Por Rodrigo Carro e Gabriel Vasconcelos
O presidente da Embraer Defesa e Segurança, Jackson Schneider, disse ontem que a empresa, em parceria com a alemã ThyssenKrupp Marine Systems e o estaleiro catarinense Oceana, planeja exportar produtos de defesa naval a partir do Brasil. ThyssenKrupp e Embraer, mais a Atech, fazem parte do consórcio Águas Azuis, que foi escolhido pela Marinha do Brasil para construir quatro corvetas a partir de 2020.
Ontem foi oficializado, na LAAD Defense & Security 2019, evento da área de defesa, no Rio, o resultado do processo de seleção que culminou, no fim de março, com a vitória do consórcio Águas Azuis na concorrência internacional aberta pela Marinha para a construção das corvetas classe Tamandaré. O estaleiro Oceana (SC) foi subcontratado pelo consórcio para construir as embarcações.
“Toda conversa e todo o compromisso com a ThyssenKrupp é [no sentido] de criar uma base de indústria de defesa no Brasil para vender soluções para outros países com necessidades semelhantes a estas que estamos desenvolvendo para a Marinha do Brasil. Queremos e vamos exportar a partir do Brasil”, disse Schneider.
A vitória do Águas Azuis fortalece a posição da Embraer no mercado brasileiro de defesa, avalia o executivo. A estratégia de expansão da Embraer passa também, segundo ele, pela exploração do mercado de defesa terrestre. “Consolida a nossa posição no mercado de defesa brasileiro, para além do mercado no qual nós somos tradicionalmente conhecidos, que é o de aeronáutica, também com soluções na área de defesa naval. E algumas soluções de defesa terrestre em outros projetos em que estamos envolvidos”, afirmou.
Rolf Wirtz, presidente executivo da ThyssenKrupp Marine Systems, afirmou que a parceria com a Embraer representa oportunidade de alcançar o mercado de defesa dos BRICs, o grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. A ThyssenKrupp, fornecedora de tecnologia naval para submarinos não-nucleares e navios, pretende usar parcerias com empresas brasileiras para alavancar sua participação no mercado sul-americano e, também, em outros países da área de influência do Brasil.
“Trabalhar com a Embraer é uma grande oportunidade para nós, porque enxergamos muita demanda, não apenas na América do Sul, mas também em países com os quais o Brasil tem uma boa relação”, disse Wirtz. “[Os BRICs] são apenas parte da área de influência, dos laços do Brasil, e onde a Alemanha tipicamente não tem [ligações]. Nós queremos alavancar isso muito mais.”
Wirtz afirmou que o acordo com a Embraer é parte de estratégia de formação de uma rede global de parceiros na qual a ThyssenKrupp pode usar acordos para desenvolver produtos. “Vamos ter mais conversas a respeito [de exportar a partir do Brasil], mas podemos explorar esta vertente. Tendo um bom estaleiro no país, estabelecido da forma como nós construímos navios, um pouco diferente de outros, nós vemos uma boa oportunidade de colher [frutos] disso.” “Temos outras demandas específicas que podem ser atendidas a partir do Brasil”, afirmou.
Embora o consórcio responsável pelas quatro corvetas tenha sido escolhido, a contratação das armas e sistemas embarcados ainda está em aberto, segundo o diretor de gestão de programas da Marinha do Brasil, vice-almirante Augusto Petrônio. “Esses equipamentos [sugeridos no projeto vencedor] serviram para que esse consórcio competisse. Mas, como estamos entrando na fase contratual, vamos passar por um processo de negociação e algumas coisas podem ou devem ser alteradas.”
Ele citou, por exemplo, o equipamento de medidas de apoio à guerra eletrônica, conhecido como MAGE. “[Este sistema] a Marinha está tentando desenvolver e pode ser facilmente substituído”, indicou. No projeto entregue pelo consórcio liderado pela Thyssen, é listado um MAGE produzido pela espanhola Indra. “Temos interesses comerciais e, enquanto agentes públicos, temos que defender o melhor dispêndio de recursos”, disse Petrônio.
Fonte: Valor Econômico