Desde o alvorecer de sua independência, o Brasil defendeu seus contornos geográficos e consolidou o sentimento de nacionalidade, combatendo em terra, no mar ou nos rios, pela sua soberania. Pelas águas, foram escritos importantes capítulos dessa história, como a Batalha Naval do Riachuelo, episódio que concorreu, decisivamente, para nossa vitória na Guerra da Tríplice Aliança.
A conjuntura política que antecedia o confronto foi marcada, ao longo do século XIX, por continuadas disputas pela Região do Prata, culminando, em 1864, na invasão das Províncias do Mato Grosso e do Rio Grande do Sul. Em resposta, Argentina, Brasil e Uruguai assinaram, em 1865, o Tratado da Tríplice Aliança.
No comando da Força Naval, estava o Almirante Joaquim Marques Lisboa, o Visconde de Tamandaré, incumbido de apoiar as tropas aliadas e efetuar o bloqueio dos Rios Paraguai e Paraná, a fim de impedir o recebimento de armamentos e suprimentos. Nessa época, a Esquadra Imperial, vitoriosa nas campanhas de consolidação da Independência, possuía navios próprios para o alto-mar, de grande calado, o que impunha maiores habilidades para a navegação fluvial.
Ainda assim, mesmo diante das dificuldades na navegação, a Segunda e a Terceira Divisões Navais da Esquadra, capitaneadas pelo Almirante Francisco Manoel Barroso da Silva, operavam no Rio Paraná. Os navios estavam fundeados nas proximidades da foz do Riachuelo, em 11 de junho de 1865. No amanhecer desse dia, os vigias avistaram, por montante, oito embarcações inimigas em formação de ataque, com seis chatas a reboque, apoiadas por canhões e soldados posicionados, de forma camuflada, nas barrancas próximas.
As águas daquela localidade viriam a ser marcadas pela bravura de nossos compatriotas, que ofereceram suas vidas em sacrifício à Pátria. No início do combate, evocando todos para a árdua batalha que os esperava, o Almirante Barroso fez içar, no mastro da Fragata “Amazonas”, o sinal: “O Brasil espera que cada um cumpra o seu dever”!
Nos primeiros momentos do embate, sofremos fortes reveses. Nos conveses da Corveta “Parnaíba”, tombaram dois de nossos maiores heróis: o Guarda-Marinha Greenhalgh, que lutou na defesa do Pavilhão Nacional; e o Imperial Marinheiro Marcílio Dias, que, após aguerrido combate, veio a falecer. Em uma manobra audaciosa, o Almirante Barroso alterou o rumo da batalha. Tendo a seu favor o porte da “Amazonas”, usou a proa, abalroando os navios oponentes, que não resistiram às avarias e soçobraram. “Sustentar o fogo, que a vitória é nossa”!
Com este sinal içado no mastro, a nossa Força Naval fortaleceu, ainda mais, os ânimos, criando um ponto de inflexão no combate. Diante daquele novo quadro, totalmente favorável aos aliados, restou às forças inimigas bater em retirada.
A vitória na Batalha Naval do Riachuelo garantiu a interrupção das vias fluviais, comprometeu o fluxo logístico do oponente, sendo uma conquista cabal para o fim do conflito. Presente na imensidão azul de nossos mares e nas águas interiores, a Invicta Marinha de Tamandaré continua contribuindo para defender os interesses do País. Na atualidade, assentados em outra realidade histórica, defrontamos importantes desafios, para os quais é necessário estarmos capacitados. As significativas limitações materiais que se evidenciaram no início da Guerra da Tríplice Aliança e, mais especificamente em Riachuelo, voltariam a ocorrer nas guerras mundiais das quais participamos, limitando nossa capacidade de resposta e exigindo extraordinária capacidade de superação e improviso, algo que o exponencial avanço tecnológico dos novos tempos torna cada vez mais difícil.
Assim, a Marinha do Brasil avança com seus Programas Estratégicos para adequar a Força Naval às ameaças existentes e à posição político-estratégica ocupada pelo Brasil, contribuindo para desenvolvimento tecnológico e a geração de empregos no nosso País.
Dentre os programas, a Capacitação Profissional ocupa lugar de destaque, pois tão adequada quanto a renovação dos meios é a capacidade do pleno emprego e manutenção daqueles disponíveis; e, sobretudo, a nossa independência tecnológica. A Marinha também segue com o Programa de Construção do Núcleo do Poder Naval, com destaque ao Desenvolvimento de Submarinos e das Fragatas Tamandaré; o Programa de Obtenção da Capacidade Operacional plena, incluindo, dentre outros, o PROADSUMUS; o Programa de Ampliação da Capacidade de Apoio Logístico; o Desenvolvimento da Mentalidade Marítima, destacando a integração de setores e atividades que fomentam a Economia Azul e o Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul, SisGAAz, que beneficiará toda comunidade marítima. Cabe ressaltar que, ombreada com a capacitação da Força Naval, estão o desenvolvimento tecnológico e a geração de empregos no nosso País.
Com orgulho de seu passado e com ações que a preparam para o futuro, a Marinha do Brasil permanece atenta ao presente, contribuindo no combate contra o Coronavírus, uma nova luta, que acarreta graves efeitos nas esferas sanitárias, sociais e econômicas. Desde o início, com serenidade e firmeza, a Marinha atua, em coordenação com o Ministério da Defesa e demais Forças Armadas, em consonância com autoridades federais, estaduais e municipais, com amplitude de ações que contemplam o desenvolvimento nacional, apoio à saúde, desinfecção de áreas públicas, doação de alimentos, de sangue, transporte logístico, confecção de refeições, dentre outros, que contribuem com o esforço nacional, em especial com o Sistema de Saúde e seus valorosos e incansáveis profissionais.
Cabe ainda destacar e agradecer o trabalho da Comunidade Marítima, que possibilitou a manutenção dos serviços nos portos em plena pandemia, inclusive com recordes no embarque de cargas, mantendo o fluxo das nossas importações e exportações e, em especial, com reflexos positivos para o agronegócio brasileiro, que mantém projeções de crescimento para 2020.
Tormentas sempre passam. Seguiremos navegando com proa firme. Vamos sustentar o fogo, pois a vitória será nossa, de todos os brasileiros. Com grata satisfação, apresento, também, aos agraciados com a Ordem do Mérito Naval, meus cumprimentos pelo trabalho dedicado em prol da Marinha do Brasil. Marinheiros, Fuzileiros Navais e Servidores Civis, a herança daquele 11 de junho sempre fortalece a valorização da Rosa das Virtudes e a constante busca do bem comum. Reafirmamos, portanto, o compromisso com a defesa da soberania e dos princípios constitucionais, destacando a importância de estarmos prontos e presentes onde e quando a Nação nos chamar.
Essa é a herança que tanto custou aos nossos antecessores e que nos permitirá superar quaisquer intempéries e manter o rumo seguro em nossa permanente contribuição ao País!
A todo Pano!
Viva a Marinha!
Ontem, hoje e sempre, Tudo pela Pátria!
ILQUES BARBOSA JUNIOR
Almirante de Esquadra Comandante da Marinha