Carl-Gustaf M4 – O inovador Sistema Multifuncional de Combate para Forças Terrestres da Saab

Canhão sem recuo portátil Carl-Gustaf M4 da Saab




Por Luiz Padilha

Em recente visita à Europa, o Defesa Aérea & Naval (DAN) foi até a cidade de Karlskoga na Suécia para conhecer onde a Saab produz seus modernos Sistemas de Combate para Forças Terrestres. O portfólio não é pequeno e é lá que são produzidos os sistemas: AT-4, RBS70 NG, Carl-Gustaf, NLAW e o BILL 2.

A nossa visita devido ao curto tempo disponível, foi centrada no inovador Sistema Carl-Gustaf M4.

Magnus Palmér, Chefe de Comunicação da Área de Negócios Dynamics e Philip Wilöv, Gerente da Área de Negócios Dynamics, receberam o editor do DAN para uma visita a fábrica onde são produzidos os canhões sem recuo portátil Carl-Gustaf M4.

O Carl-Gustaf é produzido desde 1948, inicialmente pela Bofors Anti-Armor AB e atualmente pela Saab Dynamics, como arma de apoio a infantaria e utilizado como arma anti-carro. Desde sua impantação no exército sueco, o sistema foi evoluindo até chegar a versão M4, a mais inovadora.

A versão inicial foi entregue ao exército sueco em 1948, sendo denominada Carl-Gustaf M1. A arma era feita totalmente em aço forjado e devido aos excelentes resultados, foi vendida para o exército da Irlanda, interessado em sua precisão.

Soldados suecos com o Carl-Gustaf M2

Com o feedback dos operadores ocorreu a primeira evolução, uma versão aperfeiçoada em 1964 denominada Carl-Gustav M2. Essa versão era um pouco mais curta e consequentemente um pouco mais leve, o que fez aumentar o interesse de um número maior de exércitos em possuí-la.

A empresa na busca continua pelo aprimoramento de seu equipamento, utilizou novos materiais como fibra de carbono, ligas de alumínio e plásticos na versão denominada Car-Gustaf M3. Como efeito do uso de novos materiais, a arma ficou muito mais leve, passando de 14,2 Kg para 10 Kg.

Carl-Gustaf M3

Na década de 90, o Exército Brasileiro optou pelo Carl-Gustaf M3 para equipar a Brigada de Infantaria Paraquedista, a Brigada de Infantaria Leve e Aeromóvel e o Comando de Operações Especiais.

Soldado da 19º BI MTZ se prapara para atirar com o Carl-Gustaf M3- Foto Sd Lucas Rosa

Carl-Gustaf M4

O que era bom, ficou ainda melhor com a chegada da versão M4, mais moderna e inovadora. Introduzida em 2014, essa versão possui tubo 100% em Titânio, reduzindo seu peso para 7 Kg, proporcionando uma mobilidade sem igual aos soldados no campo de batalha.

Essa versão pode ser utilizada com a mira aberta ou com um engate rápido, utilizar a mira telescópica 557B, além de miras térmais para uso noturno.

O Carl-Gustaf hoje é chamado de arma multipropósito devido ao grande número de munições do mesmo calibre (84mm), incluíndo munições inteligentes, que pode disparar, objetivando diferentes alvos e não apenas contra carros de combate.  Suas munições podem ser utilizadas contra diferentes objetivos, tais como: anti-blindagem, anti-estruturas, anti-pessoal e de apoio/suporte.

Carl-Gustaf M3 a esquerda com a versão M4 a direita e todas as munições disponiveis para uso

Antiblindagem

HEAT 751 – Essa munição emprega alta carga explosiva antitanque, possuindo um forte poder de penetração de mais de 50cm após penetrar a blindagem reativa.

KEART 551C RS – Como a HEAT 751, possui alta carga explosiva podendo tirar de combate veículos blindados, sendo também eficaz contra bunkers e construções.

Antiestruturas

HEDP 502 – Ideal para utilização por forças de ação rápida que precisam ter capacidade para combater diferentes tipos de ameaças, como veículos blindados, prédios, paredes de concreto e bunkers.

MT 756 – Essa munição possui carga explosiva em tandem, e foi desenhada para incapacitar o inimigo em áreas edificadas. Não é necessário por exemplo, disparar através de portas ou janelas, pois ela penetra e explode atrás da parede.

ASM 509 – produzida especialmente para destruir edificações urbanas, e carros de combate.

Antipessoal

HE 441D – Essa munição é para combater em campo aberto, seja por trincheiras ou através de veículos. Ela possui capacidade de ajuste para impacto ou para explodir no ar.

ADM 401 – Munição para defesa de área a curta distância, como selva ou em combate urbano.

Apoio/Suporte

FUM 469C – Munição criada para dar apoio a infantaria, criando uma cortina de fumaça branca, capaz de ofuscar e cegar o inimigo, fornecendo capacidade tática no campo de batalha para os soldados.

ILUM 545C – Durante o combate, essa munição provê rapidamente iluminação, possibilitando aos soldados, cumprir sua missão.

Treinamento

SUBCALIBRE 553B 7,62mm – Este adaptador possibilita melhorar a eficácia dos soldados, reduzindo custos para o exército operador do sistema.

SUBCALIBRE 20mm – Este sistema possui um custo eficiente e realista de treinamento no Carl-Gustaf.

TPT 141 – Esse cartucho de treinamento é utilizado para reduzir custos oferecendo ao atirador, a sensação de um disparo real.

TP 552 – Este projétil de treinamento foi criado para incrementar a capacidade o atirador com projéteis tipo HEAT.

A fábrica do Carl-Gustaf em Karlskoga

Vários canhões sem recuo Carl-Gustaf M4 prontos para serem enviados aos clientes.

