Por Fabio Murakawa
As exportações brasileiras de produtos de Defesa baterão recorde este ano e devem atingir a cifra de US$ 2 bilhões. Ministério da Defesa e especialistas afirmam que uma campanha comercial mais incisiva, mudanças na legislação e também as diretrizes da Estratégia Nacional de Defesa (END), criada há pouco mais de uma década, estão contribuindo para a alta dos números neste ano.
Segundo o Ministério da Defesa, as vendas de tanques, aviões, armamentos, munições e sistemas de lançamento de foguetes, entre outros, somaram US$ 1,322 bilhão até o mês de agosto e já superam a cifra de todo o ano de 2019 (US$ 1,231 bilhão) e de 2020 (US$ 777 milhões). No ano passado, as exportações tiveram o desempenho afetado por problemas logísticos, que dificultaram operações durante a pandemia.
O país, afirma Degault, aumentou sua participação em feiras internacionais e vem adotando uma “postura mais proativa”. A Agência Brasileira de Promoção de Exportações (Apex), por exemplo, passou a ter um núcleo específico para os produtos de Defesa. Além disso, o país passou a receber missões compradoras.
Os dados deste ano ainda não contabilizam vendas do cargueiro KC-390. A primeira aeronave desse modelo foi entregue pela Embraer à Força Aérea Brasileira no fim de 2019. Já há encomendas para a venda de aviões para Portugal e Hungria. Lisboa adquiriu cinco cargueiros ao custo de € 827 milhões (num contrato que envolve itens e serviços adicionais, entre eles treinamento e abastecimento em voo). Os hungaros, por sua vez, compraram dois KC-390 a US$ 300 milhões.
A expectativa é que os negócios rendam US$ 6 bilhões nos próximos anos. Colômbia, Argentina, Chile, República Tcheca e Suécia também já manifestaram intenção de comprar a aeronave.
Outro produto chave na pauta de exportações do setor de Defesa é o Astros, um sistema de lançamento de foguetes produzido pela Avibras. “Já temos engatilhadas vendas superiores a US$ 1 bilhão para alguns parceiros que eu não posso mencionar agora. Mas é questão de detalhes”, afirma Degault. Segundo o secretário, cada R$ 1 investido traz um retorno de R$ 9,8. Hoje, segundo o secretário, o setor de Defesa responde por 4,5% do PIB e gera cerca de 3 milhões de empregos no país. A renda média, acrescenta ele, é trés vezes a do setor industrial, “que já é bem superior à de outros segmentos.”
A indústria de Defesa tem uma particularidade. Atende históricamente a demanda militar, mas parte do business acaba transbordando para o mundo civil. Foi assim com a internet, os aparelhos de GPS, os aparelhos de ressonância magnética e tomografia computadorizada, a medicina nuclear, tecidos especiais, o teflon, entre outros.
Degaul foi Secretário Especial de Assuntos Estratégicos (SAE) no governo Michel Temer. É tido em Brasília como um técnico qualificado e elogiado por adotar uma postura pragmática à frente da secretaria, mesmo quando a política externa seguia a linha ideológica do ex-chanceler Ernesto Araújo.
Analistas reconhecem que ele vem tendo um bom desempenho na pasta. Mas dizem que a atual alta das exportações guarda forte relação com políticas e programas adotados nas gestões petistas dos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (2003 a 2010) e Dilma Rousseff (2011 a 2016).
“Houve de fato uma promoção de exportação, houve um incentivo de exportação da parte de Defesa. Mas esse resultado de recorde de exportação tem muito mais a ver com a END e com os projetos estratégicos de Defesa que começaram em 2008”, diz Marcos Barbieri, professor da Unicamp e especialista em indústria aerospacial e Defesa.
“Não adianta ter promoção comercial se eu não tenho produto. E boa parte dos produtos que o Brasil hoje está exportando é resultado dos programas estratégicos que começaram a partir da Estratégia Nacional de Defesa”.
FONTE: Valor