; transferência de tecnologia, criação de ecossistema aeroespacial na Índia; criação de uma base de fornecedores locais de sistemas auxiliares e treinamento de uma força de trabalho indiana. Gostaríamos de formar engenheiros na Suécia como estamos fazendo com os engenheiros brasileiros no programa do Gripen. Nós nos vemos como um catalisador. Vamos fornecer para a Índia com tecnologia de ponta que irá energizar o ecossistema aeroespacial”, disse o chefe da Saab India, Jan Widerström.
As discussões Suécia-Índia estão centradas em um grupo de trabalho, que se reúne anualmente em conformidade com um contrato de cooperação de defesa firmado em 2009. Em julho deste ano, o chefe da IAF, marechal do ar Arup Raha, foi até a Suécia testar o voo do Gripen NG.
ESTRATÉGIA DA LOCKHEED
Como a Saab, a Lockheed negocia mudar sua única linha de produção do F-16 do Texas para a Índia. O modelo, que já teve mais de 4.500 caças produzidos, perdeu o número de pedidos nos últimos anos. “Um pedido do F-16 pela Índia serve claramente para múltiplos interesses americanos. Seria a revitalização da cadeia produtiva, que está prestes a ser desligada”, observou um oficial superior da IAF.
Na última semana, um executivo da Lockheed Randy Howard afirmou que a linha de produção só seria transferida se for fechado o contrato com a IAF. No entanto, a IAF tem certa resistência para a compra do caça. Além disso, as autoridades indianas não acreditam que a empresa americana faria acordo de transferência de tecnologia como a Saab propôs.
ESTRATÉGIA DA BOEING
A Boeing acredita que a sua proposta supera a da Lockheed. “Se a Índia quer um ecossistema aeroespacial indiano, não faz sentido comprar uma linha de produção antiga, com todas as suas ineficiências. A Boeing está oferecendo um caça – F/A-18E/F – que permanecerá em serviço durante décadas, possivelmente até 2050. Ou seja, muito tempo a mais que o F-16”, disse um oficial. Um dos principais argumentos da Boeing é a possibilidade do caça ser operado a partir de porta-aviões.
O Ministério da Defesa da Índia ainda não emitiu nenhum pedido de proposta. O órgão não divulgou nem se vai abrir licitação ou se vai buscar uma negociação governo-governo. “Pode ser que a Índia esteja usando as negociação com a Saab, Lockheed e Boeing como pretexto para as negociações dos Rafale, colocando pressão sobre a Dassault com o leque de opções que a Índia tem. Até que haja clareza só podemos continuar tateando no escuro”, disse um alto executivo de uma das concorrentes.
FONTE: Business-standard via Defesa e Segurança