Defensa.com – Almirante, o senhor já pode falar de uma nova Marinha do Brasil, através de programas como o Prosub, Prosuper, NPaOc (OPV), e a expansão da Aviação Naval?
Comandante da Marinha – Desde de 2008, com a Estratégia Nacional de Defesa (END), o Brasil passou a ter um instrumento legal que suporta as aspirações de revitalização de suas forças armadas. Este esforço destaca a necessidade de transformação e adaptação da força militar para o nível desejado pelo país no contexto internacional. Esta estratégia proporciona o aumento da capacidade de defesa, tendo em conta o efeito dissuasivo para a Defesa Nacional. Para a Marinha do Brasil, é a reconfiguração das forças navais, de acordo com a estratégia brasileira de defesa marítima de acordo com a Estratégia Nacional de Defesa. Uma das prioridades da MB é o de assegurar os meios para negar o uso do mar a qualquer concentração de forças inimigas que se aproximem do Brasil pelo mar. Esse potencial será refletido no aumento da contribuição do país para as operações de manutenção da paz e ações humanitárias, enfatizando a segurança da navegação, a segurança da vida no mar e a prevenção e controle de novas ameaças.
DF – Quais os objetivos perseguidos para o fortalecimento do Poder Naval brasileiro?
CM – A Marinha vai desenvolver o seu potencial para garantir sua eficácia em negar o uso do mar pelo inimigo. Esses recursos, juntamente com a projeção de poder, concentram-se na defesa de plataformas de petróleo, instalações navais, portuárias e os arquipélagos das ilhas oceânicas brasileiras, na prontidão para responder a qualquer ameaça por Estados, forças não-convencionais ou criminosas( pirataria) nas rotas comerciais marítimas, bem como a capacidade para participar em missões de manutenção da paz.
O Brasil terá uma grande força de submarinos composta de submarinos convencionais e de propulsão nuclear e vai desenvolver sua capacidade de projetar construir. Entre os navios para a Esquadra, a Marinha dedicará especial atenção ao projeto e a fabricação de navio aeródromo, escoltas, navios de desembarque anfíbio e logístico. Por sua vez, a projeção de poder será desenvolvida através do Corpo de Fuzileiros Navais (CFN), que deve estabelecer-se como uma força expedicionária de excelência. O fortalecimento do poder no mar em sua totalidade, é crucial para a defesa e a segurança das águas territoriais brasileiras. Ressaltamos a importância da coordenação e modernização da MB, atualmente em andamento, procurando comprar produtos com ênfase no desenvolvimento da base industrial de defesa, visando contribuir para a realização de sua auto-defesa.
“A visão da Marinha isto é, o estado futuro que queremos alcançar, é ter uma força moderna e equilibrada a qual deve ter meios navais, aeronaves modernas e fuzileiros navais, apoiado pela integração política e estratégica do nosso país no cenário internacional e em sintonia com os anseios da sociedade brasileira, estando constantemente pronto para servir no mar e em águas fluviais, de forma individual ou combinada com outras forças, a fim de atender aos objetivos estatutários em sua missão.
Se entende por meios modernos, incluindo os existentes, os que não possuam mais de 20 anos de atividade. Então, devemos nos concentrar em qualidade sobre a quantidade. O equilíbrio significa o desenvolvimento de atividades que garantam a utilização simultânea em ambos os ambientes – oceânico e fluvial. Este equilíbrio refere-se à capacidade de executar, de forma gradual, as quatro tarefas básicas do poder marítimo (negando o uso inimigo do mar, a soberania sobre as áreas de controle marítimo, projetar poder em terra e contribuir para a dissuasão) assim como qualquer operações e atividades de guerra naval.
O emprego de meios navais na Zona Econômica Exclusiva (ZEE) e offshore, envolve a execução de operações e ações de Guerra Naval e de Polícia Marítima. No mar territorial e em águas fluviais, ocorrerão Operações Navais e de Patrulha com Inspeção Naval, a fim de cumprir com o papel da autoridade da Autoridade Marítima.
A transferência para a área de operação de duas unidades e a construção de outros cinco navios de patrulha de 500 toneladas (de um total de 27 unidades), todos em estaleiros brasileiros e a obtenção de três navios de patrulha oceânica de 1.800 toneladas, cerca de estimado um total de 12 (dois deles já incorporados), traduzem as capacidades da Marinha do Brasil na Patrulha Naval e Inspeção, Controle de Tráfego Naval e Missões de Socorro.
