Parte importante da cadeia produtiva dos aviões produzidos pela Embraer, os fornecedores temem ser trocados por companhias internacionais que já atendem à Boeing em outros países. “Nosso destino está atrelado à Embraer. Queremos ter algum nível de influência nessa negociação, porque estão decidindo a vida das nossas empresas e dos nossos empregos”, disse Cezar Augusto Teixeira, diretor do Ciesp.
O documento, que também é assinado pela Prefeitura de São José dos Campos e pelo Instituto Invoz, que tem como presidente de honra o ex-ministro Ozires Silva, um dos fundadores e ex-presidente da Embraer, diz que toda a indústria aeronáutica brasileira tem manifestado “irrestrito apoio ao sucesso das negociações” entre as duas companhias. Uma associação, segundo o manifesto, resultará em oportunidades de negócios para toda a base industrial aeronáutica. “Essa fusão pode trazer novos negócios para a Embraer e para seus fornecedores, além de acesso aos mercados que normalmente temos dificuldade de atingir”, complementa o diretor do Ciesp.
Pelos cálculos de Teixeira, a fusão entre as duas fabricantes de aviões permitirá às empresas brasileiras disputar o mercado mundial de fornecedores, que movimenta US$ 60 bilhões por ano. Desse montante, 40% são produzidos na América do Norte, 40% nos países europeus e 20% na China. Para Teixeira, que é sócio da Akaer, um grupo de sete empresas que fornecem sistemas de engenharia e componentes para as aeronaves da Embraer, a Boeing pode abrir o mercado para o Brasil, estimulando a criação de empregos de qualidade na região. Atualmente, a cadeia de fornecedores da Embraer emprega cerca 4 mil trabalhadores. “Se pegarmos participação de 1% ou 2%, podemos faturar acima de US$ 1 bilhão”, avalia o executivo.
De acordo com os empresários da região, desde que as duas fabricantes anunciaram o interesse em torno de uma cooperação comercial, em dezembro do ano passado, nunca a assinatura da parceria esteve tão próxima. Entre os pontos mais debatidos até agora está a preservação de informações de defesa e segurança da empresa brasileira, responsável pelo desenvolvimento dos equipamentos de controle de fronteira e pela fabricação de aviões para o Exército brasileiro.
A ideia do Ciesp é que o governo brasileiro, que é dono de uma ação de classe especial (golden share) que lhe assegura o poder de veto, interfira de forma a garantir que as fornecedoras continuem existindo. Para isso, sugere que seja criado um programa de capacitação e modernização com parâmetros de preço e qualidade dos equipamentos e produtos para atender ao mercado externo.
Segundo Teixeira, o setor não quer proteção, mas apoio institucional em uma fase de transição e até a possibilidade de negociar para que as empresas brasileiras participem da cadeia de fornecedores da fabricante norte-americana. “Não falamos em proteção, mas de apoio institucional, suporte, estrutura. Tem-se de preservar a indústria nacional e a cadeia.”
Para o presidente do Instituto Invoz, Manoel Oliveira, que foi o diretor financeiro da Embraer, o momento é de mobilização de toda a cadeia. “Assim como a Embraer, as empresas fornecedoras precisam de novos mercados para crescer. Sozinhas, não vão conseguir”, afirmou ele, lembrando ainda que a única forma de preservar empregos de alta qualidade é expandir mercados. “Nossa defesa é competir, e temos muita competência para isso”.
Oliveira, responsável pelo encontro entre fornecedores e ex-funcionários que resultou no manifesto, acredita que os termos da união entre as duas companhias devem sair nos próximos 15 dias. Segundo ele, as duas empresas precisam dessa fusão e a Embraer não pode perder esta oportunidade. “Queremos que o Brasil não dê um passo atrás”.
FONTE: Correio Braziliense