Por Francisco Góes
As embarcações serão construídas no país com exigência de conteúdo nacional entre 30% e 40% e vão demandar investimentos de US$ 1,6 bilhão em oito anos. Até o fim de outubro a Marinha deve anunciar uma “short-list” com os finalistas desse processo concorrencial que envolve, no total, nove consórcios formados por empresas europeias e asiáticas, associadas a estaleiros nacionais.
Na concorrência, se enfrentam grandes empresas europeias do segmento de defesa e segurança, caso da alemã Thyssenkrupp Marine Systems; da francesa Naval Group (ex- DCNS); da britânica BAe Systems; do consórcio sueco-holandês Damen SAAB; e da italiana Fincantieri. Há ainda representantes da Índia, da Turquia e da Ucrânia.
No mercado, há informações não oficiais segundo as quais, em outubro, a Marinha poderia escolher apenas três consórcios para permanecer na “briga” pelas corvetas. Desses três sairia o vencedor. Existe ainda a expectativa de que a escolha da melhor oferta final possa ocorrer até o fim do ano, embora não se descarte que o desfecho do processo possa ficar para o próximo governo, em 2019.
A Marinha informou que as “proponentes” tiveram a opção de apresentar a proposta de um projeto próprio para construção da corveta ou optar pelo projeto de propriedade intelectual da Marinha. As especificações foram descritas em uma solicitação de oferta (conhecida no setor como RFP, iniciais de “request for proposal”), documento com 1,6 mil páginas. A RFP foi lançada em dezembro de 2017 e, segundo informações de mercado, inicialmente 20 grupos se interessaram na concorrência, mas somente nove consórcios apresentaram propostas.
Ainda de acordo com a Marinha o conteúdo local mínimo exigido para as corvetas é de 30% para o primeiro navio e de 40% para as demais embarcações. O objetivo do programa é expandir e modernizar a força naval brasileira. Hoje a Marinha conta com 11 navios escolta, categoria na qual se incluem as corvetas, e, em dez anos, a previsão é de que haja somente um desses navios em operação dada a avançada idade da frota. Foi frente a esse cenário que surgiu o projeto das corvetas classe Tamandaré. A Marinha acredita que o projeto vai contribuir para desenvolver a base industrial de defesa, incluindo uma cadeia logística de reparos e suprimentos “independente” e a absorção de tecnologias. As propostas apresentadas pelas multinacionais consideram transferência de tecnologia para a construção dos navios militares no país.
“Temos um modelo de negócio em que sempre buscamos ter parceiro local nos mercados onde atuamos”, disse o diretor financeiro da Thyssenkrupp Marine Systems, Sebastian Schulte. A empresa alemã, que já tem um histórico de fornecimento de submarinos à Marinha do Brasil, fez parceria com a Embraer e a Atech, tendo o estaleiro Oceana, de Itajaí (SC), do grupo CBO, como subcontratado, para disputar as corvetas. Schulte disse que haverá transferência de tecnologia para o estaleiro. A Thyssen aposta, como diferencial, no conceito Meko aplicado aos projetos de navios feitos pelo grupo.
Outro participante da concorrência, a italiana Fincantieri conta com um estaleiro próprio do grupo, o Vard-Promar, em Pernambuco, para construir as corvetas. “Queremos crescer no Brasil e a ideia é fazer navios mercantes e militares no estaleiro”, disse Stelio Vaccarezza, presidente da Fincantieri do Brasil. A Fincantieri formou consórcio com a também italiana Leonardo, especializada no sistema de armas, e com o Vard-Promar. “Ofertamos quatro navios a serem feitos no Brasil”, disse Vacarezza. A observação se justifica pois a licitação da Marinha abre a possibilidade de a primeira corveta ser construída no exterior. Os italianos preveem a transferência “total” de tecnologia de alto valor para empresas brasileiras.
Eric Berthelot, presidente da Naval Group no Brasil, disse que a empresa disputa a concorrência da Marinha do Brasil com um projeto próprio, baseado no modelo de corveta da classe “Gowind 2500”, que já teve uma primeira unidade entregue ao Egito, de uma série de seis. No caso do Egito, os navios militares estão sendo construídos por estaleiro que não tinha experiência em navios militares, o que comprova o sucesso dos pacotes de transferência de tecnologia da Naval Group, disse Berthelot. Ele acrescentou que o grupo tem uma relação em andamento com a Marinha do Brasil no programa dos submarinos, acertado entre França e Brasil. O consórcio da Naval Group reúne empresas do grupo Odebrecht, incluindo o estaleiro Enseada Indústria Naval (BA).
O consórcio Damen-Saab informou, por sua vez, que a sua proposta envolve um extenso programa de transferência de tecnologia, com parcerias e fortalecimento de empresas locais, beneficiando a indústria de defesa do país.
“Engenheiros e técnicos passarão por treinamentos na Suécia, na Holanda e em outros países. Muitos treinamentos também serão realizados no Brasil”, disse o consórcio. O estaleiro subcontrado será a Wilson Sons, no Guarujá (SP). A ideia é utilizar o navio de combate classe Sigma, e adaptá-lo às exigências da Marinha.
A BAe Systems fechou consórcio com a Consub e o estaleiro Mac Laren, de Niterói (RJ).
Além dos consórcios citados, também estão na disputa a indiana Elbit Systems, com o Sinergy Group; a também indiana Goa, com o estaleiro Indústria Naval do Ceará (Inace); a STM, da Turquia, com o estaleiro Brasfels (RJ), Thales e Omnisys; e a ucraniana Ukrinmash, com a Thales e o Arsenal da Marinha, no Rio.
FONTE: Valor Econômico