Por Luiz Padilha e Guilherme Wiltgen
O projeto da Marinha do Brasil
O projeto de concepção da nova Corveta brasileira teve início com a Diretoria Geral de Material da Marinha (DGMM) solicitando ao Centro de Projetos de Navios (CPN) que elaborasse os requisitos necessários para uma Corveta moderna com foco em uma evolução do projeto da Corveta Barroso. Na sequência, foi realizado um Estudo de Exequibilidade (EE), que constatou que a nova Corveta para atender o que a MB desejava, um novo navio teria que ser projetado, dada a obsolescência da Barroso.
Após o desenvolvimento do projeto básico da nova Corveta, a MB entendeu que havia a necessidade de uma avaliação externa para validação do projeto, realizou uma licitação para serviços de engenharia específicos e especializados para que o projeto do CPN fosse revisto. O estaleiro Vard Niterói foi o vencedor da licitação e conduziu os serviços de engenharia específicos e especializados,necessários para o desenvolvimento do projeto. Seguindo as exigentes normas do RINA – Registro Navale Italiano, o projeto recebeu inúmeras modificações e melhorias, como por exemplo, a eliminação do sistema de tanques compensados de combustível (mistura de combustível e água) utilizado na Barroso, ocasionando modificações no formato do casco sem prejuízo da estabilidade do navio. O projeto de validação foi entregue à MB que então pôde prosseguir com o programa.
Licitação para a CCT
Para participar da concorrência para o programa CCT, foi criado um consórcio entre a Ficantieri, a Leonardo e o estaleiro Vard Promar (um dos poucos estaleiros que operam hoje no Brasil). As empresas Fundação Ezute e Ares Aeroespacial e Defesa, foram contratadas para dar suporte ao consórcio.
Segundo o Sr. Vaccarezza a opção pelo projeto original da Marinha do Brasil foi o caminho natural para atender o que a MB desejava, e por se tratar de um projeto 100% nacional, não haverá o pagamento de royalties, e isso é um fator importante na hora da escolha do vencedor.
Mas quais são as características da oferta da Fincantieri para a CCT? Segundo o Sr. Vaccarezza alguns detalhes podem ser descritos, outros não, e ele explica que por se tratar de uma concorrência entre grandes empresas, outros detalhes que estão na proposta, só a MB tem ciência.
Mas alguns são de conhecimento público, como por exemplo:
- O canhão principal OTO Melara SR de 76mm;
- Sistema de Lançamento Vertical (VLS) para o míssil Sea Ceptor;
- Motores de propulsão à diesel MTU;
- Sistema de hélices de passo variável com capacidade de embandeiramento;
- Radar Artisan 3D;
- Sistema de combate desenvolvido pela Fundação Ezute baseado no CMS ATHENA da Leonardo;
- Sistema Optrônico e lançador triplo de torpedos da Leonardo e Sonar de casco da Ares (a ser produzido no Brasil), entre outras especificações que a Fincantieri colocou em sua proposta.
Para Vacarezza, um fator importante da proposta da Fincantieri é o fato da empresa ser a dona do estaleiro VARD Promar no Brasil, não necessitando realizar parcerias com estaleiros nacionais que não tem expertise na construção de navios militares, e justamente por já possuir parceria com muitas empresas nacionais, atingir os 30% de nacionalização do primeiro navio não será um problema.
O estaleiro VARD Promar fica na cidade de Ipojuca, Pernambuco e hoje produz navios complexos para uso na área de off-shore. Para a construção das Corvetas Classe Tamandaré, o estaleiro já possui mão de obra especializada que será gerenciada por engenheiros italianos da área militar da Fincantieri.
