No último dia 9 de maio, um caça Su-30 russo obrigou um avião de reconhecimento P-8A Poseidon norte-americano a deixar o espaço aéreo russo. Embora criticado por acrobacias, ato foi visto como ‘padrão’ entre as partes.
Por Nikolai Litôvkin
O caça russo Su-30 realizou uma série de manobras acrobáticas a seis metros do Poseidon P-8A e forçou o avião estrangeiro a deixar o espaço aéreo russo. Mais tarde, o Ministério da Defesa russo descreveu as acrobacia do piloto como uma “saudação”.
Código de conduta
As normas de conduta aérea definem que, em situações semelhantes à descrita acima, os caças devem se aproximar das aeronaves de reconhecimento (com as pontas das asas de ambos os aviões bem próximas) e voar paralelamente a elas, explica o ex-comandante de aviação naval da Marinha russa, o coronel-general Vladímir Deineka.
“No ano passado, houve um incidente quando um Su-27 simulou um ataque de míssil contra um avião da Otan sobre o mar Báltico. O avião russo alcançou a aeronave estrangeira, virou de ‘barriga’ para ele, expondo seus mísseis, e então seguiu o voo para longe. Isto é o que se chama uma escolta aérea”, disse o colunista de defesa do jornal “Izvêstia”, Dmítri Safonov, à Gazeta Russa. “Assim, o caça mostra que no caso de ações agressivas está pronto para atacar.”
Em outra ocasião, bombardeiros estratégicos Tu-95 que voavam próximos ao Alasca foram escoltados por caças F-16 americanos – que poderiam usar armas se os aviões russos mudassem de rumo e entrassem no espaço aéreo dos EUA.
“Se uma aeronave entrar no espaço aéreo de outro país, ela será forçada a pousar: um caça poderia abatê-los, mas é improvável que use mísseis, uma vez que poderia levar a uma Terceira Guerra Mundial”, acrescentou Safonov.
Deineka relembra ainda que Moscou e Washington assinaram um acordo em 1972 que estabelece regras para a prevenção de incidentes aéreos.
“Um piloto que estiver sendo pressionado por caças deve entender em que situação tem o direito legal de responder para evitar um conflito militar, ou em que situações deve se dispersar ou aterrissar a aeronave”, diz o coronel-general.
Missão cumprida
Os pilotos russos não têm permissão para obstruir um navio no mar ou um avião no ar, segundo o analista militar da TASS, Víktor Litóvkin.
“Realizar acrobacias aéreas ao lado de outro avião não é nada mais do que bravata militar”, diz Litóvkin, acrescentando que os caças super manobráveis Su-30 deram aos pilotos oportunidades que nenhum outro avião no mundo oferece. “É por isso que, às vezes, eles perdem a cabeça e se deixam levar”, completa o observador.
No entanto, segundo Litóvkin, em termos técnicos, o piloto não violou qualquer regra de conduta, uma vez que cumpriu sua missão de combate.
“O piloto ‘empurrou’ o avião estrangeiro para fora de seu território, não perdeu sua aeronave, não provocou um conflito e voltou para a base. Essa é a primeira tarefa de um caça interceptador. Eu não sei ao certo se os pilotos ganham um bônus em casos como esse, mas, em geral, é um plus para o piloto”, acrescentou o analista.
No limite da normalidade
Durante os anos do governo Barack Obama, a Rússia e os EUA sofreram diversas críticas mútuas por incidentes semelhantes. Com a mudança do clima político, “essas situações não geram mais uma onda de indignação entre os militares”, diz Safonov.
O porta-voz do Comando de Defesa Aeroespacial da América do Norte, Ashley Peck, por exemplo, chegou a declarar que as ações dos bombardeiros russos sobre o Alasca foram “profissionais e dentro do código de conduta aérea”.
“Trump defende as relações de parceria, enquanto a administração Obama qualificava a Rússia com principal ameaça à paz. Todas as acusações mútuas durante incidentes como esses eram exclusivamente destinadas a formar um ou outro ponto de vista. Ainda bem que agora o nível de agressão diminuiu”, conclui Safonov.
FONTE: Gazeta Russa