Os Estados Unidos proibiram nesta sexta-feira (21/06) as companhias aéreas comerciais americanas de voar no espaço aéreo do Irã por possíveis riscos decorrentes de tensões políticas e atividades militares. A decisão também foi adotada por outras companhias internacionais.
“Todas as operações de voo sobre as águas de Teerã sobre o Golfo Pérsico e o Golfo de Omã estão proibidas até novo aviso”, anunciou a Administração Federal de Aviação dos Estados Unidos (FAA, na sigla em inglês).
O órgão justificou a proibição por conta das “atividades militares agudas e as crescentes tensões políticas na região, que apresentam risco inadvertido para as operações da aviação civil dos EUA devido a erros de cálculo ou identificação”. Na notificação, a FAA menciona a derrubada de um drone americano pelo Irã.
Outras companhias aéreas internacionais também anunciaram a medida, entre elas a holandesa KLM, a alemã Lufthansa, a britânica British Airways, a australiana Qantas, a Etihad e a Emirates, dos Emirados Árabes, a Singapura Airlines, de Cingapura, e a Malaysia Airlines, da Malásia.
O especialista aeronáutico holandês Joris Melkert disse à emissora de televisão portuguesa NOS que “se outras companhias seguirem as medidas” serão sentidas consequência nas ligações entre a Europa e a Ásia. Segundo ele, será preciso escolher uma “rota diferente que vai tornar o trajeto mais longo”, obrigando as aeronaves a usarem mais combustível.
A Lufthansa disse que vai suprimir os voos com rota sobre o Estreito de Ormuz e Golfo Pérsico, mas que vai manter as ligações com a capital do Irã. A Etihad informou que vai aplicar um “plano de contingência” que prevê evitar o espaço aéreo iraniano no Golfo Pérsico e Ormuz. A Qantas vai definir novas rotas para não sobrevoar a mesma zona, assim como a British Airways.
Abate de drone elevou tensão
O abate do drone americano – uma enorme aeronave não tripulada – sobre o Estreito de Ormuz provocou trocas de acusações entre Washington e Teerã sobre quem teria sido o transgressor. O Irã insiste que o drone violou o espaço aéreo iraniano, enquanto os EUA alegam que estavam sobrevoando águas internacionais.
Nesta sexta-feira, autoridades do Irã exibiram destroços do drone derrubado na véspera. O comandante da Força Aeroespacial dos Guardiões da Revolução, Amir Ali Hayizadeh, explicou que as partes recuperadas do drone estavam flutuando em águas territoriais do Irã. Ele também ressaltou que as forças iranianas advertiram o drone americano, mas que “infelizmente” não houve resposta.
“A última advertência foi emitida pelo Exército do Irã dez minutos antes de o drone ser derrubado”, detalhou Hayizadeh.
Também nesta sexta-feira, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, confirmou que havia ordenado na noite anterior um ataque contra o Irã em represália pela destruição do drone, mas que depois suspendeu a ordem para evitar vítimas.
“Faríamos uma represália ontem à noite (quinta-feira) em três lugares diferentes do Irã. Quando perguntei quantos morreriam, 150 pessoas foi a resposta de um general. Dez minutos antes do ataque eu o cancelei”, escreveu o presidente no Twitter.
O incidente ocorreu num contexto de crescente tensão entre os dois países e depois de, na semana passada, dois petroleiros, um norueguês e um japonês, terem sido alvo de ataques no Estreito de Ormuz, área considerada como vital para o tráfego mundial de petróleo.
Importante rota petroleira
O Estreito de Ormuz, que liga o Golfo ao mar de Omã, situa-se entre o Irã e Omã. É particularmente vulnerável devido à pouca largura, cerca de 50 quilômetros, e à profundidade, que não excede 60 metros. É pontilhado por ilhas desertas ou pouco habitadas, mas de grande importância estratégica: as ilhas iranianas de Ormuz e de Qeshm e Larak, frente à costa iraniana de Bandar Abbas.
É a rota de navegação quase exclusiva que liga os produtores de hidrocarbonetos do Oriente Médio (Arábia Saudita, Kuwait, Catar, Emirados Árabes Unidos, Iraque e Irã) aos mercados da Ásia, Europa e América do Norte.
Em 2018, cerca de 21 milhões de barris de petróleo circulavam diariamente pelo estreito, segundo a Agência de Energia norte-americana (EIA), o que representa cerca de 21% do consumo mundial e um terço do que transita por via marítima no mundo. Um quarto do comércio mundial de gás natural liquefeito passa também por Ormuz.
O Irã, que se considera o guardião do Golfo, critica regularmente a presença de forças estrangeiras na região e ameaçou várias vezes bloquear o Estreito de Ormuz em caso de ação militar dos Estados Unidos na zona.
Uma das maiores perturbações do transporte petrolífero ocorreu em 1984, em pleno conflito Irã-Iraque (1980-1988), durante a designada “guerra dos petroleiros”, quando mais de 500 navios foram destruídos ou danificados.
FONTE: DW