Em 2012, houve um aumento de 30% no número de patrulhas navais feitas em águas jurisdicionais brasileiras. Da mesma forma, a Marinha definiu como projetos estratégicos: o Programa Nuclear da Marinha (PNM), a construção do Núcleo do Poder Naval, com destaque para o Programa de Desenvolvimento de Submarinos (Prosub), na obtenção de meios de superfície (PROSUPER), construir mais corvetas da classe Barroso e navios de patrulha de 500 ton, o programa da criação da 2ª frota e da 2ª Força de Fuzileiros da Esquadra no norte/nordeste, a implementação do SisGAAz ( Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul), a recuperação de sua capacidade operacional, bem como um projeto para aumentar o efetivo da tropa.
Pretendemos ter uma força que possa contribuir para a via diplomática, mais atraente, alargando as condições de defesa do Brasil e da dissuasão, constituindo uma importante força naval, com uma contribuição significativa para a nossa sociedade.
DF – O que significa para a Marinha do Brasil o PROSUB no âmbito tecnológico e de conquistas, a partir de uma base científica, militar ou civil (design, energia, etc.)?
CM – O objetivo estratégico do Estado brasileiro de compra não é a tecnologia, mas sim, para desenvolver uma tecnologia nacional. Para alcançar esse objetivo consoante, com a Estratégia Nacional de Defesa, as Forças Armadas buscam mecanismos que possam permitir esse desenvolvimento, sendo um deles, a transferência de tecnologia. Neste sentido, os acordos estratégicos mantidos com a França, país de grande experiência na área e possuidor de tecnologia avançada, com respeito ao PROSUB, tende a encurtar as fases no setor nuclear(submarino movido à energia nuclear), transferindo tecnologias de projeto e construção. Há também um forte interesse da MB, que as empresas francesas transfiram para as empresas nacionais, a capacidade de fabricar importantes equipamentos com desempenho em condições rigorosas e severas como é o caso dos submarinos. O Programa Nuclear da Marinha, desenvolve o reator nuclear e a planta propulsora, enquanto nossos engenheiros navais projetam o submarino nuclear. Sua construção será realizada no Brasil, em um estaleiro da Marinha, operado por uma Sociedade de Propósito Específico formada pela Odebrecht (acionista majoritário), DCNS (acionista minoritário) e uma “golden share”, com poder de veto. Terminado o contrato, caberá a MB decidir sobre o processo de fabricação de submarinos convencionais e nucleares.
DF – Com a chegada de novos helicópteros , do Turbo Trader e Tracker, podemos esperar que a MB irá abrir novas bases aeronavais? Se positivo, onde seria localizada?
Os aviões C-1A Trader, recentemente adquiridos nos EUA, serão modernizados para realizar missões de COD (“Carrier-on-Board Delivery”) e AAR (“Air-to-Air Refueling” – Reabastecimento), ambos desde o NAe São Paulo. Serão baseados na Base Aeronaval de São Pedro D’Aldeia, próximos a nossa Esquadra. No futuro, este também será o local do aviões S-2 Tracker, que serão modernizados para missões AEW (Alerta Aéreo Antecipado), a partir do NAe São Paulo. Com a chegada de novos helicópteros, estudamos a criação de esquadrões em Belém, Manaus e Florianópolis, subordinados aos 4º, 5º e 9º Distritos Navais, respectivamente.
DF – O que poderíamos dizer sobre o futuro local onde será a Segunda Frota da Marinha do Brasil?
CM – A Estratégia Nacional de Defesa estabeleceu que a Marinha deve priorizar a necessidade de construir uma frota no norte/nordeste do país, o mais próximo da foz do rio Amazonas. Para apoiar as aeronaves que operarão com os meios de superfície da 2ª Esquadra, com as unidades de Fuzileiros Navais da 2ª Força de Fuzileiros da Esquadra, será criada a Base Aeronaval da 2ª Esquadra, que será a principal Organização Militar (OM) de Apoio Logístico para aeronaves de asa fixa e o rotativa no Corredor de Manutenção Norte, sendo responsável em manter em 2º e 3º Nivel, as aeronaves da 2ª Esquadra e dos esquadrões regionais do 3º, 4º e 9º Distritos Navais.
