Por Francisco Góes
Na operação com a Boeing, a área de aviação comercial da Embraer será cindida e a brasileira passará a deter duas atividades debaixo dela: defesa e segurança e aviação executiva. Na transação com a Boeing, serão criadas duas novas empresas. A primeira é justamente a da aviação comercial, na qual a Boeing terá 80% das ações e a Embraer, 20%. A outra joint-venture a ser criada é a do KC-390, na qual a Embraer terá 51% e a Boeing, 49%. Essa sociedade, chamada de EB Defense, terá sede em Delaware,nos Estados Unidos.
A perspectiva de que a Embraer remanescente incluindo defesa, segurança e jatos-executivos, possa andar com as próprias pernas e dar retorno a médio prazo é importante para que os acionistas da companhia aprovem a operação com a Boeing na assembleia do dia 26. E nesse jogo de cálculos o KC-390 tem papel preponderante.
O projeto do KC-390 remonta aos anos 2000, quando a FAB teve que definir o futuro de sua frota de cargueiros, os Hércules C-130,produzidos pela Lockheed Martin.
Hoje a FAB tem oito unidades desse tipo. Ao deliberar sobre a frota de cargueiros, a FAB considerou que seria melhor desenvolver um projeto novo, o que seria menos custoso em uma perspectiva de longo prazo, embora a compra de um novo Hércules pudesse representar economia de custos a curto prazo. Em 2010-2011, a FAB assinou contratos comprometendo-se a colocar US$ 1,3 bilhão no desenvolvimento do projeto. A ideia era que em 2016-2017, a aeronave pudesse entrar em operação, mas a crise fiscal contingenciou valores e atrasou a entrada em operação final do cargueiro, agora estimada para o segundo semestre de 2019.
Uma vez que a FAB incorpore a primeira unidade do KC-390 à frota estará encerrando um ciclo de pesquisa e desenvolvimento (P&D), que gerou protótipos, ensaios em voo e certificações. Já existe contrato entre Embraer e FAB para fornecimento de 28 unidades cujo prazo de entrega vai depender do crescimento da produção.
Há informações, no mercado, de que a quarta unidade já teria entrado em linha de produção em Gavião Peixoto (SP). Especialistas dizem que a Embraer fez contratos de fornecimento de partes e peças do cargueiro com países parceiros (Argentina, Chile, Colômbia, Portugal e Checoslováquia).
Portugal sinalizou, embora haja questões políticas internas que possam dificultar o negócio, que poderia comprar cinco unidades, transação de meio bilhão de dólares, equivalente a cerca de 10% da receita operacional anual da Embraer, de US$ 5 bilhões. A questão, segundo especialistas, é que o acordo com a Boeing tem potencial de abrir mercados relevantes para o KC-390, com a aeronave podendo ser certificável, por exemplo, para países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
Os EUA, diz um analista, poderá oferecer o KC-390 geopoliticamente nas suas áreas de influência, incluindo Oriente Médio e Oceania. A avaliação de analistas é que com a parceria da Boeing o KC-390 poderá disputar mercado no mesmo segmento do Hércules C-130.
Haveria hoje no mundo mais de 2,5 mil Hércules C-130 passíveis de substituição, sendo que o prospecto inicial da Embraer previa capturar cerca de 1/3 desse total, ou algo como 800 unidades, o que daria sustentabilidade ao negócio da empresa por mais de 20 anos.
FONTE: Valor Econômico