Por Luiz Padilha
Defesa Aérea & Naval – Como foi a mudança de diretor do Centro de Comunicação Social da Marinha (CCSM) para se tornar o Adido Naval nos Estados Unidos?
Contra-Almirante José Roberto Bueno Júnior – A Comunicação Social na Marinha do Brasil (MB) estará sempre e permanentemente comprometida em zelar pela imagem positiva da Força junto à sociedade. Esse incomensurável patrimônio, traduzido no elevado índice de confiança que a população deposita na sua Marinha, demanda de todos nós, “homens do mar”, uma contínua atenção. Portanto, cada membro da MB é um instrumento de Comunicação Social onde quer que esteja.
Nesse sentido, ter sido Diretor do CCSM em muito me auxilia a conduzir as inúmeras atividades constantes do rol de tarefas do Adido Naval. Especialmente aquelas que dizem respeito ao estreitamento de laços de confiança e amizade, não só entre a MB e a US Navy (USN), entre a MB e a Royal Canadian Navy (RCN), mas também entre os mais de 85 Adidos Navais de nações amigas acreditados nos EUA e mais de 45 acreditados no Canadá, que formam o chamado Foreign Naval Attaché Corps (Corpo de Adidos Navais Estrangeiros).
Registro que, muito me orgulha ter sido designado pela Marinha Americana como o “Dean” do Corpo de Adidos, honraria normalmente concedida a representantes de países afiliados a OTAN e de língua inglesa. O “Dean” seria uma espécie de “pastor do rebanho” (soaria um pouco pretensioso intitulá-lo como o Chefe do Corpo de Adidos).
Confesso que tive muita sorte, pois a minha primeira faina de peso ocorreu menos de um mês após a assunção do Cargo, quando o Comandante da Marinha, AE Leal Ferreira, veio aos EUA, atendendo a um convite oficial da US Navy, tendo o AE Greenert como Chief of Naval Operations (CNO) e anfitrião. Uma vez que a Marinha Americana estava mudando o seu Comandante (O AE Greenert passaria o cargo ao AE Richardson), um dos principais propósitos da visita era ratificar à futura administração o excelente relacionamento entre ambas as Marinhas e também entre seus titulares. Registro que o AE Leal Ferreira desfruta de grande prestígio junto aos americanos, não só pelo reconhecido preparo, mas também por possuir em sua biografia uma bela passagem pela instrutoria da Academia Naval de Anapollis. Portanto, logo ao início de minha jornada, tive a possibilidade de conhecer um expressivo número de Oficiais Generais da Marinha Americana, entre esses o próprio CNO, AE Richardson, ao qual tenho enorme apreço, o que me permitiu abrir muitas portas.
Fato similar ocorreu junto à RCN pois, por ocasião da realização da Inter-American Naval Conference (IANC) – 2016, sediada em Halifax – Canadá, quando, provendo apoio ao AE Airton, Comandate do Estado Maior da Armada (CEMA) e representante do CM no evento, pudemos estreitar os laços com diversos Comandantes de Marinhas das Américas, em especial com o VA Lloyd, anfitrião e Comandante da Real Marinha Canadense.
DAN – Quais as responsabilidades que o Adido Naval tem nos EUA? É diferente da atuação em outros países?
CA Bueno – As responsabilidades dos Adidos Navais brasileiros são bastante similares. Poderíamos elencar algumas delas, tais como:
- assessorar o Embaixador em quaisquer temas que se façam necessários, com ênfase naqueles referentes ao Poder Marítimo e ao Poder Naval;
- zelar pelos interesses da Força nos Países aos quais estejam acreditados e ser o interlocutor da MB junto às Marinhas desses Países;
- supervisionar o gerenciamento do pessoal da MB na área de responsabilidade (AOR) e
- apoiar os Navios e Comitivas da MB em visita aos Países da AOR, entre outras;
É oportuno registrar que a responsabilidade do Adido Naval nos EUA e no Canadá, é proporcional não só a extensão da área de responsabilidade, mas principalmente a intensidade do relacionamento bilateral, em especial com a US Navy.
Não é sem sentido que essa é a única Adidância do Brasil cujo o Titular é um Oficial General.
DAN – Em outros países existe apenas um Adido para as 3 forças. O que leva o Brasil a optar por ter um Adido específico para a área naval nos EUA?
CA Bueno – A opção decorre de vários fatores. Normalmente se observa o princípio da reciprocidade de representantes. Ou seja, se temos um Adido de cada Força no País anfitrião, teremos, via de regra, representantes de cada Força daquele País no Brasil.
Um dos principais fatores determinantes e que orientam a necessidade de ter um Adido por Força, conforme citado anteriormente, decorre da intensidade do relacionamento bilateral. Nesse sentido, é importante registrar que o relacionamento brasileiro com os EUA e o Canadá, em termos de cursos, adestramentos, graduação, pós-graduação, troca de informações, aquisição de material, exercícios e operações militares, entre outros, não tem paralelo com nenhum outro no Globo.
