O desdobramento do sistema de DAM americano na Romênia é para a Rússia mais importante politicamente do que em sentido militar. O sistema dos EUA conjugará esforços antimísseis de alguns países europeus, inclusive da República Tcheca, Turquia, Holanda e Espanha. Apesar de as possibilidades desse sistema terem sido insuficientes atualmente para ameaçar a Rússia, seu desenvolvimento continua a ser perigoso realmente.
Herança do restart
A “variante romena” e o vetor sul-oriental de desdobramento do sistema de Defesa Antimíssil dos EUA na Europa apareceram em geral após a chegada de Barack Obama ao poder em 2009. O plano de desenvolvimento da terceira região posicional de DAM dos EUA anunciado anteriormente previa a instalação de rampas de lançamento de foguetes de intercessão GBI na Polônia e de um radar na República Tcheca. Tal instalação foi abertamente incômoda para o objetivo anunciado – proteger os aliados europeus dos EUA contra um ataque iraniano hipotético e interceptar foguetes balísticos iranianos lançados na direção dos Estados Unidos. Mas, em certas condições e com o futuro aperfeiçoamento, o sistema poderia ser útil também para a intercessão de foguetes russos. A perspectiva de instalação de GBI na Polônia e de um radar na República Tcheca preocupou seriamente Moscou que, na qualidade de medidas de resposta, estudava a possibilidade de desdobrar sistemas de foguetes Iskander na região de Kaliningrado. Mas estes planos não foram realizados. Contudo, uma bateria de Iskander foi instalada na região de Leningrado e um regimento de mísseis S-400 apareceu em Kaliningrado.
A decisão de Barack Obama de desdobrar um sistema na Romênia (foguetes de intercessão SM 3) e na Turquia (radar de apontamento de alvos) mudou a situação. Os foguetes SM 3 têm menor alcance e piores limites de altitude em comparação com mais pesados e mais caros GBI, enquanto o radar instalado no litoral sul da Turquia é praticamente inútil para a intercessão de foguetes lançados a partir do território da Rússia em direção norte.
Ameaça dissimulada
Embora os planos realizados hoje pelos EUA não representem ameaça direta para as forças de dissuasão nuclear russas, o aperfeiçoamento do sistema de DAM pode criar tal perigo no futuro, sobretudo em combinação com o desenvolvimento dos restantes componentes da máquina militar americana. Trata-se em primeiro lugar de aperfeiçoamento futuro de sistemas de DAM de baseamento marítimo e de meios de ataque não nuclear de alta precisão. Por enquanto, a Marinha dos EUA concentra seus navios portadores de foguetes de intercessão SM 3 no Pacífico contra a Coreia do Norte e, em perspectiva, contra a China. Mas a mobilidade da frota permite instalá-los depressa em qualquer região do oceano mundial. Os próprios navios e sistemas terrestres de DAM não são capazes de ameaçar a Rússia. Contudo, tal ameaça torna-se real com um aperfeiçoamento paralelo do sistema de DAM e do programa Prompt Global Strike (Ataque Global Imediato) que prevê desenvolver meios combativos não tripulados de alta precisão, inclusive hipersônicos, para garantir a possibilidade de atacar quaisquer alvos no território da Terra num período de uma hora. Ao mesmo tempo, o desenvolvimento e desdobramento de tais sistemas não são limitados de maneira alguma.
A conjugação do potencial nuclear dos EUA, de novos armamentos não nucleares estratégicos e do sistema de defesa antimíssil pode, teoricamente, ciar uma situação em que os Estados Unidos possam efetuar o primeiro golpe nuclear desarmador e destruir os restantes foguetes com a ajuda de seus meios de defesa antimíssil.
Tal desenvolvimento dos acontecimentos é inaceitável para a Rússia. A manutenção da paridade estratégica exige que o país desenvolva suas forças armadas, sobretudo de dissuasão nuclear e de defesa aeroespacial.
Contudo, o desdobramento de novos sistemas móveis de misseis tipo Yars (Rubezh, em perspetiva), os esforços de aperfeiçoar o foguete Bulava e seus portadores – submarinos do projeto Borei e crescentes volumes de aquisição de sistemas contemporâneos de DAA e de DAM permitem esperar que a paridade se mantenha. Os sistemas móveis e submarinos protegidos a partir do ar são menos vulneráveis que os foguetes subterrâneos e a imprevisibilidade da posição de lançamento agava o funcionamento do sistema de DAM numa guerra militar hipotética, tornando insensata a aspiração à superioridade militar-técnica.
Fonte: Voz da Rússia