Um sonho que submergiu

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Por Tássia di Carvalho

Localizada em uma área estratégica da Região Metropolitana, Itaguaí vem desde a década de 1980 sendo incluída em planos que prometem dar uma guinada no desenvolvimento econômico da cidade. Como um polo petroquímico, que chegou a ser lançado e ganhou licença do Ibama, mas nunca saiu do papel. O último deles, iniciado em 2006, parecia ser ainda mais ambicioso e envolvia a construção de três submarinos pela Marinha. No entanto, a crise econômica estagnou os planos grandiosos, gerando uma grande onda de recessão e desemprego.

O programa de construção de submarinos, tocado pela Marinha, sofreu cortes profundos, como mostrou o ‘Informe do DIA’. Em 2013, foram R$ 943 milhões. No ano passado, mais R$ 1,6 bilhão.

Mas até julho deste ano, a verba não passou de R$ 352 milhões, segundo dados do Portal da Transparência. Além disso, o Porto Sudeste, idealizado pelo ex-bilionário Eike Batista para a cidade, previsto para começar a operar em julho, ameaça “naufragar” sem um grande contrato por conta da redução das exportações de minério. A queda no valor da commodity afetou drasticamente também o Porto de Sepetiba, onde Vale e CSN têm terminais de exportação.

Foto André Valentim

Segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho, foram 3.753 demissões de janeiro a setembro, impactando fortemente a economia local. Prova disso são as extensas filas que se formam na porta do único Centro de Oportunidades que a cidade possui. “Tem dia que há mais de 150 desempregados aqui”, conta o mecânico Fabiano da Rocha, de 33 anos, que há oito meses tenta se recolocar no mercado.

“Quando fizeram essas obras, achamos que teríamos oportunidades, mas nada aconteceu”, reclama o maçariqueiro Jader de Andrade, 53, demitido da Odebrecht. Segundo ele, empresas que chegaram a Itaguaí oferecem vagas apenas para pessoas que moram fora da cidade – boa parte vem da vizinha Santa Cruz, bairro da Zona Oeste carioca, e de outras cidades do estado. “Aqui só entra quem indicam”, denuncia.

Os dados do Caged mostram um quadro de recessão no município, pois o principal empregador — a construção civil — demitiu 2449 trabalhadores (queda de 32,45%). Segundo o economista Ranulfo Vidigal, Itaguaí representa 7,5% do PIB estadual, um dos cinco municípios mais importantes da Região Metropolitana, pois é o quarto em participação no emprego industrial. “A queda das matérias-primas (como o minério de ferro) pela crise internacional afeta o desempenho recente da atividade portuária local”, afirma.

Jorge Vaz, 32, aprendeu a pescar com o pai, que tinha nove barcos na Baía de Sepetiba. Apenas um restou. “Tinha muita variedade, mas a Baía agora está tão poluída, que sumiram todos os peixes.” Para conseguir seu sustento, ele joga as redes em alto mar, mas lembra que no passado encontrava várias espécies na própria baía. “Tem muita gente parando de pescar. Acho que sou um dos últimos.”

Empresas se explicam sobre a crise

Segundo a Marinha — que está construindo três submarinos em parceria com a Odebrecht —, os pescadores da região foram indenizados. A Nuclebras Equipamentos Pesados S/A (Nuclep) informou que entregou encomendas e por isso diminuiu o número de terceirizados. A Odebrecht esclareceu que sempre priorizou a contratação do maior número de trabalhadores da região para atuar em suas obras, impulsionando a geração de empregos e incentivando a economia local. Já a Vale informou que sua produção bateu recorde de 248 milhões de toneladas, de janeiro a setembro, mas não comentou sobre demissões.

FONTE: O Dia

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