Com ‘drones suicidas’ e ataques com foguetes, a Marinha Israelense simula a guerra com o Hezbollah

Marinheiros israelenses se preparam para disparar uma metralhadora durante um exercício naval na costa da cidade de Haifa, no norte de Israel, em 3 de fevereiro de 2020. (Judah Ari Gross / Times de Israel)




Por Judah Ari Gross

A bordo do I.N.S. KESHET – No próximo conflito com o grupo Libanes Hezbollah, a Marinha de Israel sabe que um de seus principais objetivos será proteger a crescente infraestrutura de extração e transporte de gás natural no Mar Mediterrâneo Oriental.

O Hezbollah há muito identifica as plataformas marítimas como um alvo potencial, com ameaças verbais do líder do grupo, Hassan Nasrallah, e seus seguidores além de vídeos e propagandas ameaçadoras.

Além disso, as forças armadas assumem que o grupo fundamentalista apoiado pelo Irã possui as capacidades necessárias para concretizar essas ameaças e realizar ataques potencialmente bem-sucedidos não apenas nas plataformas de gás, mas nas rotas comerciais que trazem quase todos os produtos importados de Israel.

Na semana passada, a 3ª Flotilha da Marinha Israelense simulou esse confronto com um exercício de uma semana no mar, incluindo ataques de mísseis em navios israelenses, tentativas de atentados suicidas e ataques com drones.

“Assumimos que o Hezbollah tentará atacar no front marítimo. Eles vêem isso como um teatro de operações muito importante”, disse o tenente-coronel Guy Barak, comandante do 34º Esquadrão Anti-Submarino a bordo do INS Keshet.

“Com um inimigo como o Hezbollah, uma surpresa pode ocorrer no décimo dia de uma guerra ou na primeira hora”, disse ele. “Então, precisamos saber como ir de zero a 100 rapidamente.”

Barak se recusou a comentar sobre os tipos específicos de armas que a IDF acredita que o Hezbollah tem em seus arsenais, mas disse que isso inclui mísseis anti-navio, drones suicidas, recursos submarinos e outros.

“Temos que pensar que o que quer que o Irã tenha, o Hezbollah – e o Hamas – também podem ter”, disse ele.

Barak disse que os militares estão acompanhando diretamente o desenvolvimento de armas do Hezbollah e também fazendo avaliações com base nos “vetores” que o grupo já possuía.

Na Segunda Guerra do Líbano de 2006, as forças do Hezbollah dispararam um míssil anti-navio no INS Hanit que matou quatro marinheiros israelenses, um dos eventos mais significativos do conflito de 34 dias em Israel.

Uma imagem de um vídeo do grupo terrorista libanês Hezbollah que ameaça atacar plataformas de gás offshore israelenses. (Captura de tela)

O ataque contra o Hanit em 14 de julho neutralizou o navio, mas não o destruiu. Foi o primeiro ataque direto a um navio de guerra israelense em décadas e o Hezbollah o celebrou como uma das maiores vitórias da guerra.

Embora grande parte do exercício tenha sido conduzido virtualmente, um dos eventos foi um exercício de tiro real contra o ataque de um “drone suicida” repleto de explosivos, uma arma que o Hezbollah e outras milícias apoiadas pelo Irã possuem.

Uma empresa civil foi contratada para pilotar um drone contra os navios participantes, enquanto os reparos de armamento tentavam derrubá-lo.

A bordo do INS Keshet, foram necessárias 94 disparos de uma das metralhadoras de calibre 50 do navio para abater o drone.

Um marinheiro israelense se prepara para disparar uma metralhadora durante um exercício naval na costa norte de Israel (FDI)

Questionado sobre por que apenas um drone foi usado na operação, quando é possível que um enxame deles possa realmente ser usado em uma guerra futura, Barak reconheceu que isso era verdade não apenas nos drones, mas em todos os aspectos do exercício, e que a decisão de usar apenas um foi arbitrada para o treinamento.

“Pode ser um barco suicida ou vários, um drone ou vários, um foguete ou vários”, disse ele.

Israel é uma ilha

Embora cercado por três lados por terra, o Estado de Israel funciona efetivamente como uma economia insular, importando e exportando quase todos os seus bens pelo mar, tornando as linhas de comunicação marítimas estratégicas para o funcionamento do país. A recente descoberta de reservas de gás natural nas águas territoriais de Israel e a construção de uma plataforma de extração no alcance visual das comunidades costeiras do norte de Israel, só aumentaram a importância do mar.

