O projeto do submarino com propulsão nuclear

SNB Álvaro Alberto SN-10 - Imagem editada a partir de original de Rubem Paiva

O contrato principal do Programa de Desenvolvimento de Submarinos, firmado entre a Marinha do Brasil a as empresas partícipes do programa em final de 2008, é suportado por sete contratos comerciais, os quais determinam as bases da Transferência de Tecnologia e da Prestação de Serviços Técnicos Especializados, destinados a capacitar a Marinha a projetar e construir submarinos convencionais e nucleares, com exceção da tecnologia na área nuclear.

Destes, o Contrato no 6 trata especificamente da transferência de tecnologia de projeto e construção dos quatro submarinos convencionais (S-BR), do desenvolvimento do projeto e construção do submarino com propulsão nuclear (SN-BR) e do fornecimento de informações técnicas para o projeto do Estaleiro, da Base Naval e da UFEM.

Para o SN-BR, o processo de transferência de tecnologia engloba a qualificação de engenheiros de diversos níveis e especialidades para o projeto do submarino na França, por um período de dois anos, e a consultoria técnica durante o projeto e a construção do submarino.

No período de agosto de 2010 a maio de 2012, 31 engenheiros militares e civis da Marinha receberam treinamento em projeto de submarinos convencionais e de propulsão nuclear em Lorient, na França, na Escola de Projeto de Submarinos (École de Conception dês Sous-Marins) da empresa francesa DCNS. Com o retorno deste grupo ao Brasil, a Marinha iniciou o projeto do submarino com propulsão nuclear em julho de 2012, ocasião em que inaugurou o Escritório Técnico de Projetos no Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo (CTMSP), especialmente equipado com avançados recursos tecnológicos de informação.

Equipe do escritório Técnico de Projetos no Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo (CTMSP)

“Atualmente, a equipe dedicada ao projeto do submarino com propulsão nuclear totaliza 105 pessoas e, gradativamente, outros profissionais serão integrados ao grupo”, expõe Almirante Alan Paes Leme Arthou, Gerente de Projeto e Construção do Submarino com Propulsão Nuclear da COGESN.

“Até julho de 2013, este grupo trabalhou na elaboração e conclusão da primeira etapa – o projeto de concepção do submarino – e, até o término do projeto, estimamos o envolvimento de cerca de 450 pessoas.”

O processo de contratação dos recursos humanos necessários ao desenvolvimento das fases seguintes do SN-BR – o projeto básico e de detalhamento – está em andamento desde o início de 2014.

Embora a fase inicial conte com maioria de militares, foi engajado ao projeto a Amazônia Azul Tecnologias de Defesa S.A. – AMAZUL, empresa vinculada ao Ministério da Defesa, por meio do Comando da Marinha, criada em agosto de 2012, com o objetivo de fomentar e desenvolver o setor nuclear brasileiro, especialmente nas questões concernentes ao projeto e à construção do submarino com propulsão nuclear. A AMAZUL poderá, através de concurso público, recrutar, no mercado, a mão de obra não militar necessária ao projeto.

A etapa de concepção do SN-BR demandou o período de um ano e à medida que o projeto se desenvolve, o volume de trabalho e a complexidade do projeto tornam-se crescentes. Na fase atual do projeto básico, por exemplo, que demandará dois anos e meio, além da visão global do submarino, é necessária a identificação clara das características de todos os elementos construtivos, equipamentos e soluções técnicas da embarcação para minimizar alterações futuras no projeto de detalhamento e, principalmente, durante a construção do submarino.

CA EN Alan Paes Leme Arthou

Almirante Alan Arthou enfatiza que a definição dos elementos corretos nesta fase do projeto é fundamental para o sucesso do empreendimento.

“O projeto básico deve ser elaborado com o mais alto padrão de qualidade e confiabilidade. Entendemos que um projeto bem feito minimiza, e muito, os problemas que surgem no período da construção. E, no caso do submarino, não podemos sequer considerar a possibilidade de revisão de projeto porque isto poderia ser fatal para o programa.”

A metodologia de elaboração do projeto, implementada sob a orientação técnica da DCNS, exige a documentação de toda e qualquer interferência ao longo do desenvolvimento do projeto, ou seja, se algum item for modificado em determinado ponto, este deve ser alterado em todos os documentos que fizerem qualquer referência a este mesmo item. Este procedimento, apesar de resultar um acréscimo expressivo de trabalho, assegura a informação correta para todas as interfaces do projeto.

“Em outra circunstância, este método poderia se configurar como burocrático e até prescindível, mas para um submarino, é essencial”, coloca Almirante Alan Arthou.

“O projeto é como uma espiral: começa com um nível de informação que aos poucos vai crescendo e se avolumando e, a cada volta da espiral, a inclusão de novos dados resulta a revisão de todo o projeto. Assim, é como se o submarino fosse projetado várias vezes, porém cada vez com informações mais precisas e convergentes.”

O desenvolvimento do projeto utiliza, como referência, todas as informações disponíveis de outros submarinos, inclusive convencionais, as quais são atualizadas e analisadas, sob as condições e necessidades do submarino com propulsão nuclear, chegando-se então, às especificações finais das diversas partes do projeto.

Nesta fase do projeto básico, duas equipes de apoio logístico integrado atuam simultaneamente: uma, no CTMSP em São Paulo, que trata do estudo das características dos equipamentos e do arranjo do submarino para permitir a manutenção a bordo; e, outra no Rio de Janeiro, responsável por averiguar a logística de manutenção da embarcação atracada ou no dique, ou seja, determinar o tipo de apoio, o maquinário e os procedimentos necessários ao futuro estaleiro de manutenção em Itaguaí-RJ.

Ainda nesta etapa, além das atividades do projeto e do apoio logístico, a seleção dos fornecedores para o submarino com propulsão nuclear será finalizada, bem como a obtenção de informações dos itens contratados, fornecidas pelos fabricantes e fundamentais para o término do projeto.

“Este é o período em que completaremos o nosso programa de nacionalização do submarino com propulsão nuclear”, expõe Almirante Alan Arthou, enfatizando a importância da participação de empresas capazes de desenvolver produtos ou equipamentos no Brasil.

“É preciso aproveitarmos a oportunidade do PROSUB para alavancar no país, um desenvolvimento tecnológico sólido e duradouro e, neste campo, a interface entre a iniciativa privada e a universidade deve ser ampliada e fortalecida em proveito de maior desenvolvimento tecnológico nacional.”

FONTE:Technonews

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