Para o apoio, abastecimento e serviços administrativos-financeiros as Organizações Militares a serem instaladas no futuro Complexo Naval da 2ª Esquadra, se criará a Base de Abastecimento da 2ª Equadra da Marinha, sendo sua futura Base Naval, sua principal Organização Militar de Apoio Logístico e sua sede.
Para atender tal estratégia, a Marinha analisou diversas áreas que poderiam acomodar a Esquadra. O estudo ja foi submetido ao Ministério da Defesa e está previsto sua apresentação a Presidente da República. Para implementar o projeto, depois de determinada a sua localização, acreditamos que o primeiro passo seja o reconhecimento por agências governamentais federais, estaduais e municipal, a natureza estratégica deste projeto. Ao mesmo tempo será necessário promover parcerias com empresas privadas para catalisar recursos para a implementação, no prazo máximo de 10 anos. Assim, o projeto será associado com o aumento do nosso limite orçamentário, que tende a garantir a conclusão de um dos programas prioritários estabelecidos no final.
DF – A descoberta de petróleo e gás na costa do mar, apresenta grandes desafios ambientais à Marinha ?
CM – O petróleo e gás em águas jurisdicionais brasileiras traz grandes desafios ambientais, não só para a Autoridade Marítima, mas também para muitos outros órgãos governamentais. O Brasil vem trabalhando sob a coordenação do Ministério do Meio Ambiente e com a ajuda da Marinha, do Ministério das Fazenda, do Ministério dos Transportes, do Ministério de Minas e Energia, do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, do Ministério das Comunicações, da Defesa Civil Nacional, aa Agência Nacional do Petróleo, do Instituto Ambiental do Ibama e da Petrobras na elaboração de um Plano Nacional de Contingência, que visa estabelecer um quadro nacional que permita a coordenação de ações para facilitar e melhorar a capacidade de resposta no combate a incidentes de poluição por óleo, afetando as águas ou interesses países vizinhos, a fim de minimizar os danos ao meio ambiente, devendo estabelecer um conjunto de ações a serem tomadas em caso de incidente de poluição marítima ou fluvial, com responsabilidade compartilhada por todos os componentes de sua estrutura organizacional.
DF – Quais são as atuais capacidades industriais e tecnológicas da Marinha, especialmente na prestação de serviços à terceiros pela Emgepron?
CM – A Empresa de Gerenciamento de Projetos Navais (Emgepron) age sobre o projeto de integração de gestão de nacionalização, marketing e sistemas navais, desenvolvido pelo Instituto de Pesquisa da Marinha (IPqM), pelo Centro de Análise de Sistemas Navais (CASNAV) e do Centro de Tecnologia Marinha em São Paulo (CTMSP). Entre os produtos fornecidos pela Emgepron e garantido pela Marinha do Brasil estão:
-Sistemas Criptográficos
-Sistemas de Controle Tático
-Sistemas de Monitoramento e Controle de Danos
-Equipamentos de Contramedidas Eletrônicas
-Sistemas de lançamento de despistadores de mísseis
-Equipamentos de Medidas de Apoio a Guerra Eletrônica
-Sistemas de apoio SAR
-Sistemas de Simulação e Treinamento Tático
-Sistemas de Simulador de Guerra Naval
-Sistemas de Controle e Monitoramento
-Módulo de Enlace Automático de Dados
-Sonar
-Transdutores
-Revestimento Absorvente de Microondas
Todos estes sistemas e equipamentos são desenvolvidos com tecnologia moderna e de acordo com as normas militares de qualidade internacional, especialmente pela alta confiabilidade, desempenho, facilidade de operação e manutenção, sendo empregado pela Marinha do Brasil e vários clientes no exterior.
DF – No âmbito fluvial, a Marinha receberá novas lanchas Cotecmar . Continuam as negociações pelo CB-90 e sua nova série LAR (Lancha de Ação Rápida) com modelos para diferentes tarefas? Isso reflete uma vontade? Padronizar ou se especializar cada setor (transporte, interceptação, etc.)?
