O Brasil é o 3º maior mercado de voos domésticos do mundo, segundo levantamento feito pela Associação Brasileira de Empresas Aéreas (ABEAR) em 2013. Quando o assunto são asas rotativas, ou seja, helicópteros, os números surpreendem: são mais de 400 aeronaves registradas só na capital paulista, segundo dados da Prefeitura de São Paulo publicados também em 2013. Cerca de quatro helicópteros pousam ou decolam na cidade a cada cinco minutos, considerada já a dona da maior frota desse transporte no mundo.
Na contramão da crise pela qual passa o país, esse mercado é visivelmente crescente como crescente também é o número de heliportos pela cidade, o que chama atenção para questão da segurança de quem utiliza esse serviço. Segundo o Comando da Aeronáutica (IV COMAR), o ideal é que os helipontos estejam em um raio de 500 metros de distância um do outro, algo difícil de cumprir, especialmente nas regiões da Vila Olímpia e da Paulista onde a concentração de pontos de pouso e decolagens é mais expressiva e onde eles estão muito próximos.
A boa notícia é que acaba de ser lançado em São Paulo um sistema inovador, o FSS (Flight Service Station – nome dado para o produto), uma solução completa de operações implementadas a partir do Centro de Comando e Controle de Informações de Voo da ALLTA BBP dedicado a operações remotas, localizado na cidade de Barueri, região metropolitana da capital. A ALLTA BBP, como é chamado o conjunto de empresas responsáveis pela solução, tem como associadas a Allta Heliport (infraestruturas especializadas), o Bembras Group (Inteligência e Tecnologias Críticas) e a Paim&Betel (telecomunicações, aeronáutica/proteção e segurança de voo), que contam, ainda, com a parceria e o suporte tecnológico da Frequentis do Brasil, fornecedora dos equipamentos. Líderes em seus mercados de atuação, elas resolveram se juntar para trazer ao Brasil uma plataforma com amplo e consolidado uso na Europa. “Toda a infraestrutura teve financiamento subsidiado pela Desenvolve São Paulo, e isso foi muito importante para que um projeto inovador como este viesse a ser efetivamente realizado”, afirma o diretor da ALLTA Heliport, Leonardo Nunes.
Lançada oficialmente no dia 29 de junho, a solução é inédita no Brasil e na América Latina e tem capacidade para realizar o Serviço Remoto de Informação de Voo para aeródromos (aeroportos, heliportos e helipontos) em todo o Brasil.
O FSS operará neste primeiro momento na categoria A (AFIS) e os equipamentos da plataforma estão configurados para orientar e informar os pilotos sobre meteorologia (vento; pressão atmosférica; umidade), visualização da pista, teto, comunicação via rádio, entre outros, e têm como principais objetivos aumentar a segurança nos voos e otimizar o ambiente aéreo brasileiro, entre outros.
De acordo com Christian Herrera da Frequentis, a ideia do novo modelo tecnológico surgiu da visível necessidade de implantar no Brasil um serviço operado há anos lá fora. “Na Europa, temos “torres a distância”, de categoria especial, e vimos a necessidade de trazê-las para cá, porém, de forma diferenciada, pois a infraestrutura e o ambiente normativo do país ainda não permitiam a implantação de uma torre completa”, revela. Dessa forma, a plataforma implantada é relativamente menor, mas possui o mesmo diferencial e capacidade no que diz respeito à realização de controle do tráfego aéreo, tanto do território brasileiro quanto latino-americano. “Temos capacidade e tecnologia inovadora e estamos preparados para atender qualquer aeroporto, seja do setor público ou privado, e em qualquer frequência”, afirma.
As comunicações são realizadas pelo FSS por meio de uma VPN (Virtual Private Network), com pontos remotos, todas criptografadas. “Elas não sobem para links de internet públicos e não têm compartilhamento com qualquer outro meio de comunicação”, garante Herrera. Segundo ele, a ideia é de que a ALLTA BBP espalhe esses centros pelo país. “Instalaremos todos os equipamentos em um aeroporto ou em um heliporto, sem que seja necessária a existência de uma Afis presencial, e fazemos toda parte de informações de voo”, pontua.
Mais segurança, menos custos
Um dos maiores benefícios trazidos pela operação remota a um país com dimensões continentais como o Brasil está no quesito Segurança, segundo o diretor da Paim&Betel, José Braz. Ele destaca a falta de auxílio ao piloto por parte de muitos aeródromos, o que ele considera fundamental. “Muitos pilotos não contam com esse auxílio o que compromete sensivelmente a segurança do voo. Acidentes recentes poderiam ter sido evitados caso houvesse melhor qualidade na informação obtida e disponibilizada em tempo real aos pilotos no momento de sua decolagem, durante o seu voo e antes de sua aterrissagem”. Ele acrescenta que isso ocorre em outras situações e com outros aeródromos e, mesmo que não ocorram acidentes, o piloto é invariavelmente surpreendido com uma situação meteorológica adversa. “Com a operação remota, acabamos com essa situação, pois equipamos integralmente os aeródromos os quais estarão sendo operados pela central do FSS com a mesma segurança de um operador local”, completa.
