As entregas da Saab para o Brasil vão muito além das aeronaves Gripen. Antes do caça multimissão alcançar os ares, existem inúmeras trocas técnicas e culturais já em curso entre os dois países.
Desde janeiro de 2017, engenheiros da AEL Sistemas estão em Arboga para conhecer, em detalhes, o conceito da Saab para o desenvolvimento de equipamentos de testes automáticos (ATE) para a manutenção das unidades de aviônica da aeronave.
Quem vê o prédio na área industrial de Arboga, nem imagina o alto nível de interação técnica que ocorre, ali, entre engenheiros brasileiros e suecos. Ao longo de sete meses, Marcelo Tonial e dois colegas da AEL Sistemas passam os dias aprendendo a construir e aprimorar os recursos necessários para a manutenção das unidades de aviônica do Gripen. Eles estão lá para adquirir o conhecimento necessário para estabelecer uma estrutura do tipo no Brasil, que cuidará da manutenção dos 36 caças Gripen adquiridos pela Força Aérea Brasileira.
“Ir para a Suécia como parte de um processo de transferência de tecnologia era um projeto no qual eu realmente queria me envolver”, afirma Tonial, que deixou temporariamente sua função no departamento de Pesquisas e Desenvolvimento da AEL Sistemas para liderar a equipe brasileira que está na Suécia.
Marcelo Tonial e seus colegas são apenas três dos quase 350 profissionais das empresas brasileiras parceiras da Saab e da Força Aérea Brasileira envolvidos no processo de Transferência de Tecnologia (ToT), que acontece como parte do programa de cooperação industrial e trocas técnicas entre os dois países, no período que vai de outubro de 2015 a 2024. O objetivo é garantir que a indústria aeroespacial brasileira tenha a tecnologia e o conhecimento necessários para desenvolver, realizar a montagem final e manter o Gripen no Brasil.
Em Arboga, a troca de conhecimento é recíproca. A AEL Sistemas desenvolve e fabrica soluções em tecnologia na área de defesa e segurança em ar e terra e é responsável pelo desenvolvimento do display eletrônico para a aeronave Gripen no Brasil.
“O display panorâmico constitui um projeto importante para a nossa empresa, e o nosso grupo é responsável pelo equipamento de teste para esse aviônico”, afirma Tonial. “Além disso, acredito que também podemos sugerir algumas novas soluções para o sistema que vão beneficiar a Saab. Quanto mais ficamos aqui, mais ideias conseguimos oferecer.”
Para a Saab, o programa de Transferência de Tecnologia é sinônimo de ganho mútuo entre as partes, conforme afirma Jörgen Ekstedt, Gerente Sênior de Projeto da Saab, e responsável pela troca de conhecimentos. “É muito bom ter novos olhares em relação ao que fazemos, nos trazendo uma perspectiva diferente”, diz ele. E acrescenta: “Fica claro que todos ganham com esse intercâmbio. Marcelo e sua equipe contribuíram com melhorias para os nossos projetos. Mas uma parte importante do programa de Transferência de Tecnologia é que todos têm a oportunidade de aprender sobre diferentes formas de trabalho, não apenas em termos de metodologia e processo, mas também a respeito de diferenças culturais, o que amplia nosso entendimento e cooperação”.
Como destaca Jörgen Ekstedt, para os padrões suecos, talvez as organizações brasileiras sejam vistas como hierárquicas, mas os brasileiros parecem apreciar esta estrutura mais horizontal, comum na Suécia, assim como a busca constante por consenso. Pelo menos, diz ele, é assim com os engenheiros que trabalham em Arboga. “Uma organização mais horizontal permite que a informação flua entre todos os envolvidos no projeto”, diz Tonial. “É uma grande vantagem e faz com que todos contribuam com diferentes ideias. É uma experiência que certamente levarei comigo para o Brasil”.
A troca cultural vai muito além das horas de trabalho. Além de mentores designados para as atividades, os visitantes contam com um buddy, que são voluntários de outros departamentos da Saab que têm o papel de proporcionar aos brasileiros oportunidades de interagir e socializar com outros suecos fora da empresa.
“Meu buddy é treinador de futebol, então tenho a oportunidade de jogar bola aqui, o que é legal. Mas a melhor parte, sem dúvida, tem sido o snowboarding, um pouco dolorido, é verdade, mas muito legal. Meu próximo grande passo é provar Surströmming, uma iguaria sueca que nada mais é do que uma espécie de peixe podre”, diz Tonial com um sorriso largo.
Engenheiros brasileiros:
Marcelo Tonial, 33, Chefe de Equioe
Joaõ Metinger, 27, Engenheiro de Software
Morgana Cardoso, 25, Desenvolvedora de Hardware
Melhores coisas da Suécia:
Marcelo Tonial: Snowboarding, reciclagem, igualdade, segurança e a forma como falam com as crianças – como se elas fossem adultas.
Morgana Cardoso: Allemansrätten (direito público de acesso a áreas de campos, bosques e florestas para lazer e exercício), o respeito pela mulher e a igualdade.
Joaõ Metinger: A liberdade de caminhar por onde quiser, desde que mostrando respeito pelo meio ambiente e patinar no gelo em um lago de verdade.
Principais aprendizados do programa de Transferência de Tecnologia:
- Marcelo Tonial:
– Organização horizontal
– Modelo para Desenvolver Recursos de Manutenção (MDMR), que é um processo detalhado que garante que todas as etapas necessárias estejam incluídas no desenvolvimento de um recurso de manutenção.
- Morgana Cardoso:
– Consenso – que é possível discutir todos os assuntos, todos ouvem uns aos outros e ao final chegam a um consenso. Mas isso também significa que todos precisam estar preparados e acrescentar algo à discussão.
– Organização horizontal: todos são ouvidos.
- Joaõ Metinger:
– Organização horizontal em que a opinião de todo mundo importa. Isso torna mais fácil encontrar soluções para os problemas.
– Modelo para Desenvolver Recursos de Manutenção (MDMR). É detalhado e faz com que você verifique cada etapa no desenvolvimento de recursos de manutenção.
FONTE e FOTOS: Saab