DAN entrevista o Coordenador do Programa de Reaparelhamento da Marinha – 1ª parte

Por entenderem ser o Defesa Aérea & Naval- DAN, uma fonte crível, os leitores do DAN frequentemente nos enviam e-mails com diferentes questionamentos sobre a Marinha do Brasil. Como ela está se preparando para o futuro? Que meios ela visa adquirir? Que armamentos irá utilizar? Moderniza ou não moderniza o NAe São Paulo? E por ai vai.

Evidentemente não temos como responder a todas as perguntas, assim, o DAN solicitou uma entrevista com o Contra-Almirante Alexandre Rabello de Faria, Coordenador do Programa de Reaparelhamento da Marinha – PRM, subordinado à Diretoria-Geral do Material da Marinha, para tentar aplacar as dúvidas de nossos impávidos leitores.

O CA Rabello gentilmente nos recebeu em seu gabinete e após explicarmos a razão de nossa solicitação, nos concedeu a entrevista. Por ser um assunto extenso, dividimos a entrevista em 2 partes. Acompanhem e tirem suas dúvidas!

PAEMB

DAN – Ainda no governo Lula a MB apresentou seu PAEMB. O que foi efetivamente iniciado/está em andamento/foi concluído?

CA Rabello – O PAEMB é um planejamento de necessidades, subsidiado pela Marinha do Brasil ao Ministério da Defesa, para a montagem do PAED. A aprovação do PAED é elemento condicionante para a revisão e decorrente vigência do PAEMB.

A MB busca cumprir o Programa de Reaparelhamento da Marinha (PRM), o qual abrange a renovação dos meios navais, aeronavais e de fuzileiros navais. Os temas afetos aos meios navais e aeronavais são tratados no âmbito do Setor do Material e os afetos aos meios de fuzileiros navais são tratados no âmbito do Comando-Geral do Corpo de Fuzileiros Navais.

Em relação aos meios navais, as seguintes metas foram concluídas:

a) Obtenção por construção de:

NhoFlu Rio Branco (H 10)

b) Obtenção por compra de oportunidade:

NDM Bahia na área marítima de Toulon, durante o embarque de EDVMs e EDCG.

As seguintes obtenções estão em andamento:

a) Fase de execução:

b) Fase de concepção:

NPaOc-Engeprom

Em relação aos meios aeronavais, os seguintes projetos estão em andamento:

Os seguintes projetos estão em fase de estudos exploratórios preliminares:

SARP – FT-100

DAN – Com as restrições orçamentárias vigentes, o que a MB priorizou para continuar recebendo recursos e o que teve seu cronograma postergado?

CA Rabello – As restrições orçamentárias obrigaram a MB a renegociar os contratos vigentes, de modo a adequá-los à realidade orçamentária atual e às perspectivas de orçamento futuro da Força. Tal ação permitiu a manutenção de todos os contratos vigentes, com a adequação de escopo e prazos de execução.

DAN – Foi feita uma atualização do PAEMB? Se sim, o senhor poderia nos atualizar sobre ele?

CA Rabello – A atualização do PAEMB foi realizada pelo Estado-Maior da Armada, em 2013. Trata-se de um documento sigiloso e de divulgação restrita.

DAN – Não seria interessante para a MB divulgar o novo PAEMB, para mostrar ao mercado, quais são as reais necessidades da Marinha, nos dias atuais e para o futuro?

CA Rabello – As necessidades da Força, consideradas exequíveis, foram divulgadas. No momento, os programas prioritários da Marinha são:

DAN – O senhor acredita que com o PAEMB atualizado, e divulgado, os empresários teriam mais confiança em investir nas parcerias para a produção de meios localmente com alto índice de nacionalização?

CA Rabello – Obedecendo às diretrizes de alto nível no âmbito da Defesa, os processos de obtenção da Marinha guardam estreita relação com o desenvolvimento tecnológico e industrial do Brasil. Entendo que a divulgação das necessidades da MB, desvinculados de previsões de custeio factíveis, acaba por gerar expectativas desnecessárias no mercado.

