Rússia tirou as conclusões corretas das operações do exército dos EUA nas últimas duas décadas e, recorrendo a métodos pouco caros, conseguiu recuperar suas posições no mar Negro, escrevem os especialistas em assuntos internacionais, Bleda Kurtdarcan e Barin Kayaoglu.
Em seu artigo para a revista The National Interest, os autores apontam que, enquanto as atividades chinesas no mar do Sul da China “dão dores de cabeça para Washington”, a Rússia “desafia a posição da OTAN”, no mar Negro, acima de tudo, em relação ao segundo exército mais numeroso da Aliança, o da Turquia.
“[As atividades da Rússia] implicam o fim da superioridade naval que Ancara tinha estabelecido no mar Negro, no mar Egeu e no Mediterrâneo oriental após a Guerra Fria”, frisam os autores.
Como a Rússia defende suas fronteiras no mar Negro
O ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, anunciou em maio de 2014 um programa de acumulação naval de 2,43 bilhões de dólares, lembram os autores. O plano incluiu a implantação de novos sistemas de defesa antiaérea em terra em 2020, além de submarinos para reforçar a frota do país na região.
O presidente russo Vladimir Putin afirmou, em março de 2015, que Moscou tinha implantado na Crimeia sistemas de mísseis de defesa costeira Bastion. Além disso, de acordo com a mídia russa, na península tinha sido posicionado o S-400, o sistema de defesa antiaérea mais avançado, com fim de aumentar “as capacidades de defesa aérea formidáveis” dos sistemas antiaéreos S-300 e Pantsir S.
“A recuperação dos bunkers da era soviética e a reanimação das estações de radares de alerta precoce, juntamente com a implantação de equipamentos de guerra eletrônica de alta tecnologia, transformaram a Crimeia no epicentro de uma área quase impenetrável”, salientam especialistas.
Os autores citam o chefe do Estado-Maior da Rússia, Valery Gerasimov, que afirmou em setembro de 2016 que o país “tinha recuperado a supremacia no mar Negro, cedida à Turquia no final dos anos 1990”. O general também acrescentou que “a Frota do Mar Negro da Rússia pode — e já provou essa capacidade — destruir a força anfíbia de um inimigo potencial a partir dos portos de embarque”.
A cerca de 1.000 quilômetros ao sul, em frente à costa do porto sírio de Tartus, a cena é praticamente a mesma, continuam Kurtdarcan e Kayaogli. O grupo de batalha liderado pelo porta-aviões Admiral Kuznetsov se posiciona sob a égide de uma impressionante coleção de mísseis de cruzeiro terrestres antinavio de longo alcance Bastion, sistemas de mísseis terra-ar S-300 e S-400 e mísseis de cruzeiro lançados do ar.
A terra, mais importante do que o mar
Os russos constroem sistemas de anti-acesso e negação de área (A2/AD) baseados em terra para apoiar suas frotas navais por um bom motivo, admitem os autores. Assim, sua estratégia naval se caracteriza pela implementação de sistemas de mísseis e de defesa costeira que dispõem de todas as potências de uma frota naval, mas não têm suas vulnerabilidades.
Desta forma, continuam os especialistas, em um hipotético confronto militar tático em litorais, “os sistemas de mísseis terrestres e terra-ar podem reforçar o poder de fogo da frota de forma benéfica ou atacar o inimigo em condições mais favoráveis”.
A capacidade de uma frota de controlar o mar, projetar sua força e atingir alvos terrestres “é severamente prejudicada em regiões litorâneas”. Isto se deve a que, em tais áreas, uma frota exige uma concentração maior e mais cara.
“Esse problema é ainda mais urgente para uma marinha como a da Turquia, cujos portos e litorais estão dentro do alcance das armas russas”, enfatizam Kurtdarcan e Kayaogli.
Enquanto isso, o presidente da Rússia Vladimir Putin afirmou várias vezes que a Rússia não procura inimigos ou representa uma ameaça. Seu único objetivo é garantir a segurança da Rússia, defender o país e seu povo.
FONTE: Sputnik