Por Fabio Graner e João José Oliveira
Nesse sentido, uma fonte lembra que há discussões não só entre as duas empresas, mas também entre os governos brasileiro e americano. Produtos como o KC 390, avião militar produzido pela Embraer, aparecem como um dos focos dessas discussões.
Na visão do governo, há um vasto campo para parcerias nas áreas de comercialização, logística, compra de insumos e distribuição de produtos. “A Boeing não tem o produto fabricado pela Embraer em sua prateleira”, destaca a fonte. “Não tem restrição para que se faça parcerias, nem na área civil, nem na militar. O que não vai ocorrer de jeito nenhum é perda de controle ou relação de subordinação de hierarquia”, disse esse interlocutor.
Nos bastidores, interlocutores do governo ressaltam que a possibilidade de venda da Golden Share da Embraer não entrou nas discussões de venda desse tipo de papel pelo ministério da Fazenda, que no ano passado provocou o TCU para se manifestar sobre como deveria proceder em relação a esse tipo de papel. A intenção era vender algumas participações, mas as fontes ouvidas são taxativas em dizer que a Fazenda considerava que a Golden Share da Embraer seria mantida, mesmo antes de se noticiar as negociações entre as fabricantes de aeronaves. “Nunca houve intenção da Fazenda de se desfazer da Golden Share da Embraer”, afirmou, taxativa, uma fonte.
Pouco depois que o Valor noticiou que o governo havia feito a consulta ao TCU sobre a possibilidade de vender as Golden Shares das estatais, representantes da área militar do governo se reuniram com a Fazenda para deixar claro que a Embraer deveria ficar de fora do processo. Teriam ouvido, segundo relatos, que não havia mesmo a intenção de vender esse ativo, segundo uma fonte relatou.
O governo também chegou a discutir a possibilidade de ter Golden Shares em outras empresas da área de Defesa, o que, na visão do setor, seria uma vantagem, dada as especificidades desse mercado. Esse debate, contudo, está parado, embora uma fonte acredite que há espaço para o retorno do tema.
O Valor apurou com pessoas envolvidas com as negociações, que nem Embraer nem Boeing têm intenção de levar adiante qualquer decisão que conflite com interesses do governo brasileiro, em especial naqueles que envolvam a unidade de defesa e segurança. Assim, a ação especial não é impeditivo para que o negócio siga adiante.
Mas a retirada desse fator abre espaço para acordo mais amplo entre as duas fabricantes. A flexibilização das regras de venda de fatias em bloco da Embraer torna menos custosa a atração de uma sócia, ao mudar o atual estatuto social da companhia baseada em São José dos Campos (SP), que prevê uma série de critérios de preço mínimo a ser pago por um adquirente que cobram prêmios de 50% sobre uma avaliação de negócio.
No entanto, segundo uma fonte graduada do governo, não há discussão nem intenção para fazer mudanças nessa direção.
Assim, os modelos de parceria comercial que não envolvem mudança no bloco de controle da Embraer – como joint business agreement (JBA) ou joint venture -, são preteridos se a Boeing puder ter assento no conselho da Embraer após um aporte novo de recursos.
Para a Embraer, aportes são bem-vindos, porque entende que a indústria aeroespacial mundial passa por um processo de consolidação, no qual precisará de mais fôlego para investir. Para isso, a empresa precisa de soluções de mercado, considerando a parceria com a Boeing, o movimento mais promissor. No último ciclo de expansão – desenvolvimento de jatos executivos, aviões comerciais da família E2 e do cargueiro KC-390 -, foram utilizados mais de US$ 5 bilhões em cinco anos.
FONTE: Valor