Por Silvio Queiroz
Foi esse, em linhas gerais, o recado trazido de Paris por um diplomata de alto escalão que visitou o país, na semana passada, no âmbito de uma agenda de consultas de alto nível destinadas a preparar um encontro em nível de chanceleres, no meio do ano. O que está em pauta é uma indisfarçada partilha de responsabilidades proposta — ou mais que isso — pelos parceiros europeus: com o Velho Continente em crise econômica, a expectativa é de que potências emergentes com pretensões globais se apresentem com mais frequência para as missões que, no mais das vezes, recaem sobre as antigas metrópoles coloniais.
Toma lá, dá cá
A convocação feita ao Brasil não é inédita nem gratuita. No caso dos franceses, em particular, tem a ver como os importantes acordos bilaterais no campo da defesa, firmados no âmbito de uma parceria estratégica que, a despeito da crise econômica de ambos os lados do Atlântico, inclui importantes empreitadas no terreno da defesa. É o caso da construção dos primeiros submarinos brasileiros com propulsão nuclear e da instalação de unidades de montagem de modernos helicópteros de assalto. Em um e outro caso, como frisou mais de uma vez o ex-presidente francês Nicolas Sarkozy, trata-se de capacitar o Brasil militarmente para que assuma um papel de maior protagonismo em tarefas nas quais os europeus, pelo passado colonial, enfrentam resistências.
Preço fixado
Nenhum emissário colocaria a questão dessa maneira, nem uma colocação do gênero seria aceita em Brasília. A verdade, porém, é que a convocação para que o país assuma com mais disposição a posição de fator de equilíbrio em processos de transição política, em particular na África, se relaciona com a envergadura internacional ensaiada nos anos Lula. Foi àquela altura que Sarkozy, em visita ao país, colocou em termos claros as razões de Estado da França para investir em programas de ordem estratégica para a capacitação militar do Brasil: se a Europa espera que o país assuma cada vez mais os desafios correspondentes à aspiração de integrar como membro permanente o Conselho de Segurança da ONU — pretensão que a França foi a primeira a endossar, entre os cinco membros permanentes do conselho —, é preciso dotar as Forças Armadas brasileiras dos meios requeridos para tal.