Por Andréa Barretto
Com 984 militares dispersos em cerca de 1.920 quilômetros de fronteira do Brasil com a Venezuela e a Guiana, a Operação Curaretinga dá continuidade à série de atividades desempenhadas pelo Comando Militar da Amazônia (CMA) para combater os ilícitos transfronteiriços. Realizada entre os dias 23 de março e 3 de abril, essa foi a nona edição da Curaretinga, que é executada pela 1ª Brigada de Infantaria de Selva, com sede em Boa Vista, capital do estado de Roraima. Na operação, o Exército se fez presente nos 15 municípios do estado, que tem mais de 46 por cento do seu território demarcado como terra indígena.
Mas os militares não atuaram de forma isolada. Como é característico dessa operação, as atividades foram realizadas em parceria com 86 profissionais de 26 agências governamentais, entre as quais a Polícia Federal, a Polícia Rodoviária Federal e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). “Isso promove uma soma muito importante, porque cada um atua dentro de sua especificidade, colaborando para que a operação tenha mais eficácia”, afirmou o Major Rodrigo Luiz Soares Evangelista, oficial de Comunicação da 1ª Brigada de Infantaria de Selva.
As operações interagências já eram uma prática das Forças Armadas, mas a orientação para a adoção desse modelo foi reforçada pelo Decreto Nº 8.903, assinado em novembro de 2016 pelo presidente Michel Temer e que instituiu o Programa de Proteção Integrada de Fronteiras, com o objetivo de fortalecer a prevenção, o controle, a fiscalização dos delitos transfronteiriços, bem como a sua repressão. O documento definiu como uma de suas diretrizes “a atuação integrada e coordenada dos órgãos de segurança pública, dos órgãos de inteligência, da Secretaria da Receita Federal do Brasil, do Ministério da Fazenda e do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas”.
Na Operação Curaretinga, foram realizadas ações conjuntas, tais como as patrulhas fluviais. Durante uma delas, os militares do Exército e policiais federais apreenderam 12 pessoas com 1.700 gramas de ouro extraído de forma ilegal, além de um motor usado na retirada do metal precioso e um telefone satelital. No balanço final da operação, foram apreendidos 2.733 gramas de ouro e 28 civis envolvidos com o garimpo ilegal, praticado no interior da Terra Indígena Yanomami.
Junto com o IBAMA, o Exército fez a apreensão de 3.359 metros cúbicos de madeira, também extraída ilegalmente na região sul de Roraima. Com a Polícia Rodoviária Federal, o foco foi a fiscalização das vias terrestres que ligam o Brasil aos países vizinhos. Para isso, foram montados 47 postos de bloqueios e controle de estradas, durante os quais os policiais e os militares vistoriaram quase 6 mil veículos.
Meios empregados
Dos 984 militares empenhados na Operação Curaretinga, a maioria era da 1ª Brigada de Infantaria de Selva, mas a ação contou também com participantes do 6º Batalhão de Engenharia de Construção e do 4º Batalhão de Aviação do Exército, todos subordinados ao CMA.
Tanto os militares do Batalhão de Engenharia quanto de Aviação tiveram papel essencial na facilitação da mobilidade das equipes. “Roraima tem áreas bastante ermas, de difícil acesso, principalmente dentro das terras indígenas”, disse o Maj Rodrigo Luiz. “Os membros do Batalhão de Engenharia ajudaram fazendo a recuperação de estradas e pontes, para melhorar o nosso acesso, assim como o da população local. E os membros do Batalhão de Aviação ajudaram no transporte de tropas por meio de suas aeronaves”, acrescentou.
Os helicópteros foram empregados também em patrulhas aéreas, que permitiram a identificação de atividades suspeitas em terra, a exemplo de focos de degradação ambiental no meio da floresta, que chamaram a atenção para a possibilidade de extração ilegal de madeira. O 4º Batalhão de Aviação usou quatro aeronaves na Operação Curaretinga. Para as atividades de patrulha nos rios, foram mobilizadas 11 embarcações, principalmente lanchas. O Exército empregou ainda 115 viaturas para o transporte de suas tropas por todo o território de Roraima.
Médicos e dentistas do Exército realizaram também mais de 3.400 atendimentos de saúde nas comunidades moradoras das zonas de fronteira. As atividades de cunho social realizadas no ensejo da operação ofereceram ainda corte de cabelo e outros cuidados estéticos a crianças e adultos, além de recreação.
Atenção aos limites amazônicos
Outra Operação Curaretinga ainda deve acontecer no 2017, assim como uma Operação Curare, que é mais abrangente. “Mas não podemos revelar o período em que essas ações estão planejadas, porque isso compromete a eficácia da operação”, disse o Maj Rodrigo Luiz.
A realização de operações com caráter surpresa é portanto uma decisão estratégica do CMA. “Atualmente, tais ações [operações nas fronteiras] são planejadas para serem realizadas em períodos curtos, de forma inopinada, com grande apoio de atividades de inteligência, e, sempre que possível, com apoio dos órgãos de segurança pública e de agências governamentais”, afirmou o General de Brigada Antônio Manoel de Barros, comandante do Centro de Operações do CMA.
Com essas características, ocorreram no 2017 a Operação Abraço e a Operação Relâmpago. A primeira, realizada por cerca de 50 militares do 61º Batalhão de Infantaria de Selva (61º BIS) empregou, de forma simultânea, tropas do CMA e do Comando Militar do Oeste, para realizar uma ampla vigilância em toda a região de fronteira com a Bolívia e com o Peru. Essa operação compreendeu o período de 15 a 24 de fevereiro, quando foi deflagrada a Operação Relâmpago, ainda sem previsão para terminar.
A Operação Relâmpago conta com 70 militares do 61º BIS concentrados exclusivamente na fronteira com o Peru. “As operações justificam-se pelo fato de a região da fronteira do Brasil, abrangida pelos estados de Rondônia e do Acre, ser reconhecidamente utilizada como rota para o tráfico internacional de drogas, ilícito que, se não combatido adequadamente, redunda em problemas de segurança pública nos grandes centros urbanos do país e no exterior”, ressaltou o Gen Brig Barros. Rondônia e Acre fazem fronteira com a Bolívia e o Peru, respectivamente. A intenção do CMA “é a de intensificar ações com estas características, com o objetivo de aumentar a eficiência e a eficácia das atuações, restringindo a liberdade de ação de organizações criminosas que atuam na área”, afirmou.
O CMA tem como responsabilidade uma área de 9.762 quilômetros de fronteira com cinco países: Bolívia, Peru, Colômbia, Venezuela e Guiana. Para realizar a segurança dessa região, a unidade conta com cerca de 20 mil homens e mulheres, organizados em quatro Brigadas, seis Batalhões, uma Companhia Especial de Fronteira e 23 Pelotões Especiais de Fronteira, dos quais seis ficam no estado de Roraima, onde ocorreu a Curaretinga.
As operações complementam a atuação dos pelotões nas fronteiras, que atuam 24 horas por dia, todos os dias do ano, visando principalmente ao combate dos crimes transnacionais.
FONTE: Diálogo Américas