É sempre oportuno termos em mente que, considerando apenas os EUA, temos uma população de cerca de 320 milhões de habitantes, produzindo um PIB de U$ 18,6 trilhões, em 9,8 milhões de Km2 de território banhado por 3 Oceanos (Atlântico, Pacífico e Ártico), com uma linha de costa de mais de 24.000 Km e uma Zona Econômica Exclusiva superior a 11,7 milhões de Km². Entre as 100 melhores universidades do mundo, metade se localizam nos EUA, sendo que as 6 primeiras são norte-americanas. Mais de 350 estadunidenses já receberam o Prêmio Nobel, nas mais variadas áreas. O maior índice de patentes e inovação pertence aos norte-americanos. Esses indicadores cristalinamente apontam para a necessidade do Brasil se aproximar, cada vez mais dos EUA.
No que se refere à US Navy, com um Poder Naval mobilizável de 275 navios (entre escoltas, submarinos e porta-aviões), trata-se da Marinha mais poderosa do planeta. No entanto, para preservar os inúmeros interesses e a presença global, necessitam de aliados. Os documentos de mais alto nível da Força Naval Americana, tais como “A Cooperative Strategy for 21 th Century Seapower” e “A Design for Maintaining Maritime Superiority”, claramente identificam o estabelecimento e a manutenção de parcerias como um dos pilares da Estratégia Naval Americana. Portanto, essa realidade abre uma importante janela de oportunidade, que poderia ser mais fortemente explorada por nossa parte. Mas, estamos avançando.
DAN – O senhor recebe convites para participar de demonstrações de produtos ligados à Defesa que possam interessar a MB?
CA Bueno – A região metropolitana de Washington D.C. é rica em “Think Tanks” das áreas de defesa e de relações internacionais. A Adidância Naval, regularmente, recebe convites e participa dos fórum de debates capitaneados pelo CSIS (Center for Strategic and International Studies), CATO Institute, Wison Center, Center for International Maritime Security“, entre outros. Esses eventos permitem não só estabelecer um amplo senso crítico sobre as principais inquietações americanas, bem como estabelecer uma valiosa rede de conhecimento.
Participamos também de diversas feiras/simpósios de produtos de defesa, em especial aqueles voltados aos chamados “Sea Services” (Navy, Marine Corps e Coast Guard). Como exemplo, podemos destacar o “Surface Navy Association National Symposium”, o “Annual Naval Submarine League Symposium e o “Sea, Air, Space Exhibition”.
Os dois primeiros simpósios têm o propósito de permitir a atualização de conhecimentos sobre as necessidades e realizações das Forças de Superfície e das Forças de Submarinos, além de possibilitar o aprimoramento profissional e o networking. O “Sea, Air, Space Exhibition”, por seu turno, é a maior feira do gênero nos EUA, anualmente focada em exibir os estágios mais avançados do chamado domínio marítimo. Os principais líderes da “US Navy”, do “US Marine Corps” e da “US Coast Guard”, bem como os principais “players” da Base industrial de Defesa Americana, participam ativamente.
É interessante observar que, mesmo com os problemas que nosso País atravessa, os americanos observam o Brasil com bastante otimismo, ainda detendo um acentuado potencial para parcerias. Essa percepção ganha mais relevância com as assinaturas do DCA (Defense Cooperation Agreement), do GSOMIA (General Security of Military Information Agreement) e, mais recentemente, do MIEA (Master Information Exchange Agreement), acordo que permite o intercâmbio de informações e resultado de pesquisas. Tais iniciativas elevam o patamar na relação Brasil-EUA na área de defesa, ampliando ainda mais, o alcance da cooperação bilateral.
Dessa forma, é natural que os representantes de empresas de produtos militares de aplicação marítima procurem a Adidância para apresentarem e/ou promoverem a demonstração dos itens mais recentes e promissores dos seus portfólios.
DAN – O Adido naval atua na pesquisa por novos equipamentos de interesse da MB nos EUA? Se positivo, como isso ocorre?
CA Bueno – Não, o Adido Naval não atua na pesquisa por novos equipamentos de interesse da MB. A Marinha possui setores específicos para isso. O Adido promove o eventual apoio às comitivas que se destinem a sua Área de Responsabilidade e que estejam engajadas nesse processo de pesquisa.
Na sequência desta entrevista, o DAN seguiu para a cidade de Norfolk, VA, para encontrar e entrevistar os oficiais da Marinha do Brasil que estão trabalhando no sentido de estreitar as relações com a US Navy.
NOTA DO EDITOR: Agradecemos ao CA José Roberto Bueno Júnior, Adido Naval Brasileiro nos EUA, por ter nos recebido e gentilmente prestado esta entrevista e ao diretor do CCSM, CA Flávio Augusto Viana Rocha, por ter desde o início do projeto, nos auxiliado para o sucesso de nossa viagem.