Por Julieta Pelcastre
Pela segunda vez desde sua criação, as forças militares do Paraguai recebem os melhores soldados do continente americano, que competem para obter um dos troféus militares mais prestigiados do hemisfério ocidental: Fuerzas Comando. Esse é um exercício militar realizado anualmente desde 2004 entre as forças especiais das nações parceiras americanas. Em 2017, o lema da competição é “A força que nos une”.
Cerca de 500 participantes entre militares, policiais, agentes especiais e pessoal civil de 20 países dedicam seus melhores esforços nas provas desenvolvidas em diferentes unidades militares do Exército do Paraguai, como a Escola de Infantaria (em Vista Alegre), as instalações de Tropas Especiais (no estado de Presidente Hayes) e o Comando de Artilharia (no estado de Paraguarí), de 17 a 26 de julho. O Paraguai organizou o Fuerzas Comando pela primeira vez em 2006.
Essa competição é realizada sob os auspícios do Comando Sul dos EUA (SOUTHCOM) e executada pelo Comando de Operações Especiais Sul do Exército dos EUA (SOCSOUTH, por sua sigla em inglês) e promove as relações entre militares, aumenta a interoperabilidade e melhora a segurança regional. “Graças à excelente coordenação e ao trabalho conjunto entre nossas instituições armadas e o SOCSOUTH, as forças armadas parceiras intervêm em uma competição de exigentes destrezas militares que fortalecem a preparação das forças especiais no combate ao crime organizado trasnacional, ao terrorismo e a todos os delitos que têm conexão entre si”, disse à Diálogo o General-de-Brigada do Exército do Paraguai Héctor Alfredo Limenza Ríos, coordenador geral do Fuerzas Comando 2017.
“A competição permite que as equipes participantes adquiram reconhecimento como forças de elite que representam seu país”, disse à Diálogo o Tenente-Coronel do Exército dos EUA Ángel Martínez, subdiretor de Treinamento e Exercícios do SOCSOUTH e encarregado da delegação norte-americana na competição. “Além disso, adquirem conhecimentos que beneficiam a todos os membros da região ao trabalharem de uma maneira mais integrada para abordar desafios de segurança nacional.”
Nessa ocasião, os comandos da Argentina, de Belize, do Chile, da Colômbia, Costa Rica, de El Salvador, dos EUA, da Guatemala, Guiana, do Haiti, de Honduras, da Jamaica, do México, Panamá, Paraguai, Peru, da República Dominicana, de Trinidad e Tobago e do Uruguai “competem em condições de terreno e ambiente nunca antes apresentadas, incluindo pistas de prova que desafiam os membros de cada equipe com provas físicas, mentais e de trabalho em equipe, do mesmo modo que provas que exigem um alto nível de destreza técnica”, comentou o Ten Cel Martínez. Depois de dois anos, o Brasil voltou a se unir à competição.
Cada comando está composto de quatro membros de um grupo de assalto, dois franco-atiradores e um membro suplente. Os grupos de assalto combinado combatem em provas de aptidão física, confiança, combate, marcha, provas aquáticas e pista de obstáculos. As equipes de franco-atiradores se enfrentam em uma série de provas de pontaria, mobilidade, traslados em zona hostil, simulações de resgate de reféns, obtenção de fotos, provas de estresse e obtenção de distâncias a partir de dados do centro de operações.
A competição militar mais extenuante
Os expoentes das forças especiais se preparam física e mentalmente para realizar as distintas provas estabelecidas pelo SOCSOUTH. “O competidor se apresenta na competição preparado e pronto para executar tarefas em eventos que simulam situações incomuns e inesperadas e em um ambiente desconhecido e de risco”, indicou o Ten Cel Martínez.
“Com o propósito de conseguir os melhores resultados na competição militar mais extenuante, nós nos capacitamos de maneira intensiva e progressiva em técnicas e procedimentos que devem ser seguidos no combate ao terrorismo, ao narcotráfico e às organizações guerrilheiras”, comentou à Diálogo o 1° Tenente Joel Velázquez, instrutor do Curso de Forças Especiais do Exército do Paraguai, que participa do evento amistoso pela terceira vez.
“A prova mais estressante é a marcha de 20 quilômetros de travessia de campo e com uma mochila de aproximadamente 30 quilos, junto com exercícios aquáticos e uma corrida de obstáculos”, disse o 1º Ten Velázquez, ao recordar experiências vividas em torneios anteriores. “Porque não é só a resistência [física] do soldado que é posta à prova, mas também a resistência anímica e psicológica; é necessário muita vontade para terminá-la.”
As tarefas designadas são qualificadas e avaliadas por juízes de cada país participante para garantir uma competição imparcial. Esses árbitros foram competidores em edições anteriores e foram submetidos a tarefas iguais. A série de avaliações terminará com uma prova operacional aerotransportada, também conhecida como o salto da amizade.
Metas com o mínimo de erros
“Em toda competição surge um vencedor. O país que obtiver o troféu Fuerzas Comando não só ganha orgulho e prestígio, mas também a responsabilidade de redobrar os esforços e treinamentos para a próxima competição”, comentou o Gen Bda Limenza. A Colômbia possui o recorde por haver vencido em oito ocasiões as competições militares do continente.
“A competição sempre é saudável; todos ganhamos”, ressaltou o 1º Ten Velázquez. “As provas também permitem aos participantes identificarem como melhorar a colaboração entre si e atingir metas de uma forma mais efetiva e com o mínimo de erros, desenvolvendo assim métodos internos para um desempenho mais eficaz de suas tarefas”, acrescentou o Ten Cel Martínez.
A força que nos une
Além do evento no qual as equipes medem seus conhecimentos e destrezas, altos comandos militares e representantes governamentais dos países competidores desenvolvem um seminário denominado “Programa de Visitantes Renomados” (DVP, por sua sigla em inglês), na cidade de Assunção. Os temas da junta especializada estão voltados para as ações de combate às atuais ameaças transnacionais e transregionais na América, conforme relata o site do Ministério da Defesa Nacional do Paraguai. O programa DVP se concentra em melhorar as relações políticas e militares e a cooperação militar multinacional.
“Além disso, e talvez de valor ainda maior, estão as relações que são estabelecidas e fortalecidas entre os participantes do hemisfério, que compartilham uma meta em comum de estar preparados para proteger a estabilidade e segurança de nosso hemisfério”, disse o Ten Cel Martínez. “Essa é a força que nos une para melhorar a cooperação, a confiança mútua, o treinamento, o nível de engajamento e a capacidade que as forças especiais do continente americano puderem ter, já que os delitos que hoje nos assolam são transnacionais”, acrescentou o Gen Bda Limenza. “O que hoje acontece no Paraguai ou em outra nação parceira também influi em outras partes”, finalizou.
FONTE: Diálogo Americas
COLABOROU: Mateus Barbosa