Por Talita Fernandes, Gustavo Uribe e Ricardo Della Coletta
Na manhã desta sexta-feira (22), militares venezuelanos abriram fogo contra um grupo de civis que tentava ajudar a manter aberta a fronteira da Venezuela com o Brasil um dia depois de o ditador Nicolás Maduro ter anunciado o fechamento da divisa entre os dois países. Ao menos duas pessoas morreram nos conflitos desta sexta.
A decisão de Maduro ocorre em meio à tentativa de envio de ajuda humanitária do Brasil e da Colômbia ao país vizinho com coordenação dos EUA. Os primeiros suprimentos —alimentos e medicamentos— chegam nesta sexta na região fronteiriça.
Mesmo com a decisão de fechamento da fronteira, o governo brasileiro decidiu manter a programação de enviar ajuda à região.
O líder opositor Juan Guaidó, reconhecido por 50 países (incluindo o Brasil) como presidente interino da Venezuela, se comprometeu a fazer chegar “de uma forma ou de outra” a ajuda humanitária ao país a partir de diversos pontos na fronteira, neste sábado (23).
Estão reunidos no Planalto, além de Bolsonaro, representantes de dez ministérios, o chefe do Estado-Maior do Conjunto das Forças Armadas, tenente brigadeiro do Ar, Raul Botelho. O governador de Roraima, Antonio Denarium, participa por videoconferência.
O governo vai enviar uma comitiva no fim de semana à Colômbia, onde o Grupo de Lima se reunirá na segunda-feira (25) para discutir a situação da Venezuela.
O Brasil será representado pelo vice-presidente, general Hamilton Mourão e pelo chanceler, Ernesto Araújo, que já está no país.
Criado em 2017, na capital do Peru, o Grupo de Lima é formado por chanceleres de 14 países das Américas —apenas o México não reconhece Guaidó como presidente interino da Venezuela.
O governo federal vai manter um gabinete de crise para acompanhar a situação da fronteira, e Bolsonaro se reunirá com Mourão no domingo (24), antes do embarque do vice para a Colômbia.
O confronto desta sexta ocorreu em uma vila de Kumarakapay, na Venezuela, que fica ao lado de uma estrada. Um grupo indígena tentou parar um comboio militar que se dirigia à fronteira com o Brasil, em um dos pontos onde o governo Maduro pretende barrar a entrada de ajuda humanitária.
Os soldados entraram na vila, abriram fogo contra as pessoas, liberaram o caminho e seguiram em frente. Apesar do bloqueio, duas ambulâncias venezuelanas cruzaram a fronteira brasileira para levar cinco feridos a um hospital de Roraima.
“Neste momento, cinco pacientes venezuelanos estão sendo atendidos no Hospital Geral de Roraima. Todos foram feridos por arma de fogo”, disse a Secretaria Estadual de Saúde, em nota.
Após o ataque, ao menos 30 moradores dos arredores da vila sequestraram três funcionários do governo. Segundo Tamara Suju, advogada e defensora dos Direitos Humanos, eles só serão liberados pelos indígenas caso o ministro da Defesa da Venezuela, Padrino López, vá buscá-los pessoalmente.
Os ativistas que fizeram o bloqueio pertencem ao grupo indígena Pemones, que se uniu ao esforço da oposição venezuelana para ajudar a receber a ajuda humanitária enviada pelos EUA.
FONTE: Estado de São Paulo