DAN – Desenvolver e produzir tecnologia própria exige continuidade de demanda o que não é o caso da BID Brasileira. O estabelecimento de empresas estrangeiras no Brasil sob as leis nacionais, tal como previsto nos marcos legais brasileiros, é uma ação facilitadora ou não?

CA Rabello – Entendo que sim, pois vai ao encontro das políticas de desenvolvimento do país e de fomento da base industrial de defesa.

NPa Classe Macaé

NPa Maracanã

DAN – Ante a falência do Estaleiro EISA, qual a situação dos cascos que estavam em construção?

CA Rabello – Inicialmente, releva ressaltar que o EISA não se encontra em processo de falência, mas de Recuperação Judicial. Independentemente disso, por força de sucessivos atrasos na obra, o contrato de construção dos NPa-500 foi rescindido.

Atualmente, em decorrência da rescisão, está em execução a perícia técnica e contábil visando a apuração de haveres e deveres pertinentes ao Processo Administrativo de Execução da Rescisão Contratual, após o qual, a Alta Administração Naval decidirá sobre os cascos que se encontram parcialmente construídos no estaleiro.

DAN – O NPa Maracanã estava “quase” pronto, mas nunca ficou, os outros dois que o estaleiro começou, qual o percentual construído deles atualmente?

CA Rabello – Os percentuais aproximados dos quatro navios cuja construção foi iniciada pelo estaleiro são:

DAN – É verdadeira a informação de que os motores adquiridos pela MB para essas unidades foram arrestados para pagamento dos funcionários do estaleiro? Se sim, qual o caminho a MB terá que buscar para recupera-los?

CA Rabello – A afirmação não é verdadeira. A MB retomou a posse de todos os equipamentos por ela adquiridos, incluindo motores, geradores e quadros elétricos principais e auxiliares, exceto aqueles que já se encontravam embarcados no futuro NPa Maracanã.

DAN – É evidente que a MB teve um prejuízo enorme neste programa. O que pode ser feito para amenizar o prejuízo financeiro e operacional?

CA Rabello – O prejuízo da MB no contrato com o Estaleiro, caso exista, somente será mensurado ao término da Apuração de Haveres e Deveres pertinentes ao Processo Administrativo de Execução da Rescisão Contratual. Somente após essa Apuração é que serão avaliadas as opções que melhor atenderão à MB para concluir o programa.

DAN – Como está sendo planejada a continuação dos navios? Anteriormente, em todas as vezes, o AMRJ resolveu o problema. Seria possível hoje? Isso pode acelerar uma recuperação do AMRJ por estaleiro privado?

CA Rabello – A MB somente poderá decidir sobre a retomada da construção desses navios após o término do Processo Administrativo de Execução da Rescisão Contratual, ora em curso. Entretanto é significativo comentar que a mera menção à possibilidade do AMRJ terminar a construção dos navios evidencia a importância da Marinha ter seu principal estaleiro de construção e reparo devidamente atualizado tecnologicamente.

DAN – A MB seguirá com o programa do NPa 500 ou a Marinha vai realmente substituir estes navios pelo projeto do CPN? O senhor poderia nos esclarecer a respeito?

CA Rabello – O CPN desenvolve um projeto de Navio-Patrulha de 500 ton, ainda não concluso. Os estudos de exequibilidade respaldarão a decisão da MB sobre a escolha do projeto a ser seguido.

Modernização/Atualização/Construção de NPaOc classe Amazonas

DAN – O NPaOc Amazonas esta sem seu radar há mais de 1 ano. O que aconteceu?

CA Rabello – Foram levantadas as possibilidades de reparo do radar, cuja decisão sobre a escolha da alternativa e o custeio é do âmbito do Setor Operativo da MB.

