A China realizou testes do primeiro aparelho voador hipersônico de sua própria concepção, tornando-se o terceiro país depois dos Estados Unidos e da Rússia a possuir tal equipamento.
O dispositivo testado, segundo afirmam fontes chinesas, tem um valor puramente científico. No entanto, no futuro, com base neste desenvolvimento podem ser criados mísseis de cruzeiro hipersônicos e ogivas para mísseis balísticos capazes de romper defesas antimísseis.
Reação natural
Os testes chineses de um aparelho hipersônico, bem como a retomada alguns anos antes de trabalhos russos nessa área (também acompanhados por testes práticos) tornaram-se parte de mais uma etapa da corrida, que começou não em Pequim nem em Moscou. Ambos os países estão procurando uma resposta para os sistemas desenvolvidos nos Estados Unidos. Primeiro de tudo, trata-se do sistema de defesa antimísseis e futuros meios hipersônicos de ataque, criados no âmbito do conceito de Ataque Global Rápido – Prompt Global Strike (PGS).
A principal característica do PGS, que distingue este programa das forças nucleares estratégicas modernas, é ele ser não-nuclear. E, como resultado, não se lhe aplicam os limites para armas estratégicas ofensivas. Contudo, o objetivo do programa é a capacidade de realizar ataques de alta precisão em qualquer lugar do mundo dentro de uma hora. Muito possivelmente, ele não será alcançado por completo, no entanto, tal mudança das “regras do jogo” não poderia passar despercebida.
O aparelho hipersônico da China é capaz de criar no futuro uma ameaça militar para os Estados Unidos no local mais sensível – no centro da região da India-Pacífico. Ao conseguir o alcance apropriado, essas ogivas controladas poderão tornar-se uma séria ameaça para meios de ataque das Forças Armadas dos EUA e para o sistema de defesa antimíssil – especialmente para os navios do sistema Aegis que estão sendo posicionados na “vanguarda”.
A principal vantagem das unidades de manobra hipersônicas na concorrência com sistemas antimísseis é justamente a sua capacidade de manobra: uma unidade semelhante pode mudar sua trajetória em voo, reduzindo significativamente a probabilidade de interceptação.
Perspectiva dos anos 20
A potencial consequência mais perigosa do desenvolvimento do PGS é que em vez de nivelar o potencial nuclear, ele é capaz de aumentar o seu papel. Isto levará a um aumento dos arsenais russo e chinês que serão vistos por Moscou e Pequim como a única forma de causar aos Estados Unidos, em caso de guerra, danos garantidamente inaceitáveis.
A combinação de um sistema nacional de defesa antimísseis implementado com a produção em série de meios de PGS não deixam alternativa à retomada da corrida armamentista nuclear. Estando para trás dos EUA em sistemas convencionais de alta precisão, isso será a única chance de manter o equilíbrio estratégico.
Deveremos esperar o agravamento máximo do problema em meados da década de 2020, no momento da conclusão do sistema de defesa antimísseis e da introdução em serviço dos primeiros sistemas de armas desenvolvidos no âmbito do conceito de PGS. Dadas as crescentes diferenças políticas, há uma possibilidade de que em 2023 o clima internacional irá lembrar a situação em 1963 ou 1983, embora a base da confrontação serão motivos não ideológicos, mas políticos e econômicos. No entanto, ainda há tempo para evitar um deslize para tal confronto. E neste sentido, os testes bem sucedidos de tais armas são nada mais do que uma moeda de troca em futuras negociações sobre a limitação de armas estratégicas, tanto nucleares como convencionais.
Fonte: Voz da Rússia