O Prosub – Programa de Desenvolvimento de Submarinos – é um programa da Marinha do Brasil, cujo cronograma prevê, até 2025, o projeto e a construção de cinco submarinos, quatro convencionais e um com propulsão nuclear.
Nesse período, a Marinha do Brasil terá percorrido um longo caminho de estruturação, revisão, aperfeiçoamento e fortalecimento de todos os processos inerentes ao Prosub, o que lhe assegurará as condições necessárias para cumprir o objetivo do programa, a obtenção do primeiro submarino brasileiro com propulsão nuclear.
A aquisição de tecnologia, a qualificação e retenção dos recursos humanos e a conclusão das instalações físicas são fatores condicionantes ao alcance da meta. Em se tratando de um programa de longa duração, a construção dos submarinos convencionais compõe, oportunamente, um contexto evolutivo de aprendizado e experiências, rumo ao total alinhamento destes pontos até a ocasião de execução do submarino com propulsão nuclear, a etapa final do Prosub.
Garantir bases seguras para esse salto tecnológico é uma determinação constante da Marinha, desde a fase de elaboração dos contratos, cuja equipe técnica, formada para analisar e discutir as cláusulas contratuais com o parceiro francês foi composta por pessoas da área jurídica e por profissionais com experiência e conhecimento em construção e em operação de submarinos. Ou seja, um corpo técnico consistente que pode estabelecer uma negociação eficaz com a França, além de alicerçar as bases e as principais diretrizes do planejamento e do desenvolvimento do Prosub.
Diferentemente do contrato anterior de fabricação dos quatro submarinos brasileiros de tecnologia alemã, em que a primeira embarcação da série foi totalmente executada na Alemanha e as demais no Brasil, no Prosub, a Marinha optou por construir na França, somente a parte mais relevante do primeiro submarino, a seção de vante. Nesse processo fabril, as equipes compostas por profissionais da Marinha e de empresas brasileiras envolvidas no programa puderam mais rapidamente absorver a tecnologia de projeto e do processo construtivo francês, tornando-se potenciais multiplicadores deste conhecimento no Brasil.
Dois fatores contribuíram para os resultados positivos desta etapa: a experiência da Marinha em construção de submarino convencional e, a escolha de pessoas profissionalmente maduras, com amplo conhecimento na indústria naval.
“Apesar de semelhantes, as tecnologias alemã e francesa apresentam diferenças relevantes de concepção e de processos e o objetivo deste treinamento na França não foi aprender a construir um submarino convencional, pois era algo que o Brasil já sabia fazer, mas sim, adquirir uma visão diferente deste processo, com um rigor de documentação, de controle e de garantia de qualidade exigido para um submarino com propulsão nuclear, pois o estaleiro da DCNS na França adota procedimentos técnicos e parâmetros de qualidade únicos para ambas as modalidades de embarcação”, expõe o Engenheiro Mecânico Nilson de Souza Ribeiro Filho, Fiscal do Contrato de Construção de Submarinos Convencionais da COGESN.
No Brasil, a construção dos quatro submarinos convencionais e do submarino com propulsão nuclear prevista, respectivamente, nos contratos no 1 e 2 do Prosub está sob a responsabilidade da Itaguaí Construções Navais (ICN), uma empresa de propósito específico, formada pela francesa DCNS e pela brasileira Odebrecht Tecnologia e Defesa, na qual a Marinha detém uma golden share, que lhe garante o poder de veto sob determinadas ações da ICN.
Estabelecidas as atribuições da ICN, a expertise de construção do submarino no Brasil, exclusiva da Marinha, somada à tecnologia absorvida na França passou a ser transferida para a ICN por meio de contratos firmados com a Nuclep – empresa estatal brasileira que participou da execução dos primeiros submarinos da Marinha – e com a Emgepron, empresa pública especializada em projetos navais.
“Este foi um mecanismo que encontramos para que a ICN pudesse receber um pessoal brasileiro já qualificado e não ficasse dependente do suporte da DCNS, a sua acionista majoritária”, expõe o Engenheiro Nilson, que participou da equipe formada pela Marinha para discutir as bases dos contratos do Prosub. “A inclusão de barreiras impeditivas de contratação deste pessoal qualificado na França, especialmente por empresas prestadoras de serviços à Marinha no Prosub, foi alternativa adotada nos contratos, visando assegurar a retenção e a manutenção do conhecimento no âmbito do programa. Se aposentadas, estas pessoas puderam ser contratadas, e muitas o foram por empresas envolvidas no Prosub, permanecendo assim, no projeto. Em todos estes casos, não tivemos qualquer perda de conhecimento ou de treinamento.”
Na Marinha, parte das pessoas treinadas na França foi designada para atuar na COGESN – Coordenadoria Geral do Programa de Desenvolvimento de Submarinos com Propulsão Nuclear, na esfera do acompanhamento da construção dos submarinos convencionais.
Atualmente, essa equipe compõe uma estrutura organizacional dividida em três gerências – de construção, de qualidade e a fiscal -, as quais desenvolvem junto à ICN e à Nuclep, um trabalho pró-ativo de supervisão, de orientação e eventual correção dos serviços, visando assegurar a execução dos submarinos convencionais no mesmo padrão de qualidade e de rastreabilidade exigido para o submarino com propulsão nuclear.
Segundo o Engenheiro Nilson, Fiscal do Contrato, a atribuição da gerência de construção é acompanhar e verificar a aplicação da boa técnica e dos processos que foram desenvolvidos e absorvidos na França; a gerência de qualidade realiza um trabalho de garantia da qualidade e acompanha toda a documentação gerada ao longo do processo; e a fiscalização, por sua vez, realiza a gestão contratual e acompanha a execução de toda a obra com um foco direcionado para o controle do planejamento, ou seja, o desenvolvimento presente do Prosub com um olhar no futuro para que todas as partes envolvidas no processo fabril estejam efetivamente integradas para a garantia dos resultados esperados.
“O trabalho realizado por estes três grupos de trabalho nos dá subsídios para uma permanente análise da evolução construtiva dos submarinos, com o estudo e a introdução de novas alternativas e soluções ao longo do processo para que nós, a Marinha, e todos os envolvidos, estejamos aptos para, no futuro, iniciar e terminar a construção do submarino brasileiro com propulsão nuclear”, observa Engenheiro Nilson, apontando alguns desafios e soluções. Duas linhas de fabricação do casco resistente foram criadas, uma operada pela Nuclep e outra pela ICN, a fim de minimizar os impactos dos ajustes necessários à adaptação do projeto francês para a realidade brasileira, pertinentes especialmente à cultura, à legislação e as alterações já implementadas.
Em um programa extenso e complexo como o Prosub, as dificuldades previsíveis e imprevisíveis são inevitáveis. “Aprendemos no erro, na dificuldade. E, quando este aprendizado ocorre logo no início do processo, nossa experiência se expande, tornando-se mais valiosa para o nosso objetivo”, avalia Engenheiro Nilson.
“A Marinha está dando um grande salto tecnológico, hoje difícil de ser percebido porque não é somente o salto de construção de um submarino convencional para um nuclear, mas sim, um ciclo muito maior e complexo que é o de projetar e construir um submarino com propulsão nuclear, 100% projeto brasileiro.”
FONTE: Technonews