Duro de combater
Extremistas do Estado Islâmico lançaram nova investida contra a cidade de Kobane, na fronteira síria com a Turquia, horas depois de aviões da coalizão liderada pelos Estados Unidos bombardearem locais onde estariam veículos e armas usados pelos jihadistas. O Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), com base em Londres, anunciou que, a despeito dos bombardeios, soldados e veículos blindados foram levados da província de Raqqa, no norte do país, até a periferia de Kobane, para reforçar o assédio a Kobane. Diante da dificuldade para conter o avanço, o porta-voz do Pentágono, o contra-almirante John Kirky, afirmou a jornalistas que “ataques aéreos isolados não vão salvar a cidade”.
Washington pressiona o governo turco para que se junte à coalizão contra o EI e demonstra impaciência com a demora do país, cujo parlamento aprovou na semana passada a intervenção de tropas na Síria.
Os EUA informaram ter redobrado o número de ataques aos extremistas desde segunda-feira. Segundo autoridades, aviões acertaram nove alvos na Síria, seis deles nas proximidades de Kobane, além de cinco posições dos jihadistas no Iraque. Os bombardeios forçaram um recuo momentâneo dos extremistas, mas pouco depois o EI voltou a avançar rumo ao centro da cidade. Em entrevista à CNN, o almirante Kirby disse ser necessário ter “um pouco de paciência” para que a estratégia internacional mostre eficiência. “Esse grupo não vai sumir amanhã, e Kobane pode cair”, alertou.
Moradores e líderes da região renovaram os pedidos de ajuda e alertaram para as consequências de uma vitória jihadista na cidade. “Eles já controlam a parte leste”, lamentou ao Correio o vice-secretário de Relações Exteriores de Kobane, Idris Nassan. Sem recursos, armas e contingente para enfrentar os jihadistas, autoridades locais da minoria étnica curda sustentam que a única forma de defender Kobane é com maior ajuda internacional. “Não contamos com promessas, não temos tempo para esperar. Isso está acontecendo agora. Precisamos de ajuda em solo, urgentemente”, apelou Nassan. Durante a noite, o EI entrou em dois distritos com armamento pesado, incluindo tanques, segundo Asya Abdullah, um dos líderes das Unidades de Proteção Popular (YPG), principal milícia curda na Síria. “Civis podem ter
morrido porque houve confrontos muito intensos”, relatou Abdullah à agência de notícias Reuters.
Exclusão aérea
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, tem evitado envolver o país no conflito sírio, como forma de pressionar os integrantes da coalizão internacional a confrontar o ditador Bashar Al-Assad. Erdogan sugeriu a criação de uma zona de exclusão aérea, para evitar ataques de aviões sírios perto da fronteira com a Turquia. A ação permitiria que os cerca de 1,2 milhão de refugiados acolhidos no território turco voltassem para Síria, aliviando a pressão econômica e social que exercem no vizinho.
A Casa Branca descartou a ideia, rebatendo informações da diplomacia americana e britânica, segundo as quais a proposta poderia ser avaliada. “Essa é uma ideia que os turcos sugeriram em várias oportunidades e, evidentemente, conversamos com eles. Mas não é algo que esteja em consideração agora”, disse o porta-voz Josh Earnest. Pouco antes, em entrevista coletiva ao lado do chanceler britânico, Phillip Hammond, o secretário de Estado americano, John Kerry, dissera que “valia a pena avaliar” a ideia. A presidência francesa manifestou interesse na proposta, justificando que a zona de exclusão poderia “receber e proteger as pessoas deslocadas”.
Apesar de não aceitar uma aliança com Al-Assad, o Ocidente combate um inimigo do regime de Damasco. Os ataques realizados em solo sírio não sofreram objeção prática do ditador, e os EUA temem que o cenário já complexo da região fique ainda complicado, caso percam o consentimento de Al-Assad.
FONTE: Correio Braziliense