Por Fabio Graner
Ainda assim, conforme apurou o Valor, há uma série de questões a serem resolvidas para que se chegue a um formato final viável comercialmente e que ainda gere efeitos positivos ao Brasil e à Embraer. Entre elas estão a definição do tamanho exato da participação das fabricantes de aeronaves nessa terceira companhia, as condições econômicas a serem apresentadas, como volume de investimentos e o modelo de atuação dessa nova empresa, de forma que não afete também a operação da Embraer.
Embora as negociações estejam ocorrendo entre as duas empresas, o desenho final será submetido ao governo, que é terceira parte nas negociações, dando alguns direcionamentos. Assim, a visão comercial também está subordinada a questões de geração de benefício não só para Embraer, mas também para a economia e a indústria de defesa nacional, que tem forte simbiose com o setor aeronáutico.
Para a Embraer, um acordo com Boeing é importante, pois abriria mais possibilidades no mercado internacional no segmento em que já é líder, mas onde a concorrência está se intensificando. Para a Boeing é ainda mais urgente, dado que está perdendo terreno para sua principal concorrente, a Airbus, e há alguns dias sofreu um revés com a decisão da Comissão Americana de Comércio Internacional (USITC) avaliando como injustificado o imposto extra aplicado por Washington às aeronaves C-Series, da canadense Bombardier, que se aliou à europeia.
No início da semana passada, o presidente Michel Temer reafirmou em entrevista ao Valor que o governo não aceita de forma alguma que o controle da Embraer fique com a Boeing, que apresentou duas propostas nessa direção: uma para controle total e outra só para controle da área comercial civil da empresa, deixando de fora a militar. Ambas ideias foram rejeitadas, com o governo exercendo seu poder de veto dado pela golden share – ação de classe especial que dá direitos especiais ao governo.
Com ideia da criação da terceira empresa ganhando força, tenta-se afastar o risco de perda de autonomia da Embraer, além de afastar preocupações da sueca Saab, que já demonstrou ao governo brasileiro seu temor com uma aquisição da Embraer pela Boeing. A Saab venceu em 2013 a licitação brasileira para compra de 36 caças e um dos fatores foi a decisão de transferir tecnologia. Os suecos sinalizaram que esse acerto estaria em risco caso a Embraer passe ao controle da americana, afetando segredos da empresa nessa área.
Na sexta-feira, em comunicado, devido à alta de suas ações na B3, a Embraer reafirmou que negociação do grupo de trabalho ainda continua, podendo “incluir a criação de outras sociedades”.
FONTE: Valor