Por Alejandro Sanchez
Um fato obscuro de assuntos militares da América Latina é que a Marinha do Brasil possui seu próprio porta-aviões. O navio, agora com cinquenta anos de idade, está passando por reparos para que possa servir para pelo menos mais uma década. No entanto, dado o ritmo acelerado da geopolítica da América do Sul, e assuntos de geosecurity, sérias questões devem ser levantadas se o Brasil realmente precisa ou não de um porta-aviões em sua Esquadra.
O Porta-Aviões
O Brasil adquiriu o seu da França, em Novembro de 2000: o navio é da classe Clemenceau, desloca 36.000 toneladas, de propulsão não-nuclear, e foi construído no início da década de 1960. Originalmente batizado como Foch, enquanto servia a França, entrou na doca seca em Saint-Nazaire em 1957, sendo lançado três anos depois e rebocado para o arsenal de Brest para conclusão. Entrou em serviço ativo em 1963 e deu baixa da Marinha Francesa em 2000, quando o PAN Charles de Gaulle entrou em serviço.
Quando foi vendido para o Brasil, o Foch foi rebatizado como navio-aeródromo São Paulo (A 12). Vale a pena notar que o navio substituiu outro porta-aviões operado pelo Brasil, o NAeL Minas Gerais (A 11), que foi lançado pela Inglaterra durante a Segunda Guerra Mundial (e batizado de HMS Vengeance). O Minas Gerais serviu por 41 anos na Marinha do Brasil, de 1960 até dar baixa em 2001.
O site MilitaryFactory.com fornece alguns detalhes adicionais sobre o São Paulo, explicando que “apresenta um perfil típico ocidental, com um convoo em ângulo, permitindo o lançamento de duas aeronaves de asa fixa ao mesmo tempo”. O navio tem um comprimento total de 869 pés, e é capaz de atingir a velocidade máxima de 32 nós, possuindo uma tripulação de mais de 1.900 homens. No que diz respeito as aeronaves transportadas, um comunicado de imprensa de dezembro 2013 da francesa DCNS, que está atualmente atualizando o São Paulo, diz que o navio de guerra brasileiro tem 18 aviões Douglas A-4 Skyhawk.
Enquanto isso, uma nota de Dezembro de 2012, a agência de notícias brasileira R7 explica que o porta-aviões também tem helicópteros de transporte Super Puma e helicópteros leves Esquilo. Tragicamente, o São Paulo não serviu na Marinha do Brasil sem incidentes a bordo, como os acidentes em 2005 e 2012, que matou e feriu um número de marinheiros.
O São Paulo é o único porta-aviões atualmente em uso por uma Marinha latino-americano. No entanto, o COHA (Concil on Hemispheric Affairs) foi incapaz de descobrir informações sobre os tipos de operações em que o porta-aviões esteve envolvido durante a década em que vem navegando sob a bandeira do Brasil . Uma análise no site WarisBoring explica que o São Paulo tem participado em exercícios navais, como com o USS Ronald Reagan, em 2004.
Além disso, aviões argentinos, ocasionalmente, pousaram no navio brasileiro, que serve como uma iniciativa de construção de confiança entre as forças navais dos dois países vizinhos.
Atualização
Parece que a Marinha do Brasil tem planos para o São Paulo. No início de janeiro de 2014, a DCNS tinha sido convidada pela Marinha do Brasil para inspecionar catapulta de vante do São Paulo. Os reparos começaram em novembro de 2013 no Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro (AMRJ).
Em relação à reabilitação do navio de guerra brasileiro, em um comunicado de imprensa, em dezembro 2013, a DCNS explica que “a catapulta a vapor, que já realizou mais de 5.000 lançamentos, é um elemento chave para a capacidade do porta-aviões”, informando ainda que “após a intervenção da sua equipe, a catapulta realizou dois disparos, demonstrando o desempenho esperado e que as autoridades brasileiras manifestaram a sua satisfação”.
O Brasil e a evolução Militar e Geopolítica
Graças à sua forte economia na última década, as forças armadas brasileiras estão realizando compras de armas importantes, que ajudarão o gigante de língua Portuguesa a consolidar-se como a potência militar mais importante da América Latina.
