Por Roberto Caiafa
Durante a apresentação das capacidades do projeto, feita por especialistas da Avionics Services, destaque para o grande potencial em missões táticas de inteligência pelas forças armadas (estratégicas com o advento do sinal de satélite), segurança pública, defesa civil, policiamento ambiental e agro negócio. A ARP “Caçador” é baseado no UAV Heron-1, desenvolvido pela empresa Israel Aerospace Industries (IAI).
O tipo já se encontra em uso no Brasil há mais de 5 anos, sendo operado pelo Departamento de Policia Federal (DPF). A aeronave já cumpriu todos os regulamentos e obteve todas as permissões exigidas pelas autoridades governamentais brasileiras, sendo a única ARP classe 4 nacional até o momento.
Todo suporte de manutenção e serviços é realizado pela própria Avionics no Brasil, o que favorece o pós-venda. O programa abre boas possibilidades de negócios nacionais e internacionais. Segundo João Vernini, presidente da Avionics, o mercado interno pode absorver de 15 a 20 sistemas até 2021 e para o mercado externo projeta vendas de 20 a 30 unidades no mesmo período de cinco anos.
Há 3 anos, a IAI e a Avionics Services trabalham em conjunto para estabelecer uma base industrial brasileira consistente no mercado de sistemas não tripulados. O processo incluiu transferência de tecnologia para garantir uma maior independência da indústria nacional e domínio dos complexos e avançados sistemas.
Após as apresentações das autoridades civis e militares presentes, foi feito um voo com duração aproximada de 60 minutos. O Caçador sobrevoou o aeroporto, a região e suas estradas, transmitindo as imagens para um telão no interior do hangar. A pilotagem dentro da cabine de controle também foi demonstrada durante o voo. Uma rápida cerimônia de “batismo” com o tradicional banho de champanhe contou com a participação de João Vernini e Henrique Gomes, presidente da IAI do Brasil.
Valores e curiosidades técnicas
Um sistema não tripulado completo é composto por três ARP Caçador, três imageadores aéreos MOSP (torretas giro estabilizadas), uma estação de controle e uma antena de comunicação ponto-a-ponto para cada aeronave. O treinamento de efetivos para esse pacote abrange pelo menos 6 pessoas e pode chegar a 30 milhões de dólares. A antena ponto-a-ponto está montada em um reboque e possui suprimento próprio de energia.
Um opcional estratégico é a antena satelital que aumenta de 300km para 1.000km o raio de ação do equipamento. Este recurso deverá estar disponível ao Governo Federal brasileiro após a entrada em serviço do Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações (SGDC), prevista para ocorrer antes do final do primeiro semestre de 2017.
A estação de controle móvel, montada em um container padrão, possui gerador próprio e pode ser ligada a corrente elétrica 110V ou 220V trifásico, o que facilita a instalação. Também dispõe de baterias no-break, para-raios, ar-condicionado e aterramento. Cada cabine pode operar simultaneamente dois aparelhos, que demandam dois pilotos cada um. A estação de controle pode receber ainda um chefe de operações e mais um piloto.
O container de transporte do Caçador permite que asas, fuselagem, sensores, equipamentos de apoio em solo, ferramentas e outros materiais, após a desmontagem do ARP, sejam carregados e preparados para transporte de forma rápida e segura.
O Caçador está equipado com motor Rotax 914, com 115 HP, tem carga útil de sensores de 250 kg, leva 600 litros de combustível e voa a uma velocidade máxima de 112 kt (207 km/h). A velocidade de estol é de 50kt (um número surpreendente propiciado pelas enormes asas), e sua velocidade de cruzeiro ideal é de 65kt, alcançando 40 horas voadas ininterruptamente nesse regime até uma altitude de 30.000 pés (9,2 km de altitude).
Com essa performance, o modelo é virtualmente indetectável e seguro, pois apresenta baixíssima assinatura infravermelha e sonora e pode operar fora do alcance de sistemas MANPADS e canhões antiaéreos guiados de curto alcance, as principais ameaças vindas do solo contra ARPs no cenário sul-americano.
Essa capacidade é complementada por seus sensores, como ficou patente na demonstração. Mesmo voando afastado do aeroporto de Botucatu, a grande altitude, o Caçador transmitiu imagens do hangar da Avionics Services, no solo, a quilômetros de distância, sendo possível reconhecer as pessoas no telão tal a definição das imagens geradas pelo MOSP (a cores).