O Off-Set e o ToT do programa CCT
A proposta italiana prevê a construção de todas as quatro unidades das Corvetas Classe Tamandaré no Estaleiro VARD PROMAR. Essa decisão vai permitir satisfazer as necessidades e/ou demandas mais urgentes da Marinha do Brasil, construir uma moderna classe de navios de guerra no Brasil, utilizando os investimentos já realizados pela Fincantieri e permitindo a transferência de tecnologia, já em curso no setor civil de Óleo & Gás, também para o setor militar e, também, preparar o estaleiro para futuras construções navais complexas, como, por exemplo, as fragatas.
A proposta da Ficantieri prevê importantes projetos de compensação industrial ou “Offset”, tais como:
- Modernização de mais uma unidade naval, a Corveta Barroso (V 34), gerando aumento na capacidade operacional da Marinha do Brasil, provendo a esta unidade naval os mesmos armamentos (exceto o VLS), CMS, sensores e o radar 3D, padronizando com a CCT;
- Modernização do Arsenal da Marinha do Rio de Janeiro (AMRJ), com a recuperação da capacidade de suas principais oficinas, pontes rolantes e a Porta Batel do Dique Alte. Régis;
- Treinamento do pessoal da Marinha, por meio de um moderno Centro de Treinamento e
- Transferência total de tecnologia, de alto valor, para as empresas brasileiras.
Os principais aspectos da proposta italiana para a Transferência de Tecnologia são:
• Transferência integral da propriedade dos projetos à Marinha do Brasil e à indústria naval brasileira, para o desenvolvimento dos mesmos no país;
• Desenvolvimento para esta finalidade do sistema de combate e da arquitetura dos sistemas eletrônicos (com produção parcial no País);
• Formação e qualificação de especialistas para a indústria naval brasileira;
• Criação de uma cadeia de produção local especializada, composta por pequenas e médias empresas;
• Garantia de uma constante e permanente atualização tecnológica, devido aos investimentos já realizados pela Fincantieri no Brasil;
• A potencialização e expansão de estaleiros nacionais e
• Maximização do conteúdo nacional dos navios por meio da nacionalização dos produtos de grandes fornecedores estrangeiros envolvidos no programa.
Como resultado direto destas ações, haverá a criação de novos postos de trabalho, altamente qualificados, no setor estratégico da construção naval. O desenvolvimento, e os investimentos, da indústria naval militar no Brasil, bem como a construção de navios militares, criarão, pelo menos, 10.000 postos de trabalho diretos e indiretos.
Além disso, em decorrência da transferência de tecnologia prevista no programa, o Brasil e a MB serão capazes de darem prosseguimento de forma autônoma, ao projeto e à construção de navios, assim como conseguir manter a sua autonomia no âmbito dos sistemas de combate.
Segundo a Ficantieri, a indústria naval brasileira precisa recorrer às melhores tecnologias existentes e estas nos serão efetivamente transferidas por meio dos programas de formação do pessoal.
Fincantieri pelo mundo
O Grupo Fincantieri possui atuação global, buscando sempre estar na vanguarda da construção naval, tanto na área Mercante quanto na Militar. Isso se dá através de seus 20 estaleiros espalhados pela Europa, Américas e Ásia, construindo desde Plataformas de Petróleo, navios de Cruzeiro, de Transporte (Carga, Ferries, Gas Yanker e etc), Militares (Porta Aviões, Submarinos, Fragatas, Corvetas, OPVs e etc) e Yatchs de luxo. Na área de manutenção, a empresa além dos navios, atua também na área de off-shore.
Especificamente na área Militar, os estaleiros que constroem atualmente as Fragatas FREMM para a Marina Militare, estão nas cidades italianas de Riva Trigoso e Muggiano.
Parte da estratégia do Grupo Fincantieri, a Fincantieri do Brasil foi criada para atuar em um mercado com alto potencial de crescimento (off-shore), e agora o militar, através inicialmente do programa de Corvetas Tamandaré, e olhando para o futuro, estar presente para futuros programas (Fragatas/OPVs/NApLog/Navio Aeródromo), que a Marinha do Brasil venha a necessitar.