Ao longo das últimas décadas, o COHA escreveu vários e abrangentes relatórios sobre a evolução militar no Brasil e suas aquisições de armas, enumerando apenas alguns dos exemplos mais proeminentes, além da modernização do São Paulo, a Marinha do Brasil está construindo, com ajuda francesa, um submarino movido a energia nuclear. Este submarino tem sido um sonho da Marinha desde o período do regime militar no país (1964-1985). Paris também está ajudando o Brasil a construir quatro submarinos diesel-elétricos, variantes do projeto francês Scorpene.
Enquanto isso, a Força Aérea Brasileira está recebendo uma reformulação com a escolha por Brasília, após vários anos de negociações, do Gripen (produzido pela empresa sueca Saab) como seu novo avião de guerra.
Durante anos, os analistas no COHA acreditavam que o governo brasileiro iria escolher o Rafale, produzido pela Dassault. Mas em dezembro de 2013, Brasília finalmente optou pelo modelo sueco. O Brasil vai comprar 36 caças Gripen em um acordo de US$ 4,5 bilhões. Quanto ao Exército Brasileiro, este tem comprado mísseis Shorad para atualizar seu arsenal. Os mísseis serão utilizados para proteger os céus das cidades que vão sediar os jogos da Copa do Mundo FIFA 2014.
Vale a pena notar que, dignitários estrangeiros relacionados com a defesa, viajam regularmente ao Brasil para pressionar o governo de Dilma Rousseff, em um esforço para persuadi-lo a comprar mais armamentos. Por exemplo, o ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu viajou a Brasília em outubro de 2013 para discutir a venda do sistema de mísseis Pantsir-S1 e Igla, um negócio que, se acordado nos próximos meses, poderá alcançar o valor de até US$ 1 bilhão. Enquanto isso, o presidente francês François Hollande visitou o Brasil em dezembro passado para convencer o governo brasileiro a comprar os caças Dassault, uma visita mal sucedida, pois Brasília escolheu o Gripen sueco.
Isso não quer dizer que outras nações do Hemisfério Ocidental não tenham também adquirido novos equipamentos militares ao longo da última década. Por exemplo, os militares venezuelanos também gastaram bilhões de dólares para atualizar suas forças armadas, a maioria voltada para a Rússia, como um dos principais fornecedores de armas. No entanto, como a mídia russa mesmo admite, as relações militares entre os dois países no pós-Hugo Chávez, não têm sido particularmente ideal para os negócios. Um comentário em outubro 2013 da agência de notícias russa Pravda, explica:
“Todos os principais contratos estavam vinculados ao presidente Hugo Chávez. Após sua morte, as complicações na situação sócio-econômica do país, a cooperação de defesa com a Rússia na verdade, chegou a um impasse e o novo presidente da Venezuela, Nicolas Maduro, não está pronto para chegar a um acordo sobre novos contratos”.
Ameaças?
O artigo citado por MilitaryFactory conclui que “o São Paulo continua sendo uma peça fundamental para as operações da Marinha do Brasil na região, tanto para a estabilidade quanto no poder na face sul-americana do Atlântico. Para qualquer poder naval moderno, o porta-aviões é o coração e a alma da Esquadra”.
Mas o Brasil realmente precisa de um porta-aviões?
Certamente o navio é um exemplo de poderio naval, uma vez que ajuda a Marinha do Brasil a aumentar sua projeção de poder. O aumento dos poderes globais, como a China adquirir um porta-aviões, a fim de afirmar-se como potência naval global. Por outro lado, outras nações que já possuem esses navios de guerra gigantescos, estão sofrendo com a crise econômica, e estão reorganizando suas forças armadas. Um exemplo disso é o Reino Unido, que pretende cortar cerca de 20 mil militares dos três ramos de suas forças ao longo dos próximos anos, incluindo 6.000 marinheiros. A Royal Navy está construindo dois novos porta-aviões, o HMS Queen Elizabeth e o HMS Prince of Wales, envolvidos em polêmicas por causa dos altos custos e da redução de pessoal.
