Em 2009, a renovação era apenas em seções da aeronave; hoje a capacidade da Força Aérea da Colômbia inclui a atualização total dos Tucanos AT-27.
Por Yolima Dussán
A Força Aérea Colombiana (FAC) ampliou sua capacidade para modernizar aeronaves. Ela recebeu da Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer) a capacidade operacional para atualizar e reparar os Tucanos AT-27, aeronaves de treinamento armado e contra-insurgência, empregados por várias forças aéreas da região.
ImagemA FAC conclui um processo acordado com a Embraer em 2006, quando começou a restaurar componentes mecânicos. Ao receber a última certificação em fevereiro de 2018 relativa a reparos e regulagem de componentes para a extensão e retração das comportas e dos trens de pouso de aeronaves, a FAC adquiriu a capacidade para a intervenção total nos Tucanos AT-27.
Compra e transferência de conhecimento
Em 2005, o Ministério da Defesa Nacional adquiriu 25 aviões Tucano, 14 deles do modelo AT-27, por US$ 237 milhões. Com essa compra, solicitou à Embraer um acordo de compensação (conhecido como Offset), que lhe permitiria gerar transferência de tecnologia. Assim, a FAC começou a capacitar pessoal, com a assessoria permanente do fabricante.
“Em 2009, conseguimos o acordo Offset, no qual a Embraer determinou desenvolver a capacidade para modernizar os AT-27 na Colômbia”, disse à Diálogo o Coronel da FAC Jaime Ernesto Díaz Gómez, comandante do Comando Aéreo de Manutenção (CAMAN), unidade onde se realiza o processo de renovação. “Isso foi possível graças ao Plano Pégaso (Plan Pegaso), um convênio firmado entre a Corporação da Indústria Aeronáutica Colombiana (CIAC) e o CAMAN para unir as capacidades de manutenção, concentrar-se no desenvolvimento tecnológico e comercializar essa capacitação.” Dessa forma, o país adquiriu 14 kits de modernização para os Tucanos AT-27.
Colômbia, a única certificada
“O processo foi importante tanto para a Colômbia como para o Brasil. Embora a Embraer seja a empresa fabricante, a Colômbia é o país com maior experiência na utilização da aeronave, o que impactou de maneira significativa a capacidade de modernizá-la e atualizá-la”, expressou o Cel Díaz. “Hoje, a única entidade certificada para intervir e modernizar os AT-27 é a FAC, através do CAMAN e por convênio com a CIAC, entidade que lidera todo o processo. Isso indica que as forças aéreas dos países que possuam essa aeronave e necessitem intervir em alguma de suas partes ou em sua totalidade devem fazê-lo conosco.”
Esse processo exigiu mais de 60 pessoas e cerca de 10 anos para ser efetivo. A Colômbia conta com uma frota de 14 aviões AT-27, dos quais já modernizou 12. “A certificação abrange os processos de modernização do AT-27, referentes à troca de asas, troca de cabeamento e modernização de um modelo específico de aviônica para esse tipo de aeronaves”, informou à Diálogo o Tenente-Coronel da FAC Diego Beltrán, chefe da Seção de Certificação Aeronáutica da Defesa colombiana.
No desenvolvimento da modernização, a CIAC desempenha outras operações complementares com a finalidade de entregar um produto em excelentes condições. “Essas operações compreendem a inspeção estrutural da aeronave com técnicas de inspeção não destrutivas e controle de corrosão e pintura”, explicou o Ten Cel Beltrán. “Isto significa que foram realizadas inspeções programadas das aeronaves de acordo com o programa de manutenção estabelecido pelo fabricante, com correção de anotações adicionais, como a fabricação e substituição de algumas peças estruturais e a capacidade para realizar o overhaul [reconstrução] dos trens de pouso e suas unidades de potência hidráulica.”
Durante sua trajetória na Colômbia, o Tucano AT-27 desempenhou uma dupla missão: operações de apoio, devido à situação interna, e de treinamento, para a qual foi criado. Hoje ele é empregado apenas para esta última. Os pilotos da FAC aprendem a voar nele.
A Embraer já não produz mais essas aeronaves; daí a importância da capacidade adquirida para sua modernização, que permite aumentar sua vida útil em 20 anos. Os países com modelos AT-27 em sua frota terão que modernizá-los em vez de comprar aviões novos, sem haver esgotado a operacionalidade dos que possuem. As forças aéreas da Argentina, do Brasil, do Egito, da França e do Peru contam com o avião.
CAMAN, unidade insígnia
A FAC conseguiu atingir a sua posição como única entidade certificada graças ao trabalho do CAMAN, sua unidade operacional mais antiga, que possui múltiplas certificações obtidas em diversas especialidades aeronáuticas e expedidas por diferentes entidades tanto públicas como privadas. Na Colômbia, o CAMAN está certificado perante a Unidade Administrativa Especial de Aeronáutica Civil ou Aerocivil em equipamentos hidráulicos e elétricos. Com a americana Honeywell, possui a certificação para os equipamentos de aviônica e controles de combustível. A empresa americana HAS o certificou faz vários anos nos equipamentos servo (acionadores eletro-hidráulicos) aplicáveis a helicópteros Huey II, UH-1H, B212 e B412. A unidade também foi reconhecida pela Bell Helicopter como estação autorizada para a modernização de algumas de suas aeronaves.
“O CAMAN trabalha atualmente na ativação da certificação de metrologia perante a superintendência de Indústria e Comércio colombiana”, finalizou o Ten Cel Beltrán. Contudo, em suas oficinas continua o trabalho de intervenção para modernizar os dois Tucanos AT-27 que faltam, que servirão à FAC por vários anos mais.
FONTE: Diálogo
FOTOS: Ilustrativa