Segundo José Olinto de Toledo Ridolfo, da Bembras Group “a falta de segurança no controle de voo para helicópteros existe porque, de fato, as aeronaves operam no chamado “voo visual”, o que representa um risco muito grande para a segurança aérea e consequentemente para passageiros”. “Nosso projeto elimina esse problema já que passa a operar os aeródromos com todas as informações em tempo real a partir dos nossos equipamentos os quais permitem a visualização direta e, mais uma vez, em tempo real dos pontos de pouso, de forma que os pilotos saberão como e em que condições de tempo estão voando antes de decolarem. Com isso, a segurança passa a estar presente em todos os pousos e decolagens”, diz. Além disso, José de Toledo observa que os aeródromos, sobretudo os menores, por exemplo, operam com custos muito elevados sendo, em sua grande maioria, deficitários. “Nossa plataforma permite uma redução de custo em pelo menos 30%, ou seja, a plataforma que privilegia segurança traz um benefício adicional e direto de redução de custo e ainda conta com tecnologia avançada. É uma situação que vai permitir, em um futuro muito próximo, que um grande número de aeroportos encontre uma condição de efetiva sustentabilidade”, ressalta.
“A redução nos custos pode vir também para aeroportos que não têm torre, pois o investimento na sua construção é altíssimo”, de acordo com o diretor comercial da Bembras, Alan Sereni. Segundo ele, uma equipe operando uma plataforma FSS poderá fornecer informações ao voo (R-Afis) para até três aeroportos.
“Para os aeroportos que já têm a torre, a economia vem no compartilhamento de custo que a solução oferece”, ressalta. No entanto, embora o sistema permita que um mesmo controlador possa fornecer informações ao voo para até três aeroportos, isso vai depender da categoria e do movimento de cada aeroporto.
Salvação sustentável
Presente no evento de lançamento da plataforma, o Secretário Nacional de Aviação Civil, Dario Rais Lopes, chamou atenção para a importância da chegada desse serviço ao Brasil. “Vi esse modelo no Japão e na Suécia e o queremos no Brasil, para que soluções dessa natureza aumentem a cobertura espacial, contribuam para aprimorar ainda mais a organização do espaço aéreo, promovam uma melhora na capacitação dos serviços e subsequentemente aumentem a segurança de voo, tudo isso de maneira sustentável”. De acordo com Lopes, dez aeroportos estão sendo fechados no Amazonas por falta de serviços como o lançado pela ALLTA BBP.
“Como operador da Segurança Pública e da Defesa Civil com aeronaves da Polícia Militar, posso afirmar que quanto mais informações você tem dos locais de pouso e decolagem, e também das condições meteorológicas, melhores serão as decisões para socorrer uma vítima, por exemplo. Estamos muito interessados no projeto porque ele vai ajudar a decidir, entre as dez bases instaladas no estado inteiro, qual é a melhor delas para atender determinada ocorrência”, destaca.
Carta de Intenções
A assinatura de duas cartas de intenções marcou o pontapé inicial no lançamento da plataforma de Controle de Voo à distância em Barueri. Uma delas foi firmada com o Grupo SAFRAN, gigante mundial de equipamentos, sistemas e serviços aeronáuticos que passou a ser responsável pela cobertura dos motores de algumas das aeronaves que operam na ALLTA BBP. “Elas estão cobertas dentro do programa Suporte por Horas de Voo (SBH), e isto se estenderá a várias outras à medida que o acordo vá se ampliando e também a presença da ALLTA BBP no território nacional. Este é o primeiro de vários que pretendemos fechar com a ALLTA BBP”, afirmou o gerente de Novos Negócios e Marketing da empresa, Marcelo Madruga.
A segunda foi com a iHome®, empresa de construção civil especializada em tecnologias construtivas inovadoras e sustentáveis, com sede no Paraná com inúmeros projetos imobiliários diferenciados em desenvolvimento e que tem importantes projetos futuros na área de infraestrutura aeroportuária. Segundo André Veronese, diretor da iHome®, “a parceria veio coroar o esforço de empreendedores brilhantes, comprometidos com a excelência e a ética profissional, valores que a iHome®, compartilha, mostrando que acreditam no país, apesar do atual momento de dificuldades”.
FONTE: Comunicação Conectada