Por Ivan Martínez-Vargas
SÃO PAULO – A fabricante de armamentos e equipamentos de defesa Avibras, avaliada como a maior indústria de defesa do Brasil, pediu recuperação judicial nesta sexta-feira e demitiu 400 de seus 1.400 funcionários. A empresa acumula prejuízos nos últimos dois anos e tem endividamento que supera os R$ 395 milhões.
O pedido de proteção contra a falência foi protocolado no fórum de Jacareí, interior de São Paulo, onde a empresa possui uma fábrica. Na petição, a Avibras afirma que as exportações de equipamentos, que correspondem a cerca de 85% de sua receita, minguaram durante a pandemia.
Os demitidos se concentram nas fábricas e áreas administrativas de Jacareí e Lorena, cidades do interior de São Paulo.
A Avibras foi fundada em 1961 e está sediada em São José dos Campos. Fabrica blindados, mísseis, foguetes, drones e softwares destinados à defesa e tem sua receita concentrada em exportações principalmente a países do Oriente Médio e Ásia. Irã e Arábia Saudita, por exemplo, estão entre os compradores de blindados da empresa.
Na petição em que pede proteção contra a falência à Justiça, a Avibras afirma que sua receita despencou durante a pandemia. Em 2019, a receita líquida da empresa foi de R$ 920, 86 milhões. No ano seguinte, já na pandemia, houve recuo de 7,9%, para R$ 848,16 milhões. Em 2021, a receita despencou 73,7%, para R$ 223,22 milhões.
O prejuízo da Avibras, que em 2020 havia sido de R$ 85,69 milhões, aumentou para R$ 134 milhões no ano passado.
Na petição em que pede recuperação judicial, a indústria afirma ter endividamento de R$ 394,75 milhões, sem contar R$ 138,76 milhões de débitos não inclusos na recuperação judicial. O maior montante da dívida, R$ 259,47 milhões, diz respeito a débitos com credores quirografários, sem garantias.
“No mercado no qual a Avibras atua, as demandas, negociações e conclusão de contratos são revestidas de um alto nível de sigilo, uma vez que dizem respeito a questões de segurança nacional e soberania (…). A obtenção de informações sobre aquisições específicas, podem, por si só, gerar conflitos ou tensões entre países.
“Neste sentido, todas e quaisquer aquisições são tratadas em reuniões ou negociações presenciais (…). Logo, a equipe comercial da Avibras se viu impedida de fazer qualquer contato presencial com seus clientes-base por, pelo menos, um ano e meio, dadas as restrições para a realização de viagens internacionais causadas pelo fechamento das fronteiras”, diz a empresa nos autos.
A Avibras diz no processo que “apesar dos impactos causados pela retração dos mercados nacional e internacional nos últimos anos”, prevê um aumento de vendas com a reativação da economia global e diz que “já vem identificando que seus clientes têm aumentado suas operações e (…) reiniciado os projetos que haviam interrompido”.
A previsão da empresa é de retomada gradual dos negócios em 2022 e “de forma mais acentuada” em 2023.
Em nota, a Avibras afirma que iniciou nesta sexta-feira “ações de reestruturação organizacional da empresa, mantendo as atividades essenciais para o cumprimento dos compromissos contratuais assumidos junto aos seus clientes”.
“Nos últimos dois anos, a empresa teve seus resultados fortemente impactados pela pandemia da Covid-19, sobretudo nos aspectos financeiros, com a postergação de negociações dos contratos de exportação e a consequente redução significativa em suas vendas”, diz a nota.
A Avibras afirma que se empenha “na retomada dos negócios, com foco no desenvolvimento de novos mercados e na sustentabilidade empresarial” e não confirma nem nega que possam haver mais cortes nos próximos dias.
O Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, cidade sede da Avibras, protestou contra a decisão. Em nota, diz que a dispensa “pegou todos de surpresa e ocorreu sem prévia negociação”
“Assim que soube dos cortes, dirigentes do Sindicato foram para a fábrica e protocolaram uma notificação extrajudicial à empresa, reivindicando uma reunião com a direção da Avibras com urgência, bem como a suspensão imediata de todas as demissões”, diz a nota da entidade.
O sindicato afirma que medidas como a suspensão de contratos ou a elaboração de um plano de demissão voluntária poderiam ter sido negociados em alternativa às demissões.
No passado, a Avibras recebeu um financiamento de R$ 21,11 milhões do BNDES para a construção de uma planta destinada à produção de resinas em Lorena.
FONTE: O Globo