A unidade DQBRN (Defesa Química, Biológica, Radiológica e Nuclear) do Exército Brasileiro (EB) tem desempenhado papel crucial na garantia da segurança dos grandes eventos realizados no Brasil nas últimas duas décadas. Desde eventos desportivos internacionais, como a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos, até conferências e visitas de líderes mundiais, a DQBRN tem participado activamente no planeamento, coordenação e implementação de medidas de defesa QBRN, proporcionando experiências e lições valiosas.
CBNW – Você poderia descrever sua experiência em atividades de defesa química, biológica, radiológica e nuclear (QBRN) no Exército Brasileiro (EB)?
Também é importante destacar a participação nos grandes eventos que aconteceram no Brasil de 2012 a 2016. Nestes eventos, integrei a equipe de planejamento e coordenação do DQBRN na RIO+20 (2012); Copa das Confederações FIFA (2013); Jornada Mundial da Juventude (2013) e Jogos Olímpicos Rio-2016; e membro da equipe de planejamento do DQBRN para a Copa do Mundo (2014). Por fim, tive a oportunidade de apresentar o tema em eventos nacionais e internacionais e ser instrutor de cursos da Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ).
CBNW – Em quais Grandes Eventos o QBRN do Exército Brasileiro foi utilizado nos últimos 20 anos? Na sua opinião, quais foram as principais lições aprendidas?
Cel Alexandre – Nos últimos vinte anos, a DQBRN do EB tem sido utilizada em diversos Eventos de Alta Visibilidade, entre os quais podemos citar: Jogos Pan-Americanos de 2007; V Jogos Mundiais Militares 2011; Conferência para o Desenvolvimento Sustentável (RIO+20) – 2012; Copa das Confederações 2013; Jornada Mundial da Juventude 2013; Copa do Mundo 2014; Visita do Papa ao Paraguai (2015); Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2016; e, mais recentemente, a operação COVID-19.
Como consequência da participação das Organizações Militares do DQBRN em Grandes Eventos, podem ser mencionadas as seguintes lições aprendidas:
- A existência de um coordenador único para as ações do DQBRN é essencial para o sucesso da missão. Nos eventos descritos, o Exército Brasileiro foi o coordenador do uso das frações DQBRN.
- A formação do pessoal deve começar o mais cedo possível para permitir uma formação adequada e uma padronização de procedimentos.
- O reconhecimento detalhado das instalações deverá ser realizado o mais breve possível e repetido nas semanas anteriores ao evento, devido a alterações estruturais.
- Os protocolos QBRN devem ser estabelecidos com antecedência suficiente para permitir a divulgação e a formação entre as diversas agências.
- A mobilidade em todo o território nacional, por via terrestre ou aérea, é essencial para a utilização das frações QBRN.
- A aquisição de equipamentos especializados deverá ser realizada através de trabalho conjunto entre engenheiros militares e integrantes das Organizações Militares do DQBRN.
- Os exercícios simulados durante a fase de preparação foram essenciais para a integração de todos os órgãos previstos para as ações previstas.
CBNW – Como o Exército Brasileiro utilizou sua estrutura QBRN nas ações de enfrentamento à pandemia da COVID-19?
Cel Alexandre – Doutrinariamente, as atividades QBRN do EB estão divididas em três eixos integrados por meio de ferramentas de comando e controle: reconhecimento e vigilância, proteção QBRN e descontaminação.
A referida divisão foi formulada com base nas lições aprendidas com a utilização do DQBRN em Eventos de Alta Visibilidade (ocorridos no período 2007-2016), no conhecimento adquirido em intercâmbios com nações amigas e/ou eventos internacionais (como o NCT) e em as observações de militares brasileiros que realizaram cursos no Brasil e no exterior.
Em 2020, com o aumento do número de brasileiros infectados pelo coronavírus e a declaração de pandemia estabelecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o Congresso Nacional reconheceu o estado de calamidade pública no Brasil. Consequentemente, o Governo Federal solicitou ao Ministério da Defesa (MD) atuação na coordenação e planejamento do emprego das Forças Armadas no combate à pandemia no território nacional.
Após análise dos dados existentes, o MD acionou o Centro de Operações Conjuntas, em BRASÍLIA-DF, para atuar na coordenação e planejamento do emprego das Forças Armadas no evento.
Nesse contexto, a estrutura dedicada a QBRN do Exército Brasileiro realizou, entre outras, as seguintes ações, em conformidade com a doutrina apresentada anteriormente:
- Reconhecimento e vigilância QBRN: assessoria técnico-científica na utilização de câmeras termográficas para controle de pessoal; acompanhamento da evolução da pandemia no país e reconhecimento pela utilização de frações QBRN.
- Proteção QBRN: produção de máscaras de proteção e álcool gel; análise de testes para identificação da COVID-19 em indivíduos e capacitação de membros de diversas Instituições e Organizações Civis no uso de equipamentos de proteção individual.
- Descontaminação QBRN: descontaminação de locais públicos, meios de transporte, hospitais, aeroportos e rodoviárias em diversas partes do Brasil; estabelecimento de protocolos de uso de substâncias descontaminantes e procedimentos de descontaminação e treinamento de equipes de diferentes cidades do Brasil para realizar a descontaminação.
Por fim, percebe-se que o legado do DQBRN adquirido nos últimos vinte anos, aliado ao constante treinamento e qualificação dos integrantes da Força Terrestre, permitiu ao EB contribuir com o esforço nacional de apoio à sociedade brasileira daquele momento. de unidade face à pandemia da COVID-19.
CBNW – Quais foram os principais avanços no campo QBRN no Exército Brasileiro após esses grandes acontecimentos?
Cel Alexandre – Conforme descrito nas questões anteriores, observou-se que as frações de defesa Química, Biológica, Radiológica e Nuclear do Exército Brasileiro realizam, entre outras, ações de reconhecimento e identificação, descontaminação e proteção contra possível ameaça envolvendo agentes QBRN.
Ressalte-se que, nos últimos vinte anos, essas atividades foram constantemente postas em prática em eventos de grande visibilidade ocorridos no Brasil, em coordenação com diversas instituições civis e militares federais, estaduais e municipais.
Como principais avanços do DQBRN do EB podemos citar:
- Reestruturação do Sistema EB CBRN, utilizando lições aprendidas.
- Redimensionamento das frações DQBRN para apoio ao EB e à sociedade.
- Aprimoramento da doutrina vigente utilizando as melhores práticas nacionais e o conhecimento adquirido em atividades internacionais.
Para finalizar, gostaria de mencionar a importância de eventos internacionais como o NCT South America, que permitem a troca de experiências entre especialistas, o contato com equipamentos de última geração e grupos de treinamento. Dessa forma, o NCT constitui uma importante ferramenta para o constante desenvolvimento do DCBRN do Exército Brasileiro.
O Coronel Alexandre Vasconcelos é graduado pelo Curso de Artilharia de Campanha da Academia do Exército Brasileiro (1994), pelo Curso NBQR do Exército Brasileiro, pelo Curso de Comando e Controle de Operações de Defesa da NBQR e pelo Curso de Comando e Estado-Maior da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército Brasileiro. Atualmente é Comandante do Primeiro Batalhão de Defesa da NBQR do EB.