CM – Incorporando essas lanchas da COTECMAR, o Brasil está reconhecendo o desenvolvimento e as capacidades da indústria de defesa da Colômbia, e representa um passo na direção da consolidação de uma base de defesa industrial forte na América do Sul e no intercâmbio e transferência de tecnologia entre os países. Essas lanchas atendem a utilização tática de combate, controle de vigilância, apoio de fogo nas fronteiras através da MB e do Exército Brasileiro (EB ), aumentando o uso da plataforma de rio para as duas forças na região da Amazônia, na região central e na região de fronteira com o Paraguai e Bolívia, o que permite uma nova prática na mobilização impedimentos para o Brasil. “
DF – Qual é a importância atual do Batalhões de Operações Ribeirinhas dos Fuzileiros Navais no complexo da fronteira Norte e Oeste do Brasil e que crescimento deveria, ou seria desejável ter no futuro próximo? Os fuzileiros deveriam ser (ou seria necessário no atual quadro geopolítico …) a face mais visível da Marinha na chamada Amazônia Legal, perto das Ações Cívico Sociais (ACISO), especialmente a saúde?
CM – De acordo com a Estratégia Nacional de Defesa, a Marinha deve ser organizada sob a égide do trinômio, monitoramento/controle, mobilidade e presença, para ser capaz de responder rapidamente a qualquer ameaça ou agressão. Nossas tropas devem ser reposicionados para se tornar mais presente na bacia e na foz do Amazonas, e aumentar a sua dotação em rios Paraguai e Paraná. Para garantir a capacidade de projetar poder, temos fuzileiros navais em condição permanente de emprego rápido. A existência destes meios também é essencial para a defesa naval e de instalações portuárias, bem como as ilhas oceânicas e as ilhas situadas em águas jurisdicionais brasileiras, ou para agir em operações internacionais de paz e intervenções humanitárias. Nas águas fluviais, estes serão fundamentais para garantir um controle eficaz das margens de córregos, ao realizar qualquer operação de ribeirinha. O Corpo de Fuzileiros Navais é uma força expedicionária por excelência.
Os Batalhões de Operações Ribeirinhas (BtlOpRib) representam a principal contribuição de Fuzileiros Navais para a presença da Marinha na Amazônia e nas fronteiras norte e oeste, fazendo dissuasão ante a possíveis forças hostis nas fronteiras terrestres ou nas nossas águas. Posicionado nos canais dos rios, ou pontos como mais importante e sensível ponto de vista estratégico, o BtlOpRib terá um papel de liderança na condução das operações , fornecendo monitoramento e controle das margens e hidrovias estratégicos pela Marinha.
Dentro do projeto de construção do Projeto Estratégico de Construção do Poder Naval, a Marinha implementa ações para obter a ampliação de sua capacidade operacional, com uma articulação planejada , composta pela reestruturação, ampliação e criação de Organizações Militares de Fuzileiros Navais. Entre elas se destacam: a criação de um Batalhão de Operações Ribeirinhas em Tabatinga e do Comando de Tropa de Desembarque Ribeirinho em Manaus (ambos no estado do Amazonas), a transformação da Associação de Fuzileiros Naval de Belém (Pará) em Batalhão operações ribeirinhas, semelhante ao que acontece com a Associação de Fuzileiros Naval Ladário (Mato Grosso do Sul), que também se torna Batalhão de Operações Ribeirinhas.
Tais iniciativas no domínio do Corpo de Fuzileiros Navais (CFN), em conjunto com o presença de forças navais e militares pertencentes ao distrito, expandiram a capacidade da Marinha para cumprir deveres subsidiários, que contribuem para o desenvolvimento nacional e a defesa civil, através de missões de assistência chamadas de (ACISO) e ações de atendimento hospitalar (ASSHOP). Atualmente são realizadas inúmeras comissões de ASSHOP e ACISO, realizadas por milhares de médicos e dentistas em locais variados. Na Amazônia, Navios de Assistência Hospitalar da Marinha do Brasil são conhecidos como “Navios da Esperança”, representando uma oportunidade para os brasileiros que vivem lá, de receber cuidados de saúde adequados. Além de representar a presença do Estado em regiões cujas populações vivem em isolamento e falta de cuidados de saúde regulares, fortalecendo a defesa dos interesses brasileiros nas margens e hidrovias”.
DF – Quais seriam os pontos de destaque para a nova frota hidrográfica e qual a importância de continuar o mapeamento da bacia amazônica no contexto atual? Há expectativas de que a natureza e a riqueza destes cursos de água ainda pode fornecer alguma surpresa científica?
CM – A Marinha incorporou dois avisos hidrográficos fluviais (navios de pequeno porte), que serão usados para produzir cartas náuticas na chamada Amazônia Legal. Com esta ação, 1.8 milhões de quilômetros quadrados terão informação cartográfica em escalas maores. Isto significa que os dados sobre os rios menores do país se atualizarão.
