Por Natasha Niebieskikwiat
O Riachuelo, nome do navio de 72 metros de comprimento e capacidade para 35 tripulantes, faz parte de um acordo de cooperação com a França que contempla o desenvolvimento de um submarino de propulsão nuclear. Isso deixa a Argentina muito longe da estrada, ainda abalada pelo desaparecimento do ARA San Juan há pouco mais de um ano, com 44 tripulantes a bordo, e nenhum orçamento no horizonte extra para o reequipamento militar.
E, embora o governo não revele, o Clarín sabe que diferentes setores militares e diplomáticos da Argentina informaram aos conselheiros do presidente Mauricio Macri, que o plano brasileiro os está incomodando. E uma dessas preocupações é que os setores civis e militares possam afetar a Agência Brasileiro-Argentina de Contabilidade e Controle de Materiais, criada em 1991 com o Mercosul e que tem sido fundamental para o desenvolvimento nuclear de uso exclusivamente pacífico, verificável e de contenção mútua de rivalidades passadas, que os presidentes Raul Alfonsín e José Sarney começaram a cuidar.
Este jornal sabe de altas fontes diplomáticas que Washington também não demonstrou simpatia pelo desenvolvimento brasileiro deste equipamento militar no Atlântico Sul. É uma das questões pendentes agora entre Buenos Aires e Brasília. Apesar dos breves, mas positivos diálogos telefônicos entre Macri e Bolsonaro, entre a equipe do presidente eleito e o governo argentino há uma relação fria e distante. Eles não se conhecem, e Macri ainda não definiu se vai participar da posse de seu futuro colega em 1º de janeiro.
“A Argentina tem a capacidade de fazer um submarino nuclear também”, disse um há alguns meses para a revista DEF, o engenheiro nuclear José Converti, do Instituto Balseiro. Curiosamente em 2010 a ex-ministra da Defesa Nilda Garré, apresentou uma iniciativa para o desenvolvimento de um submarino com propulsão nuclear em um projeto da empresa estatal Invap.
Mas as forças armadas, e com eles a Marinha, se encontram em um estado de falta de equipamento e orçamento, afetadas por denuncias à justiça desde os tempos do kirchnerismo. O golpe foi mais forte com a tragédia do ARA San Juan. Hoje restam apenas dois submarinos, quando no passado o país era líder nesse desenvolvimento.
O submarino Riachuelo foi lançado no Complexo Naval de Itaguaí, próximo ao Rio de Janeiro, e passará por testes de cais para avaliar sua estabilidade e flutuabilidade e em seguida testes de mar, quando então será incorporado daqui à 2 anos à frota de submarinos.
O tipo Scorpene, pesa 1.800 toneladas, é equipado com torpedos e mísseis, e pode ficar até 70 dias submerso a 300 metros de profundidade.
Os submarinos convencionais são do modelo Scorpene e possuem propulsão diesel/elétrica. O Riachuelo é o primeiro do contrato firmado entre Nicolas Sarkozy e o petista Luiz Inácio Lula da Silva. O projeto nacionalista brasileiro com a chegada de Bolsonaro ao poder a partir de 01 de janeiro, poderá encontrar alguns obstáculos para o seu projeto de privatização, precisamente em alguns nichos do Estado gerido por seus aliados militares. O próprio Bolsonaro foi capitão do exército.
O programa foi assinado em 2009 com os estaleiros franceses DCNS (atualmente Naval Group), controlados pelo Estado, e o programa brasileiro é denominado Programa de Desenvolvimento de Submarinos (Prosub).
A construção do Riachuelo inclui transferência de tecnologia e cooperação militar por 6,7 bilhões de euros (aproximadamente US$ 7,6 bilhões). 250 engenheiros e técnicos da Marinha que receberam treinamento em Cherbourg (França) trabalham nos estaleiros brasileiros.
A imprensa brasileira disse na sexta-feira que a transferência de tecnologia se limitava ao projeto e à construção de submarinos e infraestrutura industrial, mas não ao desenvolvimento da propulsão nuclear. O Brasil tem sua própria tecnologia.
O objetivo, indicaram, é a defesa da chamada “Amazônia Azul”, já que a Marinha faz referência aos quase 4,5 milhões de quilômetros quadrados de águas marinhas brasileiras, possuidoras de uma grande biodiversidade de espécies e gigantescas reservas minerais e de óleo. Curiosamente, o cuidado ambiental não está entre os planos que simpatizam com Bolsonaro, que manifestou interesse em se retirar do Acordo de Paris, como Donald Trump.
Os outros três submarinos convencionais já estão em construção e estarão prontos até o final de 2022. Após o Riachuelo, o Humaitá será lançado em 2020, o Tonelero em 2021 e em 2022, o Angostura.
O objetivo final do projeto é o ano de 2029, quando o submarino nuclear será lançado e o Brasil passará a fazer parte do grupo exclusivo que domina a tecnologia de propulsão nuclear para submarinos.
O projeto nuclear de um submarino remonta ao Brasil desde 1979, quando estava sob o governo militar. Apenas os Estados Unidos, a China, a França, a Rússia e a Grã-Bretanha, que são membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas, dominam esse terreno.
FONTE: El Clarin
TRADUÇÃO E ADAPTAÇÃO: DAN