Encarregada de avaliar a estratégia de defesa, Comissão de Relações Exteriores ouviu ontem o comandante da Força Aérea sobre o reequacionamento de ações e programas
Por Sergio Vieira
O Comandante da Aeronáutica, Tenente-Brigadeiro do Ar Nivaldo Luiz Rossato, admitiu ontem, em debate no Senado, que a Força Aérea, o Ministério da Defesa e as empresas privadas associadas aos projetos do setor trabalham com cenários eventuais de atrasos na execução dos programas. Mas garantiu que as prioridades da pasta estão sendo reequacionadas sob a lógica de não extinguir nenhuma ação e minimizar o impacto sobre os postos de trabalho.
Rossato foi ouvido pela Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) sobre as consequências do corte de gastos do governo na área. A estratégia de defesa do país vem sendo analisada pela CRE durante todo o ano. O relatório sobre essa política pública está a cargo do senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES).
Um dos pontos tratados ontem foi a crise na Petrobras. A estatal reduziu o plano de investimentos para os próximos anos, o que tem impacto direto sobre a indústria de helicópteros. Associada a empresas privadas, a Aeronáutica coordena o suprimento de modelos de apoio à extração de petróleo na camada pré-sal.
Em outro aspecto, Rossato reconheceu que o país está “uns 40 anos” atrasado em relação à defesa espacial. — Nas áreas cibernética e nuclear, vamos bem. Mas na espacial precisamos de mais objetividade por parte de todos os atores envolvidos — disse.
Ele informou que o país trabalha apenas com satélites alugados, mas lembrou que um novo centro de operações espaciais começará a funcionar no ano que vem em Brasília.
O militar explicou que, por razões econômicas, a prioridade da Aeronáutica é o estímulo à produção de satélites de órbita baixa, uma vez que são os mais indicados para as necessidades do agronegócio, entre outros.
O senador Ferraço chamou a atenção para o atraso no programa KC 390, os jatos militares desenvolvidos pela
Embraer.
— A empresa perde mercado por causa do caos nas contas públicas, provocando desemprego e perda de divisas — alertou.
Rio 2016
O senador Jorge Viana (PT-AC) disse ver no século 21 o combate aéreo como o grande diferencial na geopolítica da guerra, situação que para Rossato é clara desde a Guerra do Golfo. O conflito, entre 1990 e 1991, envolveu uma coalizão de países liderados pelos Estados Unidos para liberar o Kuwait, que fora invadido e anexado pelo Iraque.
Nesse sentido, o militar destacou a compra de 36 caças suecos Gripen, em um projeto que está gerando 2.300 empregos diretos e 14.650 indiretos. Ele disse que foram vantajosas as condições de pagamento que o Brasil obteve na negociação com a Suécia e elogiou a qualidade dos aviões, além do programa de transferência de tecnologia envolvido na aquisição.
Questionado sobre a facilidade com que o crime organizado introduz drogas e armas no país, Rossato afirmou que é difícil e caro controlar mais de 16 mil quilômetros de fronteiras, a maior parte com vegetação.
Em resposta à senadora Ana Amélia (PP-RS), o comandante disse estar tranquilo quanto às estratégias de segurança que vêm sendo desenvolvidas para os Jogos Olímpicos Rio 2016. Para ele, o trabalho feito durante a Copa do Mundo de 2014 foi “uma grande escola”, com resultados avaliados como excelentes em todos os quesitos.
Na audiência ficou acertado que o senador Ferraço fará uma reunião de trabalho com técnicos da Aeronáutica para detalhar o impacto das restrições orçamentárias do governo. A data do encontro, aberto aos demais senadores, ainda será definida.
FONTE: Senado Federal