Esta ação é parte do Projeto de Mapeamento da Amazônia, que tem como objetivo principal de preencher a lacuna no mapeamento dos estados do Amapá, Amazonas, parte do Acre, Maranhão, Mato Grosso, Pará e Roraima – as áreas que correspondem a Amazônia Legal. Os resultados contribuíram para a construção de barragens,estradas, ferrovias e gasodutos, bem como o aumento da segurança da navegação e a geração de dados para a vigilância e defesa dessa região.
Segundo a Divisão de Cartografia e Mapeamento Aéreo (DICA) do Ministério da Defesa, a Marinha não tem meios com esta capacidade e facilidade de manobra em trechos longos dos rios da Amazônia. A construção destes meios estão inseridas no Projeto de Mapeamento da Amazônia, em colaboração com o Exército Brasileiro (EB), com a Força Aérea Brasileira (FAB) e e do Serviço Geológico do Brasil, e coordenado pelo Centro de Operações e Gestão de Operações e Sistema de Proteção da Amazônia sob o Ministério da Defesa.
Este projeto tem como tarefa principal: realizar estudos hidroceanográficos, para atualização de cartas e publicações náuticas necessárias para atingir os objectivos de segurança inerentes à navegação: contribuindo para a formação e treinamento de pessoal; executar ações com base presença necessidades da política externa brasileira, realizar coleta de dados ambientais em apoio ao planejamento e execução de operações ribeirinhas, e executar, de forma limitada, e ajudar a obter informações operacionais em apoio a órgãos governamentais, de defesa civil e a preservação de ações cívico-sociais.
Os Avisos são navios de pequeno porte projetados para realizar pesquisas hidroceanográficas na bacia amazônica. Por causa de seu tamanho, pode viajar em temporadas de maré cheia ou vazante. Eles têm sensores que medem com batimetria, a profundidade do local.Os barcos possuem 25 metros de comprimento, navegam a uma velocidade máxima de 10 nós (equivalente a quase 19 quilômetros por hora) com autonomia de dez dias. Eles têm uma tripulação de dois oficiais e oito marinheiros e tem um deslocamento carregado de mais de 140 toneladas. Eles são equipados com laboratórios secos e depósito oceanográfico. Atualmente a Marinha do Brasil possui 2 Avisos Hidroceanográficos, (“Rio Tocantins” e “Xingu”), ambos recebidos em 2012. Os dois navios foram construídos pelo estaleiro INACE, que está completando mais dois, com entrega prevista para final de 2013. “
DF – Que programas a Marinha mantém atualmente frente a imensa responsabilidade SAR do Brasil no Atlântico? Que entendimentos e acordos podem existir com os países e territórios vizinhos (Guiana Francesa, Uruguai, Cabo Verde, etc.)?
CM – A atenção às pessoas e embarcações em perigo no mar e por vias navegáveis fluviais é realizada pelo Serviço de Busca e Salvamento (SAR) Marítimo SALVAMAR BRASIL, pela nossa Marinha. A região SAR marítima, sob a responsabilidade do Brasil, cobre todo o litoral brasileiro, que se estende até ao meridiano de 10 º W, ou seja, uma parte significativa do Atlântico Sul. Os meios utilizados na prestação de socorro naval e resgate aéreo estão subordinados a diferentes distritos navais que tem cumprido plenamente a demanda. Para este efeito, você também pode usar navios da Esquadra, de acordo com as circunstâncias. Com o objetivo de aumentar a consciência situacional marítima, foi estabelecido um Centro de Dados Regional (CDRL-Brasil), que permite o rastreamento de informações “Identificação e Seguimento de Longo Alcance” (LRIT) de navios no âmbito de aplicação das zonas de responsabilidade SAR e SAR de outros países que aderem à esquema. A Marinha convidou outros países da América do Sul e África Ocidental para participar do CDRL-Brasil. Além disso, o Brasil propôs, em recente reunião ministerial dos países membros da Zona de Paz e Cooperação do Atlântico Sul (ZOPACAS) iniciativas onde oferece experiência de participação do Brasil na formação em salvamento marítimo e salvamento (SAR) e centros de vigilância marítima através do uso de tecnologia. LRIT “
DF – Como tem sido até agora, as lições aprendidas e os desafios enfrentados pelo contingente naval brasileiro na MINUSTAH e UNIFIL?