Na visita a fábrica fomos recebidos por André Henriksson Ribeiro, um brasileiro que está trabalhando na Suécia há 20 anos e que gentilmente nos auxiliou durante nossa rápida visita. Devido as restrições para a realização de fotos, não foi possível registrar tudo, porém, solicitamos algumas imagens feitas pelo pessoal da Saab para ilustrar nossa visita.

Técnica da Saab montando mais um Carl-Gustaf M4 na fábrica em Karlskoga

André nos explicou como se dá a produção do Carl-Gustaf M4 em Karlskoga. O tubo bruto em Titânio é recebido e usinado na fábrica que em seguida o envia para Linkoping, onde receberá os dispositivos em fibra de carbono que são colados ao tubo e então retornam para Karlskoga, para receberem o acabamento final, com a inserção de todos os equipamentos, como a alça, a mira, contador de cartuchos e outros acabamentos.

Luiz Padilha, editor do DAN em visita a fábrica da Saab em karlskoga

Na ocasião haviam mais de 20 armas prontas para serem enviadas aos clientes e uma coisa que impressiona no ambiente de trabalho, é o silêncio.

Uma das características da versão M4 é seu peso. Alex nos mostrou as diferentes versões do Carl-Gustaf e posso afirmar que a evolução do M2 para o M4 é realmente abissal.

Joahn Owén, Diretor de Marketing e Vendas, mostrou a diferença entre a versão M3 e a M4 quanto ao peso, (de 10 Kg para 7 Kg), mas principalmente o ganho em versatilidade quando se precisa avançar entre ruínas e edificações. O soldado com o Carl-Gustaf deverá estar acompanhado de um soldado municiador, para maior eficiência do equipamento (velocidade de recarga), e durante a movimentação no campo de batalha, a nova alça de transporte faz a diferença, pois é muito mais fácil passar a arma para o companheiro, aumentando a velocidade de deslocamento, o que dutante o combate é um importante diferencial.

Outra qualidade da versão M4 é que a arma pode ser transportada carregada com segurança, o que nas versões anteriores não era possível, além do contador de cartuchos, que lê e armazena automáticamente o tipo de munição inserida e a quantidade de disparos, facilitando o controle do pessoal de manutenção da arma. Segundo informado, a garantia que a Saab dá ao cliente do Carl-Gustaf é de 1.000 disparos.

Atirando com o Carl-Gustaf M4 no Bofors Test Center

Luiz Padilha, editor do DAN com o Carl-Gustaf M4 no stand de tiro

Sou convidado por Magnus Palmér a testar o canhão sem recuo Carl-Gustaf M4 no Bofors Test Center, um local utilizado há anos tanto pela Bofors quanto pela Saab. Os técnicos da Saab me passam uma jaqueta e um fone de ouvido para então nos dirigirmos ao stand de tiro. Lá sou orientado quanto aos procedimentos de segurança para manusear a arma, e me surpreendo pela simplicidade de como se deve operá-la.

Realizo cinco disparos com o SUBCALIBRE 553B 7,62mm, para me familizarizar com o disparo já que nunca havia utilizado uma arma deste porte. Durante os tiros percebo uma tendência de que apesar de mirar no alvo, meus tiros tendem a acertar abaixo do mesmo.

No último reload, o técnico me avisa: agora vai fazer BUM!  Sem saber que tipo de munição foi carregada, me preparo para algo mais forte, realizando os mesmos procedimentos anteriores, e tentando compensar mirando acima do alvo para ver se acerto.

Disparo com a munição TPT 141 de treinamento que possui carga real

Realmente o BUM ocorre, mas foi como os tiros anteriores, a arma não dá coice algum, o que confere ao atirador a possibilidade de um tiro com muito mais precisão. Após o tiro com a munição TPT 141, fomos conferir se eu consegui acertar o alvo que se encontrava a 200 metros de distância. Como tentei compensar mirando mais alto, acabei acertando um pouco acima do alvo, mas com a observação do técnico de que se o mesmo fosse um carro de combate eu teria acertado, o que me deixou satisfeito, pois era a primeira vez atirando com o Carl-Gustaf M4. A carga da munição SUBCALIBRE 553B 7,62mm é menor e como a TPT141 é maior proporcionando um alcance de 700 metros, minha correção não era necessária.

Segundo o técnico, em uma semana de treino eu acertaria no centro. Agradeci pela oportunidade, única para mim, de ter em mãos um equipamento de ponta utilizado atualmente em mais de 40 paises.

Fábrica de munições

Técnica finanlizando a montagem de munição HE 441D de 84mm

Ainda na minha visita as instalações da Saab em Karlskoga, fomos a fábrica onde as munições de 84mm tanto do Carl-Gustaf quanto do AT-4 são produzidas. Em um ambiente totalmente controlado, técnicas trabalham com as minúsculas peças que compõem os diferentes tipos de munição, com destaque para as peças eletrônicas que compõem as munições com retardo.

Técnica soldando minúsculos componentes para espoleta com retardo

A instalação da espoleta é feita por um robô, sendo que a mesma é testada dentro do mesmo processo antes de ser inserida na munição. Na ocasião o robô retirou e descartou uma espoleta que não passou no teste.

Técnica soldando minúsculos componentes para espoleta com retardo

NOTA do EDITOR: O canhão sem recuo Carl-Gustaf M4 é uma excelente opção para o Corpo de Fuzileiros da Marinha do Brasil, pois durante a projeção sobre terra, esse equipamento pode fazer a diferença no combate contra forças inimigas.

Nossos agradecimentos ao Sr Magnus Palmér, Johan Owén e Philip Wilöv, pela atenção dispensada, possibilitando a realização deste artigo. 

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