DAN – A MB estuda a troca do radar 2D Scanter 4100, por um mais moderno? As atuais ameaças (assimétricas) poderiam recomendar a instalação de radar com mais capacidades militares?

CA Rabello – O radar Terma Scanter 4100 é um equipamento moderno, empregado para busca aérea e de superfície. As alternativas de substituição do radar apresentam, como desvantagem, o elevado custo.

DAN – Se sim, quais seriam as opções que a MB está estudando?

CA Rabello – Foram estudadas diferentes Linhas de Ação para a solução do problema do radar Terma Scanter 4100, incluindo a sua substituição, esta última englobando desde soluções de menor complexidade até soluções mais complexas e de custo mais elevado.

DAN – Em que pese os navios serem semi-novos, eles estão cumprindo bem as missões que lhes estão sendo designadas. Com a aquisição de 4 canhões de 40mm BAE/Bofors para os Npa classe Grajaú, não seria adequado a instalação dos mesmos nas 3 unidades da classe Amazonas (uma plataforma muito mais estável), no lugar dos atuais canhões de 30mm, repassando os mesmos para os Npa Grajaú e conferindo maior precisão e poder de fogo a classe Amazonas?  

CA Rabello – A aquisição dos canhões atenderia aos NPa 500t do 2º lote. Preferencialmente, esses canhões poderão ser usados nos dois NPa Classe Macaé e em dois Npa-500 em construção.

Bofors 40 MK4 instalado no NPa Guaporé para testes

DAN – A Marinha irá construir novos NPaOcs desta classe ou irá optar pelo projeto OPV do CPN?

CA Rabello – O CPN iniciou um projeto de Navio-Patrulha Oceânico, ora em fase de refinamento dos requisitos operacionais. Dependendo dos resultados do projeto, a MB poderá optar pela sua execução. Existe a expectativa do projeto em desenvolvimento pelo CPN ter atrativo importante, no que se refere ao potencial de embarque de conteúdo nacional significativo.

DAN – No PMG dos mesmos será efetuada a instalação de um hangar para os helicópteros?

CA Rabello – No momento, não há estudo em andamento para a instalação de hangar nos navios.

Caça Minas para a ForMinVar

DAN – A MB estuda adquirir navios Caça-Minas para atualizar a Força de Minagem e Varredura. Quais as opções estão em estudo?

CA Rabello – A MB está buscando alternativas para substituir os atuais navios-varredores por Navios de Contramedidas de Minagem (NCM), seja por construção ou por compra por oportunidade (avios existentes). Neste último caso, a MB está interagindo com as Marinhas da Itália, Holanda e Suécia que disponibilizaram alguns navios existentes, todos da década de 80, que, após sofrerem modernização, poderão atender aos requisitos da MB. Entretanto, qualquer iniciativa de obtenção de meios está condicionada a disponibilidade orçamentária para a sua execução.

DAN – A ForMinVar, após a chegada de novos meios, continuará em Aratu-BA ou virá para Itaguai-RJ, para proteger as instalações do estaleiro e a base de submarinos?

CA Rabello – Não está prevista a alteração de sede da Força de Minagem e Varredura. Estão sendo avaliadas as opções que melhor atenderão à MB, no que diz respeito ao Estaleiro e Base Naval de Itaguaí.

DAN – Está previsto algum tipo de armamento nos novos caça-minas?

CA Rabello – Sim, para a autoproteção do meio e defesa contra ameaças de baixa intensidade.

 

DAN – Está prevista a utilização de ROVs nos novos caça-minas?

CA Rabello – Sim.

ROV – Double-Eagle-MKII-2

DAN – Até quando a MB conseguirá manter operando os atuais Varredores? Está prevista alguma nova modernização nos mesmos?

CA Rabello – A MB entende que a manutenção da capacidade de guerra de minas é estrategicamente relevante, sendo desejável manter a operação dos navios varredores, enquanto tecnicamente possível e financeiramente aceitável. Não há previsão de modernização dos atuais navios-varredores.

Fim da 1ª parte!

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