CM – O envolvimento militar da Marinha do Brasil na UNIFIL e na MINUSTAH, contribui de forma significativa para o acúmulo de experiências e procedimentos, dificilmente de ser obtidos com simulações de combate. Este conhecimento obtido é gravado e adicionado nas necessidades de formação, permitindo a melhoria contínua da preparação de cada contingente naval participante de missões. Este envolvimento militar, é uma oportunidade única para o exercício de interoperabilidade com outros contingentes nacionais e intercâmbios com outros países, permitindo a avaliação dos aspectos humanos e operacional dos serviços, bem como a diversificação de conhecimento sobre armas, equipamentos e equipes de diferentes tecnologias, a fim de obter valiosas fontes de conhecimento para a preparação e execução do poder marítimo.
O fato de que a Marinha tem navios, aeronaves e fuzileiros em plena condição de mobilização e emprego, permite uma resposta adequada a qualquer deterioração na missão de manutenção da paz (ou a retirada das tropas de reforço) e, também, como no Haiti, prestando ajuda humanitária em caso de desastres naturais ou quando solicitado pela nação amiga. Após o terremoto de janeiro de 2010, a Marinha do Brasil, em um semestre, enviou dois navios (duas viagens para cada um), transportando materiais navais e do Exército Brasileiro, reforçando o que já estava implantado no país.
A Base de Fuzileiros Navais no Haiti “Acadêmica Rachel de Queiroz” (BFNHARQ), é considerada pela ONU, um modelo básico, por suas excelentes instalações e conforto das tropas. No Líbano, podemos dizer que a chegada da Nau Capitânea, deu uma nova dimensão à participação brasileira na missão, tendo em conta o impacto positivo na UNIFIL e os meios de comunicação locais, além disso, o aumento da capacidade operacional da Força Tarefa Marítima (MTF), com um navio maior e, portanto, mais recursos em termos de permanência no mar, sensores e sistemas de armas.
As conquistas da Marinha na MINUSTAH e na UNIFIL são baseadas em treinamento intenso e de alto nível. A motivação e o “modus operandi” de nossos soldados e marinheiros, combinado com um alto padrão de qualidade e apresentação em nossos meios de comunicação, permitiram a construção positiva do nome e imagem da Marinha com mídia nacional e internacional, e com a população nos países de acolhimento. Estas características dos nossos militares, e o reconhecimento externo, contribuem significativamente para o cumprimento da missão recebida.
DF – Ter encomendado mais corvetas da classe Barroso, pode, além de oportunidade industrial, ser uma espécie de alternativa de transição ante a desaceleração do PROSUPER ?
CM – A construção de corvetas classe Barroso modernizada, contribui para equipar a Marinha, de acordo com os preceitos da Estratégia Nacional de Defesa, promovendo a industria naval brasileira através da recuperação da capacidade dos estaleiros nacionais e aumentar o desenvolvimento científico, intelectual e tecnológico da base industrial de defesa, com um potencial de gerar mais de 250 empregos diretos e 1.000 empregos indiretos. O PROSUPER ainda está no processo de implementação.
DF -A crise europeia torna disponível para o Brasil, equipamento naval e aeronaval, impensáveis anos atrás. Isso pode mudar ou pelo menos trazer um tom diferente no programa naval brasileiro?
CM – Na verdade , a grande maioria dos países estão tratando de desenvolver uma industria de defesa privada, deixando para o governo, o incentivo e o estimulo, principalmente pelas encomendas garantidas, a única maneira de assegurar uma continuidade com este processo. A tecnologia não se compra, se desenvolve.Como eu disse, o objetivo estratégico do Estado brasileiro não é comprar a tecnologia, mas sim, desenvolver uma tecnologia nacional. Para conseguir isso, as forças armadas procuram criar mecanismos viáveis para o seu desenvolvimento, uma das quais, a transferência de tecnologia. Ao abordar as tendências globais na indústria de defesa, devemos mencionar o esforço nacional relevante, consubstanciado nas diretrizes da Estratégia Nacional de Defesa, que prevê o aumento da capacidade da Base Industrial de Defesa, tendo em conta a característica eminentemente dissuasória da nossa política de defesa. Aumentar essa capacidade também vai resultar no aumento de nosso potencial em contribuir para a manutenção da paz e garantir a assistência humanitária a outros países em caso de desastre.
Entrevista concedida ao repórter do defensa.com, Javier Bonilla.
TRADUÇÃO E ADAPTAÇÃO: Defesa Aérea & Naval