Por Wilson Aquino
As Forças Armadas do Brasil responderam imediatamente a um dos maiores e mais graves desastres ambientais da história do país, após duas represas pertencentes a uma companhia mineradora desabarem em 5 de novembro, despejando milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério sobre a zona rural da cidade histórica de Mariana, no estado de Minas Gerais.
Dois helicópteros do Exército Brasileiro (EB) decolaram rumo à região da tragédia, para transporte, busca e resgate de vítimas. Na sequência, as Forças Armadas destacaram centenas de soldados para auxiliarem, por terra, na busca de sobreviventes e no atendimento às comunidades afetadas. Enquanto isso, oficiais da Engenharia faziam o reconhecimento das áreas devastadas, identificando eventual necessidade de instalar pontes improvisadas.
Quatro dias após o rompimento das barragens, a Marinha do Brasil já se fazia presente na região da catástrofe, com três embarcações: a fragata Rademaker, o rebocador de alto-mar Tridente e o navio hidroceanográfico Vital de Oliveira. As equipes analisaram as consequências do desastre na fauna, na flora e no estuário do Rio Doce, além dos efeitos socioeconômicos, como o impacto na pesca e no turismo. Passado mais de um mês, a Marinha do Brasil e o Exército Brasileiro continuavam na região, dando apoio às autoridades locais, atendendo a população afetada e pesquisando os danos ambientais.
Militares reagem a pedido de auxílio
“O auxílio das Forças Armadas foi solicitado pelos governadores dos estados e pelo Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres, da Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil do Ministério da Integração Nacional”, informou o Ministério da Defesa a Diálogo . “A Marinha enviou uma fragata, um rebocador, um navio de pesquisa, um helicóptero e duas viaturas. Já o Exército disponibilizou dois helicópteros, 36 viaturas e 375 militares.”
Oito dias após o desastre, o General de Divisão Mário Lúcio Alves de Araújo, Comandante da 4ª Região Militar (4ª RM), com sede em Belo Horizonte, determinou que uma equipe do Comando da Região se deslocasse para a cidade de Governador Valadares, em Minas Gerais, para verificar a falta de água no município. Quarenta atiradores da unidade Tiro de Guerra (TG), sediada em Governador Valadares, colaboraram voluntariamente na distribuição de água para a população.
O 12º Batalhão de Infantaria (Belo Horizonte) também enviou uma Companhia de Fuzileiros para auxiliar a Defesa Civil municipal e estadual a distribuir água aos moradores de Governador Valadares. Os militares prestaram apoio aos órgãos federais, estaduais e municipais na distribuição de cerca de 440.000 litros de água mineral aos civis.
Já em Colatina, no Espírito Santo, 100 militares do Exército ajudaram a distribuir água potável para a população em diversos bairros da cidade. O Comandante Militar do Leste, General Fernando Azevedo e Silva, e o Comandante do 38° Batalhão de Infantaria, Coronel Edson Massayuki Hiroshi, estiveram na cidade para acompanhar de perto os trabalhos. Além da distribuição de água potável engarrafada e da construção de poços artesianos, os militares contribuíram na manutenção da ordem e da normalidade na cidade.
Consequências devastadoras
Os esforços das Forças Armadas ajudaram a mitigar as consequências trágicas do acidente, no qual duas represas pertencentes à Samarco Mining S.A. – controlada pela companhia mineradora brasileira Vale e pela anglo-australiana BHP Billiton – se romperam, lançando 50 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério sobre o meio ambiente. Os rejeitos, compostos por água, areia e restos do minério extraído (óxido de ferro), são o lixo da mineração. O material é denso e pegajoso como lama e tem coloração alaranjada. Não tem valor econômico, mas deve ser armazenado por razões ambientais.
Os rejeitos formaram uma onda de lama tóxica, que foi soterrando tudo o que estava à sua frente, derrubando árvores como se fossem palitos e matando animais terrestres e aquáticos por asfixia. Ainda não se sabe a dimensão da mortandade porque, segundo nota do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), “devido à densidade da lama, os animais mortos não flutuarão”.
A enxurrada de rejeitos atravessou os Estados de Minas Gerais (MG) e Espírito Santo (ES), no sudeste do Brasil, deixando um rastro de destruição. Segundo um relatório preliminar do IBAMA, divulgado em 1º de dezembro, 1.469 hectares de terras, incluindo áreas de preservação permanente, foram arrasados pela lama tóxica. O pequeno distrito de Bento Rodrigues, em Minas Gerais, praticamente sumiu do mapa: 207 das 251 edificações (82%) foram soterradas pela massa de água, areia e restos de minério. Mais de 600 pessoas ficaram desabrigadas. Quinze pessoas morreram e, até a metade de dezembro, quatro continuavam desaparecidas.
Danos ambientais disseminados
Pelos rios, a lama percorreu 663 quilômetros até atingir o Oceano Atlântico 16 dias depois. Por onde passaram, os rejeitos comprometeram a qualidade da água e o abastecimento à população foi suspenso, prejudicando mais de 400.000 pessoas e causando grande convulsão social.
O Rio Doce, o mais importante da região, não apenas fornecia água limpa em abundância, como também era a fonte de onde famílias de pescadores tiravam seu sustento. “O nível de impacto foi tão profundo e perverso que é impossível estimar um prazo de retorno da fauna ao local, visando ao reequilíbrio das espécies na bacia”, relata o laudo técnico do IBAMA.
Das mais de 80 espécies de peixes apontadas como nativas da bacia hidrográfica antes da tragédia, 11 são classificadas como ameaçadas de extinção e 12 são endêmicas do Rio Doce. “A mortalidade instantânea é apenas um dos impactos aos organismos aquáticos”, aponta o Ibama. “Muito mais do que os organismos em si, os processos ecológicos responsáveis por produzir e sustentar a riqueza e a diversidade do Rio Doce foram afetados.”
Pesquisadores militares conduzem estudos
Os danos estão sendo estudados pela Marinha do Brasil. O navio hidroceanográfico Vital de Oliveira deslocado para a região do acidente usa tecnologia de sonares para avaliar o subsolo marinho.
“Levaremos 110 militares da Marinha, com 40 especialistas no assunto, para fazer coleta de água e solo para análise laboratorial e verificar se houve ou não contaminação pelos minérios”, diz o Capitão de Fragata Aluizio Maciel de Oliveira Júnior, comandante do navio Vital de Oliveira, em reportagem postada no site do Ministério da Defesa.
Técnicos do Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira (IEAPM), da Marinha, e da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) integram a expedição. As equipes auxiliarão nos levantamentos e estudos para verificar os impactos oceanográficos na fauna e na flora da foz do rio Doce e em áreas marítimas adjacentes a Linhares (ES), onde a lama alcançou o Oceano Atlântico. Serão realizadas pesquisas científicas de caracterização física, química, biológica, geológica e ambiental de áreas oceânicas.
O titular da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Espírito Santo (SEMA), Rodrigo Júdice, relatou a participação da Marinha na operação em uma entrevista coletiva, em 26 de novembro. “Quando o Estado do Espírito Santo solicitou ajuda ao Ministério da Defesa, foi prontamente atendido. O trabalho da Marinha vai nos ajudar a analisar os danos causados para que exijamos da empresa Samarco o devido ressarcimento”, disse o secretário.
FONTE: Revista Diálogo