Por Paulo Ricardo da Rocha Paiva – Coronel de Infantaria e Estado-Maior
O texto extrai dados pesquisados por Ronaldo Schlichting, empresário formado em Administração de Empresas pela UFPR, com vistas a se aproveitar a pertinência da SEMANA DO SOLDADO para uma informação mais detalhada da população sobre a razão pela qual estamos a alimentar o apetite voraz de “leopardos e guepardos”, comprados na União Européia.
O Brasil poderia estar produzindo, em suas versões mais atualizadas, II ou III, um dos mais modernos carros de combate (CC) do mundo. Porém, por uma “garfada” de Tio Sam em 1989, infelizmente, ainda hoje continuamos a importar blindados usados, mal repotencializados e de segunda linha. Nosso “irmão Caim do norte” tramou de tal forma que a Engesa deixou de vender nada mais nada menos do que 702 blindados pesados — os EE-T1 Osório — para o Exército Saudita. Um contrato de expressivos US$ 7,2 bilhões que acabou abocanhado pelo grupo General Dynamics, fabricante do tanque M-1A1 Abrams, segundo colocado nas provas de desempenho promovidas pela Arábia Saudita, testes disputados durante uma semana nas areias do deserto, debaixo de temperaturas beirando os 50 graus Celsius, em que nosso CC, em todos os ensaios, superou o Challenger (inglês), o AMX-40 (francês) e o M-1A1 Abrams (americano).
O jornal O Estado de São Paulo de 10/11/2002 tem registro de um engenheiro de armamentos, ex-executivo da Engesa, que disse: -”Nesse momento as luzes de emergência se acenderam no governo americano. A primeira consequência foi a surpreendente declaração de que a concorrência chegava ao fim com dois produtos possíveis de serem comprados, de acordo com o anúncio feito em Riad pelo ministro da defesa, príncipe Sultan Azsiz Abdulazis. Essa foi a forma encontrada para ceder às pressões de Washington e manter o M1-A1 no páreo. Na época, começou a circular no Senado e na Câmara um documento conclamando senadores e deputados a se envolverem no processo para impedir o fechamento da Engesa, as demissões de trabalhadores e a perda de mercados cativos caso a encomenda do Osório não fosse concretizada com a Arábia Saudita, país nem sempre amigo.”
Contudo, o encontro para a assinatura do protocolo de compra entre os governos do Brasil e da Arábia Saudita, marcado por duas vezes (agosto e novembro de 1990) pelo então presidente Fernando Collor de Mello diretamente com o rei Fahd, não se concretiza. Com a mobilização para a guerra contra o Iraque, a Arábia Saudita anuncia que fecharia contrato não com o Brasil mas com a General Dynamics dos EUA, tomando-se conhecimento que esta formalização com os americanos já havia sido concluída mesmo antes dos contatos de Collor com o rei saudita.
Estes fatos motivam a falência da Engesa que, tendo contraído dívida de peso (US$ 53 milhões), tinha apostado todas as suas fichas no desenvolvimento do OSÓRIO. Por que razões, no mínimo suspeitas, o governo federal não refinanciou a empresa? Que o senhor Collor de Melo, por coincidência o patrono do “kozovo yanomamy”, nos responda!
Em verdade os sauditas “roeram a corda”, mas Fernando Collor deu o “rabo de arraia” não encomendando lote daquele blindado para a Força Terrestre. Resultado, a Engesa implodiu, fechando cinco fábricas e extinguindo cerca de 6 mil empregos com danosas consequências econômicas, sociais e militares.
Depois deste lamentável episódio, o Brasil compraria 87 CC Leopard lAl da Bélgica e 91 M-60 A3 TTS dos EUA, estes últimos, que se diga, sem as mínimas condições de tráfego pelas pontes que cruzam o interior do pampa gaúcho. Os dois últimos protótipos do Osório, remanescentes da massa falida da Engesa, depois de uma árdua campanha cívica, seriam incorporados ao Exército com autorização judicial.
Alerta! Perigo! Por que razões estaria a governança e a politicalha tão estressada com a espionagem cibernética pelos EUA? Seria o receio pelo registro de alguma negociata secreta de comprometimento da soberania? Que o povo brasileiro ganhe novamente as ruas exigindo punição por este crime de lesa pátria!
FONTE: JB On line