Indústria armamentista norte-coreana realizou diversos avanços tecnológicos nos últimos meses, ainda que especialistas duvidem que consiga atingir os EUA
Por Carlos Torralba
Já no primeiro semestre deixou claro que havia desenvolvido a bomba de hidrogênio, ou termonuclear, pelo menos 15 vezes mais potente do que as de 1945, segundo vários serviços de inteligência estrangeiros. Desde a posse de Donald Trump nos EUA, Pyongyang realizou vários avanços tecnológicos em sua indústria balística, como a propulsão sólida, que reduz a minutos o tempo de lançamento, e o domínio da tecnologia que evita que um míssil intercontinental se desintegre ao regressar à atmosfera.
Após terminar 2016 com dois testes malsucedidos, o líder supremo afirmou em janeiro que logo conseguiriam ter um míssil intercontinental (de alcance superior aos 5.500 quilômetros). Em 4 de julho, o dia da independência dos EUA, a Coreia do Norte o lançou com sucesso. A função principal desse tipo de míssil é poder liberar uma carga nuclear a milhares de quilômetros.
Na madrugada de quarta-feira, Kim Jong-un supervisionou o lançamento do Hwasong-15, o míssil mais sofisticado do regime comunista, com alcance a todo o planeta com exceção da América do Sul. Ainda assim, Pyongyang não demonstrou ser capaz de incorporar um sistema de navegação preciso aos seus mísseis e de conseguir manter a estabilidade ao voar na horizontal. Alguns dos analistas consultados consideram que esse teste demonstrou que Pyongyang já pode dirigir uma carga nuclear aos EUA, outros especialistas acham que estão a dois ou três anos de seu objetivo.
A rapidez com que evoluíram os programas balístico e nuclear de Pyongyang levantou muitas suspeitas entre os analistas. “É óbvio que receberam uma notável ajuda do exterior. Pyongyang não tem capacidade de conseguir avanços tão rápidos e complicados sozinha”, diz Joachim Krause, diretor do Instituto de Segurança da Universidade de Kiel (Alemanha). No começo da corrida armamentista norte-coreana a colaboração da URSS e do Egito foi essencial. Para as melhorias dos últimos meses há, de acordo com o especialista, duas possíveis explicações: “Que ainda exista um mercado negro de material soviético e existam engenheiros e físicos dispostos a trabalhar clandestinamente, ou que a Rússia, e provavelmente a China, trabalhem ativamente no programa balístico e nuclear norte-coreano”. Os descomunais veículos utilizados para transportar os mísseis intercontinentais são de fabricação chinesa, mas Pequim afirma que sua venda foi exclusivamente para uso civil.
Se Kim Jon-un chegar a ordenar o lançamento de um míssil balístico que leve uma carga nuclear contra território norte-americano, as probabilidades de sucesso seriam muito remotas. “Washington há 13 anos trabalha em um sistema de defesa ad hoc para a ameaça norte- coreana”, explica por telefone Patrick O’Reilly, ex-general norte-americano que dirigiu a Agência de Defesa de Mísseis.
O sistema aéreo de defesa norte-americano é formado por uma série de satélites, radares e sensores capazes de traçar quase instantaneamente a trajetória do míssil inimigo e programar o lançamento de um interceptador. Em caso de ataque, seriam lançados provavelmente entre quatro e cinco interceptadores. “Um pode falhar, mas é quase impossível que todos falhem”, explica O’Reilly.
Washington recentemente realizou um teste no qual lançou um míssil das ilhas Marianas e minutos mais tarde disparou um interceptador da Califórnia que colidiu a milhares de metros de altura contra o projétil. O mecanismo de defesa exige precisão absoluta. “Se o interceptador sai um segundo antes ou depois, passará a cerca de 15 quilômetros de seu alvo”, explica Ian Williams, diretor do programa de Segurança do Centro de Estudos Internacionais e Estratégicos (CSIS). O processo de interceptação é totalmente automatizado, exceto pelo fato de um ser humano executar a ordem de intervir. Williams explica que os EUA não contam com mais de 50 interceptadores, e segundo seus cálculos seria possível intervir eficazmente em um máximo de seis ataques.
O regime norte-coreano não se concentrou apenas nos mísseis intercontinentais. Em fevereiro, foi usado pela primeira vez um míssil de propulsão sólida. A passagem de propulsão líquida para sólida permite reduzir o tempo de preparação, programação e lançamento de horas a minutos, e impede por completo que uma força aérea inimiga consiga bombardear a base de lançamento durante sua preparação.
Diferentemente dos testes balísticos, que são imprevisíveis, as imagens de satélite alertam seus vizinhos quando Pyongyang prepara um teste nuclear. Desde 1999, a Coreia do Norte é a única das nove potências nucleares que continua realizando testes atômicos. Seul avisou em março que o Exército norte-coreano estava cavando um túnel para simular uma explosão que seria no mínimo 15 vezes mais potente do que a anterior. A detonação ocorreu em setembro e o cálculo foi bem preciso: de 10 quilotons aumentou para algo entre 100 e 250, segundo as análises norte-americanas e sul-coreanas. O urânio e o plutônio abriram caminho para o deutério, um isótopo do hidrogênio indispensável para evoluir da bomba atômica para a termonuclear. O teste provocou um abalo de 6,3 graus na escala Richter, sentido até na China.
Muito menos atenção recebem os testes submarinos nas águas do mar do Japão. O Pentágono e os serviços de inteligência sul-coreanos prognosticam que no próximo ano o Pukkusong-2, um míssil lançado de um submarino, pode estar em operação. Isso preocupa muito mais Seul e Tóquio do que Washington, apesar de representar um novo perigo para territórios presididos por Trump no Pacífico, como Guam e as ilhas Marianas do Norte. Os sistemas de defesa japonês e sul-coreano estão apontando exclusivamente para o território norte-coreano, e por isso um míssil vindo pelo mar seria muito mais difícil de interceptar.
FONTE: El país
FOTO: Ilustrativa