Setor aeronáutico vive nova fase de expansão

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O desenvolvimento de programas de grande porte na indústria aeronáutica brasileira, como o da aeronave militar KC-390, a nova geração de jatos comerciais da Embraer e os caças F-X2, trouxe nova carga de trabalho para a cadeia aeroespacial e de defesa do país.

Juntos esses três programas somam investimentos de cerca de US$ 11 bilhões. Só o contrato de produção de 28 aeronaves KC-390, assinado mês passado com a Força Aérea Brasileira (FAB), representa um aporte adicional de R$ 7,2 bilhões para a Embraer.

O grande desafio das empresas do setor, no entanto, ainda passa pelo aumento da competitividade para que possam não só atender à Embraer, mas também aproveitar as oportunidades para evoluir tecnologicamente, diversificar a produção e, assim, atingir o mercado externo, afirma o coordenador do Grupo de Trabalho do Setor Aeroespacial e Defesa (Gtaero), José Wilmar de Mello, diretor da ThyssenKrupp Autômata.

“A cadeia de suprimentos do setor aeronáutico é global e, para participar dela, as empresas precisam ser competitivas perante concorrentes de classe mundial”, diz o vice-presidente financeiro e de relações com investidores da Embraer, José Antônio Filippo.

Segundo o executivo, o Programa de Desenvolvimento de Fornecedores (PDF) coordenado pela Embraer, assim como o FIP Aeroespacial, fundo que vai investir no setor, são as mais novas iniciativas apoiadas pela empresa para fomentar o fortalecimento da cadeia de base tecnológica. “Com isso estaremos impulsionando as empresas para crescer e, ao mesmo tempo, estreitando o relacionamento de inovação no Brasil.”

Em 2012, as exportações do setor foram de cerca de US$ 6 bilhões, mas pouco mais de 85% desse valor veio da Embraer

O vice-presidente de Engenharia e Manufatura da Embraer, Francisco Soares, afirma que a Embraer procura de forma contínua aumentar a participação dos fornecedores locais e inserir a cadeia produtiva nacional em seus projetos. Para os novos programas em desenvolvimento e que entrarão em produção nos próximos anos, segundo o executivo, a Embraer fez uma verticalização da produção, trazendo itens e componentes estruturais que eram fabricados no exterior para serem produzidos em suas fábricas no Brasil.

O chefe do Departamento de Fundos do BNDES, Leonardo Pereira, explica que o Fip foi uma iniciativa da Embraer para incentivar as empresas da cadeia a investirem em tecnologias úteis ao seu plano de negócios. “São tecnologias de difícil acesso, nas áreas de segurança de sistemas, transmissão de dados, óptica, monitoramento via GPS, aviônica e integração de sistemas.”

Pereira diz que já estão sendo avaliadas de 50 a 100 empresas com potencial para agregar valor e receber os investimentos do Fip, que terá patrimônio inicial de R$ 131,3 milhões. A Embraer, como empresa âncora do fundo, entrará com R$ 40 milhões e o restante será aportado pelo BNDES, Finep, Agência de Desenvolvimento Paulista (Desenvolve SP) e a Portbank, gestora do fundo. “O nosso objetivo é investir em sete a nove empresas num período de quatro anos”, afirma.

A Apex (Agência Brasileira de Promoções de Exportações e Investimentos) deve fechar, nos próximos dias, um novo convênio com o Cecompi (Centro para Inovação e Competitividade do Cone Leste Paulista), no valor de R$ 3,8 milhões para ajudar a promover as empresas da cadeia no exterior. Atualmente, segundo o gerente executivo do Cecompi, Marcelo Sáfadi, das 70 empresas que compõem a cadeia, 15 exportam produtos e 18 serviços.

Para o presidente da Akaer, especializada em engenharia de aeroestruturas, Cesar Augusto da Silva, investir na vocação do setor aeronáutico brasileiro para a concepção e desenvolvimento de bons projetos, especialmente na área de estruturas, é o caminho ideal para promover a evolução da cadeia aeronáutica do país. “Esse mercado cresce mais de 4% ao ano e movimentou US$ 43,6 bilhões em 2011”, diz.

Em 2012 a indústria aeroespacial e de defesa brasileira exportou o equivalente a US$ 6 bilhões, mas pouco mais de 85% desse valor veio da Embraer. A cadeia aeroespacial do México, que não abriga nenhum fabricante de aviões, mas possui vários fornecedores de nível 1 (Tear 1), exportou US$ 7,5 bilhões no ano passado.

“É fundamental que tenhamos uma política de incentivos para ajudar as pequenas empresas a se estruturarem para atender melhor a Embraer em termos de custos”. Alguns programas já em curso, como o KC-390, segundo ele, não contemplaram essas empresas no que diz respeito ao desenvolvimento de novas tecnologias, mas existem outras oportunidades de projetos estruturantes, como o Sisgaaz, Sisfron e o Satélite Geoestacionário que não podem ser perdidas.

“Não adianta reduzir imposto e ter financiamento se não temos programas”, afirma o presidente da Akaer. Este é o caso, por exemplo, das empresas do setor espacial brasileiro, que estão desmobilizando suas equipes porque não têm mais contratos. Algumas, inclusive, segundo o diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Leonel Perondi, correm o risco de fechar as portas.

Segundo o Valor apurou, os recursos que estavam alocados no orçamento para projeto do Pese (Programa Estratégico de Sistemas Espaciais), coordenado pelo Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea), no valor de R$ 130 milhões, foram redirecionados para pagar os contratos do Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas (SGDC), gerenciado pela Visiona, controlada pela Embraer.

FONTE: Valor Econômico, por Virgínia Silveira

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