Quanto ao Brasil, o país é em grande parte desprovido de qualquer tipo de ameaça a sua segurança, que seria um argumento convincente para que a sua Marinha tenha um porta-aviões (ou um plano para um novo dentro da próxima década). As relações entre o Brasil e a Venezuela, durante a presidência de Hugo Chávez, raramente eram preocupantes e o comércio foi um mecanismo forte de confiança, para evitar escaladas de tensões. Além disso, no final de 2013, houve um grande exercício aéreo no norte do Brasil (CRUZEX), em que diversas forças aéreas participaram, incluindo a dos EUA e da própria Venezuela.
Seria bizarro acreditar que uma porta-aviões é necessário para proteção contra alguns dos vizinhos menores do Brasil, como a Guiana, Suriname e Uruguai. Da mesma forma, as relações com o Peru e a Colômbia, são geralmente cordiais, sendo refletido na cooperação inter-agências contra atividades criminosas, como o tráfico de drogas. Enquanto isso, a Argentina, que era um sério candidato a assumir o papel militar que o Brasil representa na América Latina hoje, tem suas forças armadas como um fragmento do que era antes. Não estão sendo considerados nesta análise a Bolívia e o Paraguai, apesar de ambas as nações fazerem fronteira com o Brasil, mas não possuem acesso ao mar.
O argumento para a construção de um porta-aviões, e do submarino de propulsão nuclear, é de que ajudará a proteger a costa do Brasil, em especial as suas plataformas de petróleo off-shore. O governo vendeu blocos de petróleo para companhias internacionais de petróleo, o que gerou o manifesto de trabalhadores do ramo em 2013. Note-se também que, em 2013, a Marinha do Brasil também adquiriu três Navios-Patrulha Oceânicos (OPV), da gigante britânica BAE Systems, para proteger seus portos e plataformas de petróleo. Certamente, um argumento que pode ser feito pela Marinha do Brasil é de que precisa de ainda mais navios para proteger suas instalações, mas qual, ou quais, países ou redes criminosas vão querer atacá-los, ainda está longe de ser clara.
Como um ponto final, é verdade que o porta-aviões ajuda na estatura naval de uma nação, mas o navio também precisa participar de algum tipo de manobra naval, a fim de mostrar que é operacional e útil. Exercícios militares com outras marinhas, são um bom exemplo disso. Mas pode-se perguntar se o São Paulo, uma vez operacional novamente, e antes de ser aposentado, poderá ser usado como uma embarcação de apoio para alguma operação de segurança multinacional, como parte das Nações Unidas ou de uma coligação internacional no combate à pirataria ao largo da costa da Somália.
Conclusões
Relatórios sobre o acordo de compra do caça Gripen, em dezembro de 2013, o site de notícias de defesa Defense Industry Daily explicou que a Marinha do Brasil “tem a intenção de comprar 24 caças para operar a partir do porta-aviões que irá substituir o Nae São Paulo no início de 2025”.
Em abril de 2013, tanto um artigo do DID quanto um do site brasileiro Defesa Aérea & Naval, também mencionam rumores de que um novo porta-aviões poderá ser desenvolvido, como já mencionado pela DCNS (o projeto é chamado PA2) e que pode ser vendido ao Brasil, já que a França não estaria mais interessada em adquiri-lo.
É provável que o São Paulo seja aposentado na próxima década. Isto é lógico, pois o navio já está com mais de 50 anos, e pode vir a ser mais caro realizar constantes atualizações, e reparos, ao invés de comprar um novo.
Se o Brasil realmente precisa de um porta-aviões, seja ele o São Paulo, ou um novo daqui a dez anos, continua a ser uma questão altamente discutível. É certo que um porta-aviões ajuda a proteger extensos interesses marítimos do Brasil, mas é duvidoso que o país tenha que enfrentar qualquer possíveis ameaças de segurança, ou seja, uma guerra com outra nação em um futuro próximo. O porta-aviões brasileiro pode ser um dos ativos estratégicos menos conhecidos e utilizados na história militar da América Latina, e no futuro.
FONTE: COHA
TRADUÇÃO E ADAPTAÇÃO: Defesa Aérea & Naval