“Vamos unir a Embraer e a Bombardier”


Governador-geral do Canadá oferece à presidente brasileira a abertura de 12 mil vagas para bolsistas do Ciência sem Fronteiras

Um dos principais destinos de estudos no exterior dos brasileiros, o Canadá espera ganhar também posição de destaque no programa federal Ciência sem Fronteiras, que oferece bolsas de graduação e pós-graduação com ênfase em ciências exatas, engenharia, medicina e ciências da computação. Para o governador-geral do país, David Johnston, que dedicou 54 dos seus 70 anos à carreira acadêmica, sofisticar as relações bilaterais de ensino também favorecerá parcerias tecnológicas e comerciais. Entre os alvos está a exploração do pré-sal e até uma inusitada cooperação das rivais da indústria Aeronáutica Embraer e Bombardier. “Não há nada melhor do que o conhecimento para agregar valor à produção nacional”, disse o representante da chefe de Estado do Canadá, a rainha britânica Elizabeth II, em viagem oficial a Brasília. Ele promete agilizar a expedição de vistos para estudantes e ontem ofereceu à presidente Dilma Rousseff a abertura de 12 mil vagas para o programa que visa incentivar a inovação industrial. A seguir, os principais trechos da entrevista exclusiva ao Correio.
Como o Canadá pode colaborar com o esforço do governo brasileiro para capacitar mão de obra e estimular a inovação?
De várias formas. Os dois países têm uma oportunidade histórica para melhorar as suas relações nos campos da educação e do desenvolvimento tecnológico. Concordamos com a avaliação do governo brasileiro de que não há nada melhor do que o conhecimento para agregar valor à produção nacional. Nesse sentido, acreditamos que as instituições de ensino e pesquisa do Canadá podem ser uma das principais aliadas do Ciência sem Fronteiras, dentro da meta de enviar, em quatro anos, 100 mil bolsistas ao exterior. Além de receber bem os beneficiados pelo programa federal, oferecemos a vantagem de laboratórios especializados em áreas complementares como agricultura, energia, indústria aeroespacial, telefonia móvel e gestão de recursos hídricos. Nesse ambiente, as fabricantes de aviões Embraer e Bombardier podem firmar acordos de cooperação para desenvolver produtos e terceiros mercados. O embaixador do Canadá no Brasil e o presidente da Embraer, inclusive, têm tido reuniões periódicas, a cada seis meses, para evitar conflitos comerciais como houve no passado.
Com um comércio global cada vez mais agressivo, quais são os espaços de cooperação?
Nossos países têm muitas características comuns — vastos territórios com paisagens naturais preservadas e um excepcional multiculturalismo — que servem de pontes para a cooperação comercial e, sobretudo, para o intercâmbio de ideias. Temos orgulho de nossos recursos humanos e tecnológicos, que podem ser úteis ao projeto brasileiro de prover a indústria de inovação e competitividade. Também conhecemos bem o desafio de explorar com responsabilidade uma expressiva e variada riqueza mineral. As áreas de interesse bilateral são óbvias e a conquista da tecnologia é o desafio para dar novos rumos à agenda de cooperação.
O esforço do Brasil para retirar petróleo do pré-sal pode ser uma dessas “áreas óbvias” de parceria?
A extração de petróleo e gás nos campos do pré-sal brasileiro é um bom exemplo de muitas oportunidades de entendimento, tendo como alvo a capacitação tecnológica. Temos centros especializados em grandes operações no fundo do mar, que exigem soluções cada vez mais sofisticadas e seguras. Esta, aliás, é uma nova fronteira econômica e tecnológica para toda a civilização humana, aberta após 10 mil anos lidando com os oceanos. Acredito que, no futuro próximo, técnicos brasileiros e canadenses da área petrolífera poderão trabalhar juntos em missões dentro e fora de seus países. Acreditamos também no crescimento da qualidade e quantidade das relações comerciais bilaterais.
Estudantes têm reclamado da demora de semanas para obter vistos para viajar ao Canadá.
Ouvi relatos nesse sentido e reconheço que a expedição de vistos para estudantes brasileiros pode ser aperfeiçoada para garantir agilidade. Estamos trabalhando nesse sentido, dentro dos limites do regime estabelecido pelo ministério canadense de cidadania e imigração. Em paralelo, fazemos uma aposta nas relações acadêmicas de mais longo prazo, o que facilitará cada vez mais o trânsito de brasileiros e canadenses. Mesmo já tendo o reconhecimento de que o Canadá oferece educação de qualidade com preços competitivos, queremos que o perfil médio de permanência dos estudantes brasileiros no país seja ampliado. A maioria dos atuais 20 mil está matriculada em cursos de idiomas (inglês e francês) e fica só até seis meses. O diferencial que propomos para uma nova fase é o da igualdade de oportunidades, sim, mas com excelência ao mesmo tempo. Em décadas passadas, nosso país percebeu grande demanda por educadores para níveis superiores e renovou seu quadro docente enviando estudantes a grandes universidades britânicas e francesas. Acreditamos que dezenas de milhares de brasileiros podem participar de projeto semelhante, trazendo para seu país conhecimento e ideias do exterior.
Fonte: Correio Braziliense

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