Para ajudar na defesa desses novos recursos, a IDF (Israel Defense Force) adquiriu quatro Corvetas Sa’ar classe 6 a serem entregues a partir do próximo ano, equipados com duas baterias de defesa anti-aérea “Iron Dome” para defender as plataformas de gás natural de ataques com mísseis e foguetes.

Corveta Sa’ar 5 da Marinha Israelense protegendo uma plataforma de extração de gás natural na costa de Israel (Forças de Defesa de Israel)

Enquanto isso, a Marinha de Israel está protegendo as plataformas de extração Corvetas Sa’ar classe 5, um pouco menores, também equipadas com baterias “Iron Dome”.

Além de sua importância estratégica para o Estado de Israel, essas plataformas também representam alvos altamente visíveis para o Hezbollah, o que poderia dar-lhes o que as autoridades militares chamam de “imagem da vitória”, tal qual o Levantamento da Bandeira em Iwo Jima na Segunda Guerra Mundial ou os pára-quedistas israelenses no Muro das Lamentações na Guerra dos Seis Dias de 1967. Uma bola de fogo maciça saindo de uma plataforma de extração a menos de 10 quilômetros da costa israelense poderia ter um efeito semelhante para o Hezbollah.

“Mas essa é não é minha principal preocupação”, disse Barak. “Minha preocupação é defender as instalações nacionais de infraestrutura – independente da aparência das coisas.”

 Marinheiros israelenses participam de um exercício naval na costa norte de Israel em fevereiro de 2020.(FDI)

Para realizar essa tarefa, os navios de Israel estão equipados com uma enorme variedade de sensores e sistemas de detecção – radar, sonar, eletro-óptico e sistemas de defesa ativos que podem interceptar ataques bem como mísseis superficie x superficie lançados de navios ou da costa.

Enquanto outras marinhas ao redor do mundo mantêm esquadras com diferentes classes de navios capazes de realizar tarefas e missões específicas, Barak disse: “precisamos que nossas Corvetas missileiras façam tudo”.

Todos esses sistemas são controlados a partir do centro de informações de combate dos navios de guerra, uma sala escura e apertada no interior do Navio cujas anteparas são cobertas por uma infinidade de telas e painéis informativos.

Barak disse que esses sistemas de detecção e armas tornam as Corvetas críticas para operações defensivas e ofensivas “não apenas no mar, mas acima e abaixo dele”.

No entanto, ressaltou, a marinha não pode usar esses meios apenas para o “front” marítimo e deve servir como parte integrante do esforço geral de guerra.

As autoridades navais frequentemente citam como exemplo o caso da Guerra do Yom Kippur de 1973, na qual as força aérea e exercito sofreram pesadas perdas enquanto a marinha teve um desempenho muito melhor.

Barak disse que a marinha, especialmente a 3ª Flotilha e a 7ª Flotilha de submarinos, tem uma mentalidade um pouco diferente do que o resto das forças armadas, já que os navios que usam não são apenas máquinas de guerra, mas também suas casas, nas quais podem permanecer por longos períodos de tempo.

“Os marinheiros vêem isso como sua casa e os outros membros da tripulação como sua família; portanto, quando eles lutam, eles estão lutando por sua casa”, disse ele. “Saímos para a guerra e voltamos quando vencemos. Não sabemos por quanto tempo.”

Apesar dessa qualidade singular, a Marinha trabalha em estreita cooperação com os outros ramos da IDF, especialmente a Força Aérea Israelense, disse Barak, dando o exemplo específico das baterias “Iron Dome” operadas pela força aérea a bordo de navios da Marinha.

Para manter a capacidade de combater guerras navais tradicionais, o exercício da semana passada também incluiu um confronto de forças.

O exercício simulou a morte do comandante do INS Romach devido a um impacto direto de um foguete do Hezbollah, incêndios e alagamentos a bordo de navios, evacuações aeromedicas e outras emergências.

“O exercício levou os comandantes ao extremo e testou sua performance sob stress”, disseram os militares.

Os mísseis e outros armamentos da 3ª Flotilha garantem que desempenhará um papel ativo em qualquer guerra futura contra o Hezbollah no Líbano, como fez na Segunda Guerra do Líbano de 2006 e contra o Hamas em Gaza no conflito de 2014.

“O Hezbollah sabe que, se uma guerra total começar, a IDF exibirá força como nunca antes, e isso incluirá um ataque da 3a Flotilha vindo do mar”, disse Barak.

FONTE: The Times of Israel

TRADUÇÃO E ADAPTAÇÃO: DAN

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